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Gramado congela alvarás para proteger economia, diz prefeito ante explosão de plataformas de aluguel

Objetivo de moratória de seis meses para conceder novas licenças é frear o crescimento desordenado e a queda registrada na ocupação hoteleira

Gramado: principal destino do turismo de inverno do Brasil (Leandro Fonseca /Exame)

Gramado: principal destino do turismo de inverno do Brasil (Leandro Fonseca /Exame)

Rafael Martini
Rafael Martini

Editor da Região Sul

Publicado em 20 de julho de 2025 às 08h28.

Última atualização em 20 de julho de 2025 às 18h01.

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A Prefeitura de Gramado, na Serra Gaúcha, decretou moratória de seis meses para a concessão de novas licenças para obras e empreendimentos no município. A emissão de alvarás, com o perdão do trocadilho, está congelada na cidade referência para a indústria do turismo, em especial no Inverno.

A medida, que foi publicada no dia 30 de junho, é válida até o final de dezembro e impacta diretamente os setores de hospedagem (hotéis e plataformas de aluguel), bares e restaurantes. O prefeito, Nestor Tissot, conversou com a EXAME e detalhou os motivos da decisão, que dividiu opiniões entre representantes da comunidade e empresários.

EXAME lança unidade no Sul e reforça o foco no empreendedorismo regional

O turismo representa 90% da receita do município que realiza, anualmente, o tradicional Festival de Cinema de Gramado e o espetáculo Natal Luz, entre os principais eventos no calendário, além dos famosos chocolates artesanais e a fartura dos cafés coloniais, que atraem visitantes do Brasil e do exterior o ano todo. Atualmente, são 300 hotéis que oferecem 24 mil leitos. E para os próximos cinco anos já estão autorizados novos empreendimentos que irão ofertar mais 12 mil leitos, totalizando 36 mil vagas para hóspedes no município com 44 mil habitantes.

O problema, conforme o prefeito, é que desde o final da pandemia a ocupação da rede hoteleira, na média anual, tem se mantido na faixa dos 60%, quase 30% abaixo dos índices anteriores a 2020.

A previsão de arrecadação, conforme Tissot, é de aproximadamente R$ 500 milhões para 2025, uma queda de R$ 20 milhões em relação ao resultado de 2023. “O ano de 2024 não podemos incluir como comparativo por conta das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul”, explica.

Além da queda na ocupação da rede hoteleira, com a consequente retração nas contas da prefeitura, outro ponto de alerta foi a explosão imobiliária de empreendimentos residenciais destinados exclusivamente às plataformas de aluguel. Prédios com projetos arquitetônicos desconectados da estética ao estilo Bávaro e Enxaimel, inspirada nas vilas dos alpes europeus, que é uma das marcas de Gramado.

Diante do iminente risco de crescimento desordenado e ameaça à perda da identidade visual, chegou-se à conclusão de que o melhor seria fazer uma “parada técnica”. A ideia é aproveitar este período para discutir junto com a comunidade sobre o futuro do município, como, por exemplo, reavaliar as diretrizes do Plano Diretor, além do impacto na rede de saneamento básico e de abastecimento de água.

“Nós identificamos que, neste ritmo, estaríamos prejudicando exatamente as empresas aqui instaladas e, por consequência, toda a base da economia da nossa cidade, que recebe até 300 mil turistas por dia na alta temporada de inverno e cerca de oito milhões de visitantes por ano”, afirma o prefeito.

Temporada de Inverno de Gramado: perspectiva otimista

Paralelamente à adoção da moratória para novos alvarás, Gramado está otimista com a temporada de Inverno deste ano. Entre junho e agosto são esperados cerca de dois milhões de visitantes. Somente em junho foram 800 mil pessoas. O frio, com temperaturas que chegam até abaixo de zero, é o convite perfeito para a lareira, fondue, chocolate e vinho, combo que está gravado no imaginário dos milhares de turistas que se hospedam na cidade.

Um levantamento nacional da plataforma Omnibees, uma das principais ferramentas de inteligência comercial e distribuição hoteleira da América Latina, confirma o desempenho positivo da hotelaria em Gramado.

No primeiro semestre de 2025, o município apresentou resultados expressivos em indicadores-chave da hotelaria, superando as médias nacionais em diversos aspectos e reforçando os dados já divulgados pelo Observatório do Turismo de Gramado. No comparativo com o mesmo período de 2024, a cidade teve um crescimento de 29,2% no número de diárias ocupadas, quase o triplo da média nacional, que foi de 11,1%.

O desempenho coloca o município entre os principais destaques do Sul do Brasil, sinalizando forte retomada da demanda turística após os eventos climáticos.
Outro ponto de destaque é a antecedência média de compra, que atingiu 67 dias em 2025, o maior valor registrado pela série histórica dos últimos sete anos.

O dado também coloca o município acima da média nacional, que foi de 39 dias no mesmo período. Esse comportamento indica um maior planejamento por parte dos visitantes, o que contribui para a previsibilidade da demanda, a organização da oferta turística e o fortalecimento da gestão pública do destino.

A estada média na hotelaria formal também apresentou avanço, passando de 2,8 para 3,2 dias em 2025. “Mais do que números, os resultados da hotelaria mostram a capacidade de superação de um destino que atravessou recentemente uma de suas crises mais profundas. Gramado demonstra que, com trabalho conjunto e visão de futuro, é possível transformar adversidade em fortalecimento”, observa o secretário de Turismo, Ricardo Bertolucci Reginato.

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