Moradores de Tamra em luto por parentes mortos após ataques do Irã (MAYA LEVIN / AFP)
Agência de notícias
Publicado em 18 de junho de 2025 às 10h40.
Última atualização em 18 de junho de 2025 às 10h44.
Centenas de moradores em prantos lotaram as ruas estreitas da cidade árabe-israelense de Tamra, no norte de Israel, na terça-feira para ver caixões de madeira adornados com coroas de flores coloridas sendo levados para o cemitério local.
Tudo aconteceu após um míssil iraniano atingir um prédio residencial na cidade no sábado, matando quatro civis, segundo o serviço de emergência Magen David Adom. Para alguns, o ataque iraniano destacou as desigualdades nas proteções oferecidas à minoria árabe de Israel, enquanto para outros, apenas ressaltou a cruel indiferença da guerra.
Raja Khatib teve que reconstruir o que restou de um ataque que matou sua esposa, duas de suas filhas e uma cunhada.
"Gostaria que o míssil tivesse me atingido também. E eu estaria com eles, e não estaria mais sofrendo", disse Khatib à AFP.
Após cinco dias de combates, ao menos 24 pessoas morreram em Israel e centenas ficaram feridas sob intensos bombardeios lançados pelo Irã. Embora os avançados sistemas de defesa aérea israelenses tenham interceptado a maioria dos mísseis e drones, alguns conseguiram atingir seus alvos.
Com dimensões comparáveis às de um vagão de trem e cargas explosivas de centenas de quilos, os mísseis balísticos iranianos têm alto poder destrutivo. Um único impacto pode devastar quarteirões inteiros, abrir crateras em edifícios residenciais e espalhar danos pela onda de choque.
Além de Tamra, mísseis atingiram áreas civis em Tel Aviv, Bnei Brak, Petah Tikva e Haifa. No Irã, ataques aéreos israelenses de longo alcance mataram pelo menos 224 pessoas, incluindo comandantes militares, cientistas nucleares e civis.
Apesar dos crescentes apelos para diminuir a tensão, nenhum dos lados recuou dos combates até o momento.
Enquanto os caixões passavam por Tamra na terça-feira, um grupo de mulheres cuidou de uma parente das vítimas que estava desmaiada de tristeza, enxugando suas bochechas e testa com água fria. No cemitério, homens se abraçavam e meninas choravam aos pés das covas recém-cavadas.
O Irã continua disparando salvas diárias desde que Israel lançou uma campanha aérea surpresa que, justifica, tem como objetivo impedir que a República islâmica adquira armas nucleares — uma ambição que Teerã nega.
Em Israel, alertas frequentes de ataques aéreos mantiveram os moradores perto de abrigos antiaéreos, enquanto ruas por todo o país ficaram praticamente vazias e lojas fechadas. Mas alguns membros da minoria árabe do país disseram que o governo fez muito pouco para protegê-los, apontando para o acesso desigual aos abrigos públicos usados para resistir aos bombardeios.
"O Estado, infelizmente, ainda distingue entre sangue e sangue", escreveu Ayman Odeh, um parlamentar israelense de ascendência palestina, nas redes sociais após visitar Tamra no início desta semana.
"Tamra não é uma vila. É uma cidade sem abrigos públicos", acrescentou, dizendo que esse era o caso de 60% das "autoridades locais" — o termo israelense para comunidades não registradas oficialmente como cidades, muitas das quais são majoritariamente árabes.
Mas para moradores como Khatib, o dano já foi feito.
"Para que servem essas guerras? Vamos fazer a paz, pelo bem dos dois povos", disse ele. "Sou muçulmano. Este míssil matou muçulmanos. Ele diferenciava judeus de muçulmanos? Não, quando atinge, não distingue pessoas".
Segundo o prefeito da cidade, Musa Abu Rumi, apenas 40% dos moradores de Tamra têm acesso a abrigos seguros. Não há bunkers públicos, ao contrário do que ocorre em cidades israelenses, destacou à CNN.
O prefeito afirmou ainda que “o governo nunca financiou abrigos na cidade porque eles têm outras prioridades”.
Segundo a lei israelense, a proteção antiaérea é exigida em construções desde os anos 1990, mas essa infraestrutura não foi aplicada em muitas cidades árabes. “A urgência em fornecer tal resposta ganha validade secundária à luz do fato de que a principal disparidade no campo da defesa no distrito norte está dentro das cidades árabes”, disse em nota a Associação pelos Direitos Civis em Israel.
A maior parte da minoria árabe de Israel se identifica como palestinos que permaneceram no que hoje é Israel após sua criação em 1948. Eles representam cerca de 20% da população do país. A comunidade frequentemente afirma enfrentar discriminação da maioria judaica de Israel.