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Indígenas bloqueiam importante rota amazônica e exigem ajuda contra covid

Até o momento, 618 indígenas morreram e 21 mil foram infectados pelo novo coronavírus no país

Indígenas: membro da tribo Kayapó caminha pelo centro de uma rota bloqueada nas proximidades de Novo Progresso, no estado do Pará (AFP/AFP)

Indígenas: membro da tribo Kayapó caminha pelo centro de uma rota bloqueada nas proximidades de Novo Progresso, no estado do Pará (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 17 de agosto de 2020 às 18h35.

Dezenas de indígenas kayapó mekragnoti bloquearam, nesta segunda-feira (17), uma importante rodovia amazônica no estado do Pará "por tempo indeterminado", em protesto para exigir o recebimento de mais ajuda para enfrentar o novo coronavírus, além de pedir pelo fim do desmatamento e da prática da mineração ilegal em suas reservas, verificou a AFP. 

Portando paus, flechas e facões, os índios construíram duas barricadas no asfalto com pneus e madeira para bloquear na altura do município de Novo Progresso a BR-163, a principal rota de distribuição da colheita agrícola do Centro-Oeste até os os portos fluviais da Amazônia.

"A cada dia que passa essa doença está aumentando, por isso nós estamos fazendo esse movimento para chamar a atenção (...) para o governo olhar para o lado dos indígenas, não somos apenas nós, mas o Brasil inteiro tem indígenas que estão precisando de ajuda", disse o cacique Beppronti Mekragnotire, por meio do seu porta-voz e intérprete Doto Takak-ire.

Com seus coloridos cocares e seus tradicionais desenhos pintados no corpo, os indígenas se manifestaram por meio de cantos e danças no asfalto, enquanto eram observados por caminhoneiros que aguardavam resignados em seus veículos carregados de grandes cargas de soja e milho.  

Os kayapó mekragnoti, um subgrupo dos kayapó (do cacique Raoni Metuktire, ícone da luta pela preservação da Amazônia), habitam as reservas de Baú e Menkragnoti, que juntas ocupam uma área de 6,5 milhões de hectares.

Os kayapós manifestaram através de cantos e danças sobre o asfalto, enquanto observados por caminhoneiros

Os kayapós manifestaram através de cantos e danças sobre o asfalto, enquanto observados por caminhoneiros (AFP/AFP)

Dos 1.600 habitantes de suas doze aldeias, 4 morreram com o vírus e há cerca de 400 infectados, segundo dados da ONG Kabú. Os primeiros casos ocorreram a partir do contato deles com populações urbanas e por causa da presença de garimpeiros ilegais em suas reservas.

Os indígenas são um alvo "perfeito" para o coronavírus por terem menor defesa imunológica por não estarem expostos a todo momento aos diferentes vírus como nas cidades, além do histórico estado de negligência estatal a que estão sujeitos.

Até o momento, 618 indígenas morreram e 21 mil foram infectados pelo novo coronavírus no país, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusa o governo de Jair Bolsonaro de omissão diante da pandemia.

O Brasil, país de 212 milhões de habitantes (900.000 deles povos indígenas), é o segundo  mais afetado pela pandemia, com mais de 107.000 mortos, atrás apenas dos Estados Unidos.

Os indígenas também exigem do governo o combate ao desmatamento ilegal praticado pelos invasores de terras, principal causa dos incêndios que atingem a região na seca, e a mineração.

"Você está vendo essa fumaça?", pergunta o cacique. "É porque o desmatamento está aumentando a cada dia", lamenta.

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