Brasil

Discurso de Moraes, acusação da PGR e defesas: o que aconteceu no 1° dia de julgamento de Bolsonaro

Entre os advogados de defesa, a estratégia consensual foi de negar as acusações de tentativa de golpe e criticar o relatório da denúncia da PGR

 (Luiz Silveira/STF/Flickr)

(Luiz Silveira/STF/Flickr)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 18h16.

Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 19h14.

O primeiro dia do julgamento da denúncia do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado em 2022 foi marcado pela leitura do relatório do ministro relator Alexandre de Moraes, as argumentações da acusação e a sustentação dos advogados de defesas de quatro acusados.

Moraes iniciou com um longo discurso sobre a acusação de golpe, seguido pela sustentação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que apresentou as provas e ações que caracterizaram em seu relatório a composição da trama golpista.

Entre os advogados de defesa, a estratégia foi unânime: negar as acusações de tentativa de golpe e criticar o relatório da denúncia da PGR.

No segundo dia de sessão, as defesas devem concluir suas sustentações orais, começando pelo advogado de Augusto Heleno, seguido pelos defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Veja os principais pontos do primeiro dia do julgamento:

Moraes diz que impunidade e omissão não são opções para pacificação

Em sua primeira intervenção no julgamento, Moraes fez um discurso com recados contra a suposta tentativa de golpe de estado e obstrução do julgamento, em que falou sobre pacificação, coação e impunidade. 

Segundo o magistrado, a "impunidade, omissão e covardia não são opções para a pacificação" do país, em referência a proposta de anistia aos acusados em discussão no Congresso Nacional por aliados de Bolsonaro. 

O ministro rebateu críticas, como a de que a ação contra Bolsonaro e aliados tenha tramitado de forma mais célere que outros processos. Moraes afirmou que a ação seguiu o mesmo ritmo das outras 1.630 ações abertas referentes à tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro de 2023.

Ministro Alexandre de Moraes (Antonio Augusto/STF/Flickr)

O relator da ação citou indiretamente as sanções impostas pelo presidente americano Donald Trump contra o Tribunal e a economia brasileira e acusou o grupo de denunciados de agir de forma "covarde" e "traiçoeira" para tentar obstruir o julgamento.

"O Supremo Tribunal Federal sempre será absolutamente inflexível na defesa da soberania nacional e seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito e os princípios constitucionais brasileiros", afirmou.

Após o discurso inicial, Moraes leu o relatório com o resumo de todas as etapas percorridas no processo, desde as investigações até a apresentação das alegações finais, última fase antes do julgamento.

Gonet lista provas e diz que não é preciso uma "ordem assinada pelo presidente"

Ao defender a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos outros sete réus, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que não é preciso uma "ordem assinada pelo presidente" para caracterizar a tentativa de golpe de Estado.

O PGR argumentou que a tentativa de golpe se revela na prática de atos e de ações "dedicadas ao propósito da ruptura das regras constitucionais sobre o exercício do poder, um apelo ao emprego da força bruta, real ou ameaçada".

Gonet disse ainda que é preciso que todo o processo não pode ser analisado como "uma narrativa de fatos isolados". Ele reforçou que todas as ações da suposta organização criminosa revelam uma "composição geral dos eventos" que buscavam a "quebra da normalidade democrática". 

Procurador-geral da República, Paulo Gonet (Antonio Augusto/STF/Flickr)

O procurador afirmou que a trama não pode ser tratada como uma situação de pouca importância ou como "devaneios utópicos anódinos". Gonet disse ainda que a acusação não se sustenta com "suposições frágeis", mas em documentos produzidos pelos próprios integrantes da suposta organização criminosa.

O PGR afirmou ainda que não punir a tentativa de golpe "recrudesce ímpetos de autoritarismo" e compromete a "vida civilizada".

Gonet mencionou como provas os discursos de Bolsonaro, a minuta que decretava medidas de exceção, os ataques coordenados às urnas eletrônicas, o plano para assassinar Moraes, o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin, as ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) durante o segundo turno e os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. 

Advogados de Cid defendem validade de delação e diz que ex-ajudante de ordens não articulou golpe

A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, argumentou que seu cliente "jamais articulou um golpe de Estado" e que o acordo de delação premiada deve ser mantido.

Os advogados Jair Ferreira e Cezar Bittencourt negaram que Cid tenha sido coagido para fazer o acordo.

Advogado Mauro Cid

Advogado Jair Ferreira ( Luiz Silveira/STF/Flickr)

A declaração contrasta com as afirmações das defesas do ex-presidente Jair Bolsonaro e do general Braga Netto, que indicam que a delação de Cid revela, entre outros pontos, a coação.

Ao pleitear a absolvição de Cid, Cezar Bittencourt afirmou que seu cliente apenas seguia ordens e jamais elaborou, compartilhou ou incitou qualquer conteúdo de natureza golpista. Segundo Bittencourt, as especulações sobre a atuação de Cid não são provas "nem aqui e nem na China".

Advogado nega que Ramagem orientou Bolsonaro

O advogado do deputado federal Alexandre Ramagem defendeu que a acusação contra ele por organização criminosa também seja suspensa. A defesa negou ainda que o parlamentar tenha orientado o ex-presidente Jair Bolsonaro em qualquer ofensiva antidemocrática.

O advogado Paulo Cintra afirmou ainda que a Procuradoria-Geral da República (PGR) cometeu "erros graves" na denúncia e reiterou que Ramagem, que chefiou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em parte do governo Bolsonaro, já tinha deixado o governo federal na época em que a acusação narra que houve o "acirramento das intenções" golpistas.

Advogado Paulo Renato Garcia Cintra (Gustavo Moreno/STF/Flickr)

Defesa de Almir Garnier pede rescisão da delação premiada de Cid e nega reunião golpista

O advogado Demóstenes Torres, responsável pela defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, reforçou o pedido de rescisão da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Ele também fez críticas à acusação apresentada pela PGR.

Em delação, Cid afirmou que Garnier era da "ala radical" do entorno de Bolsonaro e que o almirante era favorável a uma intervenção militar.

Advogado Demóstenes Torres (Gustavo Moreno/STF/Flickr/Divulgação)

Demóstenes afirmou que a reunião em que Garnier teria, segundo a acusação, colocado as tropas à disposição de Bolsonaro não aconteceu no dia 7 de dezembro de 2022, como foi apontado pela PGR na denúncia.

Defesa de Torres diz que minuta jamais foi discutida

A defesa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres afirmou que não há provas que vinculem Torres à acusação de tentativa de golpe e afirmou que a suposta "minuta do golpe" jamais foi debatida.

Segundo o advogado Eumar Novacki, o seu cliente não conspirou ou relaxou o esquema de segurança no Distrito Federal quando o réu era secretário. O defensor contesta ainda a sugestão da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que a viagem aos Estados Unidos não estava marcada com antecedência.

Novacki disse ainda que a participação de Torres em uma live de 2020 com Jair Bolsonaro foi restrita à leitura de trechos oficiais elaborados por sua equipe técnica.

O que acontece no 2º dia do julgamento?

O julgamento foi suspenso após a sustentação doo advogado do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. É esperado que nesta quarta-feira, 3, que o julgamento retome com as alegações das defesas de:

  • Augusto Heleno - ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
  • Jair Bolsonaro – ex-presidente da República;
  • Paulo Sérgio Nogueira - ex-ministro da Defesa;
  • Walter Braga Netto - ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa de 2022;
Acompanhe tudo sobre:Supremo Tribunal Federal (STF)Jair Bolsonaro

Mais de Brasil

Tragédia em Pernambuco expõe série de acidentes fatais com ônibus nas rodovias brasileiras em 2025

De olho em 2026, Lula retorna ao seu berço político e acena às mulheres

STF forma maioria contra decisão de Barroso sobre aborto legal com participação de enfermeiros

Lula comemora abertura de escritório da Embrar na Índia em meio a aproximação com Modi