Haddad: afirmou que o cenário internacional favorece a conclusão das negociações ainda este ano
Agência de notícias
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 16h05.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se mostrou otimista nesta quarta-feira em relação ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Após a Comissão Europeia validar o texto final do tratado e anunciar salvaguardas para o setor agrícola europeu, Haddad afirmou que o cenário internacional favorece a conclusão das negociações ainda este ano.
— Estou muito confiante. Sobretudo à luz do que está acontecendo no mundo. A União Europeia tem todas as razões para firmar o acordo com o Mercosul e o Mercosul com a União Europeia. Seria uma boa notícia para o mundo que a América do Sul e a Europa se unissem em torno de um projeto comum — declarou o ministro.
Segundo Haddad, as tensões comerciais desencadeadas pela política protecionista dos Estados Unidos tornaram ainda mais estratégico o fortalecimento de parcerias comerciais em outras regiões. Ele avaliou que o tratado pode servir não apenas como um vetor de desenvolvimento econômico, mas também como um passo relevante em termos de cooperação política e geopolítica.
— Eu vejo com muito bons olhos e acredito que a Europa vai caminhar nessa direção — reforçou.
Já o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que a apresentação do texto do acordo ao Conselho Europeu é um passo decisivo na integração entre as duas regiões. O tratado, disse Alckmin, deve se refletir em mais comércio, investimentos e empregos.
— Esse é um sinal claro para o mundo. Juntas, nossas economias serão mais fortes — ressaltou.
O texto aprovado pela Comissão Europeia será agora submetido ao Parlamente Europeu e aos governos nacionais dos 27 Estados-membros. A estratégia de fatiar o acordo em duas frentes — uma comercial e outra política — deve acelerar o processo. A parte comercial depende apenas de maioria simples no Parlamento Europeu para entrar em vigor, enquanto a parte política precisará passar por todos os parlamentos nacionais.
Do lado do Mercosul, a expectativa do governo brasileiro é que o acordo seja assinado em dezembro, em Brasília, durante a cúpula presidencial do bloco, período em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa a presidência rotativa. Segundo integrantes da equipe econômica, há maioria qualificada no Conselho Europeu — 15 países representando 65% da população — favorável ao pacto.
O tratado prevê a criação de um mercado integrado de 780 milhões de consumidores, com um PIB combinado de US$ 22,3 trilhões. Para a União Europeia, os principais ganhos virão da eliminação de tarifas sobre automóveis, máquinas, produtos químicos e têxteis, com estimativa de economia de mais de € 4 bilhões por ano.
Para o Mercosul, os benefícios se concentram na agricultura e na indústria agroalimentar. Estudo do Ipea aponta que as exportações brasileiras para a União Europeia poderiam crescer em até US$ 7,1 bilhões entre 2024 e 2040. O governo brasileiro também enxerga o acordo como oportunidade para ampliar a inserção internacional das empresas nacionais e diversificar mercados, em um momento de incertezas no comércio global.
Apesar do avanço, persistem resistências dentro da Europa, sobretudo de setores agrícolas da França e da Itália, que temem o aumento da concorrência com os produtores sul-americanos. Para contornar essas críticas, o texto validado pela Comissão Europeia prevê salvaguardas automáticas caso as importações de determinados produtos do Mercosul causem distorções de mercado, como aumento de 10% no volume ou queda de 10% nos preços.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comemorou o avanço e classificou o tratado como “benéfico para todas as partes, com vantagens significativas para consumidores e empresas”.