Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 12h44.
Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 13h10.
A operação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que prendeu o dono e fundador da Ultrafarma, Sidney Oliveira, o executivo da Fast Shop Mario Otávio Gomes e um auditor fiscal da Fazenda de São Paulo apontou que os empresários pagaram valores bilionários para obter a quitação de créditos tributários estaduais.
O MP informou que as investigações indicam que empresas do setor varejista pagaram "centenas de milhões de reais" a auditores da Fazenda para facilitar o ressarcimento de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
O auditor fiscal preso é considerado o "cérebro" do suposto esquema de corrupção. Outro agente da Fazenda, alvo de busca e apreensão, também é apontado como suspeito.
Ao todo, foram expedidos três mandados de prisão temporária, 19 pedidos de busca e apreensão e o sequestro de bens dos investigados. O esquema teria começado em maio de 2021 e arrecadado mais de R$ 1 bilhão em propinas.
O MP acredita que outras "grandes empresas" podem estar envolvidas no esquema. As defesas foram procuradas e não comentaram até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.
De acordo com a investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (GEDEC), a organização criminosa oferecia vantagens a empresas do setor de varejo em troca de pagamentos ilícitos.
Os investigadores afirmam que o fiscal estadual manipulava processos administrativos para facilitar a quitação de créditos tributários das empresas. Em troca, recebia pagamentos mensais de propina por meio de uma empresa registrada em nome de sua mãe.
A operação é resultado de meses de trabalho investigativo, que incluiu análise de documentos, quebras de sigilo e interceptações autorizadas pela Justiça.
O MP afirma que o esquema começou no primeiro semestre de 2021. No entanto, as investigações continuam em andamento para apurar se o esquema começou antes desse período.
Em coletiva de imprensa, o promotor do MP, João Ricupero, explicou que a evolução patrimonial da empresa da mãe do fiscal preso, a Smart Tax, levantou suspeitas do GEDEC.
"Até o meio de 2021, essa empresa não tinha atividade operacional, não tinha clientes, absolutamente nada. No segundo semestre de 2021, passa a receber da Fast Shop", afirmou Ricupero.
Segundo os investigadores, a empresa da mãe do fiscal recebeu "dezena de milhões de reais" em 2021 e mais de R$ 600 milhões em 2022 da Fast Shop. Ricupero também informou que, apenas da Fast Shop, o auditor recebeu mais de R$ 1 bilhão no período.
Os promotores afirmaram que ainda não foi possível calcular o prejuízo aos cofres públicos, mas que a quantificação será feita em conjunto com a Secretaria da Fazenda.
Segundo o MP, os suspeitos podem ser acusados de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Os promotores indicaram que há suspeitas de que outras "grandes empresas do setor varejista" possam também ter se beneficiado do esquema para obter liberação de créditos tributários.
Embora o MP não tenha detalhado o número ou as empresas investigadas, afirmou que as investigações continuam para apurar se há outros auditores envolvidos e outras empresas no esquema.
"O desafio é verificar se há outros auditores envolvidos na prática de corrupção", afirmou o promotor Roberto Bodini.