"Hoje, a cada 100 veículos que passam pelos pórticos, 97 efetuam o pagamento corretamente", afirmou o secretário da Reconstrução do RS, Pedro Capeluppi, no 16º episódio do programa EXAME INFRA (CSG/Divulgação)
Publicado em 24 de agosto de 2025 às 16h54.
O Rio Grande do Sul, pioneiro na implementação do modelo de pedágio sem cancelas no Brasil, registra resultados acima das expectativas com o sistema de cobrança automática conhecido como free flow.
De acordo com Pedro Capeluppi, secretário da Reconstrução e responsável pela área de concessões do Estado, a inadimplência no modelo está em torno de 3%, bem abaixo das projeções iniciais de 15%.
"Hoje, a cada 100 veículos que passam pelos pórticos, 97 efetuam o pagamento corretamente", afirma o secretário no 16º episódio do programa EXAME INFRA, uma realização da EXAME em parceria com a empresa Suporte.
A adoção da tecnologia do free flow, ou fluxo livre, que vem substituindo as tradicionais praças de pedágio nas rodovias do país, só foi autorizada no Brasil pela Lei nº 14.157/2021, posteriormente, regulamentada no final de 2022 e seguida por uma experiência feita Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a antiga CCR (hoje Motiva), no Rio de Janeiro, com três pórticos.
"Nesse meio do caminho, a nossa concessão existente na Serra Gaúcha, o Bloco 3, operado pela concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), começou a tratar conosco sobre a possibilidade de buscar essa substituição das praças físicas que seriam construídas nessa concessão pela colocação dos pórticos", diz Capeluppi.
O modelo administrado pela CSG no Bloco 3 de rodovias abrange 271,5 quilômetros entre o Vale do Caí e a Serra Gaúcha. O contrato prevê investimentos de R$ 4,6 bilhões ao longo de 30 anos e, até o momento, já conta com seis pórticos em funcionamento no estado.
"Nos debruçamos com a equipe técnica, com a concessionária, buscando o apoio da ANTT, da CCR, para compartilhar esses dados todos, para ver como poderíamos fazer para avançar nesse processo. E conseguimos ter uma experiência muito bem-sucedida, transformamos essa concessão que teria praças físicas em Free Flow", afirma.
Segundo Capeluppi, um dos fatores centrais para a baixa inadimplência foi a rápida expansão da utilização de tags. No início da concessão, apenas metade dos veículos de carga utilizava o dispositivo eletrônico.
Hoje, 91% do segmento já aderiu à tecnologia. Entre todos os motoristas, 76% usam tag. "Isso é impressionante", afirma o secretário. A estruturação de alternativas de pagamento, por parte da concessionária, também vem contribuindo para reduzir os índices de inadimplência.
"Não é só a tag que faz com que a pessoa possa passar sem preocupação. A concessionária criou um cadastro que a partir dele o motorista pode colocar créditos ali numa carteira virtual. Com essa adaptação e implementação, as pessoas têm sido mais receptivas do que a gente imaginava lá no começo, com a previsão de taxas de inadimplência muito maiores", diz o secretário da Reconstrução.
A concessionária também montou um sistema de back office para evitar notificações erradas — ou seja, para não multar motoristas que não passaram efetivamente pelo local.
"Nós também alinhamos o incentivo, estabelecendo uma penalidade para a concessionária por notificação equivocada. Tudo isso nos possibilitou ter o sucesso que a gente tem hoje com o modelo e isso fica muito evidente quando a gente vê os outros estados, tomando como base os nossos parâmetros", afirma.
O governo do Rio Grande do Sul prepara novos leilões de concessões rodoviárias que somam mais de R$ 12 bilhões em investimentos. Os projetos incluem duplicações, terceiras faixas e a modernização de mais de 800 quilômetros de estradas, todos estruturados já com o modelo free flow.
No caso do Bloco 2, que está em fase final de modelagem, a cobrança será ainda mais proporcional: serão 24 pontos de pedágio distribuídos ao longo do trecho, o que garante que o motorista pague apenas pela quilometragem percorrida.
Capeluppi conta que, ao assumir a secretaria em 2023, recebeu da comunidade do Vale do Taquari e do setor empresarial uma forte demanda pela substituição das praças de pedágio.
"O modelo penalizava motoristas que percorriam trechos curtos, mas eram obrigados a pagar a tarifa cheia na praça. O free flow traz mais justiça na cobrança", diz.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
Ep. 9 - Concessionárias investirão R$ 40 bi de rodovias a hidrovias até 2029, diz CEO da MoveInfra
Ep. 10 - Fundos de investimentos se consolidaram no mercado de leilões, diz CEO de concessões de R$ 27 bi
Ep. 11 - 'Brasil tem pressa' e licenciamento ambiental deve ser votado antes do recesso, diz Arnaldo Jardim
Ep. 12 - Governo de São Paulo prepara leilão de R$ 20 bilhões para saneamento em cidades fora da Sabesp
Ep. 13 - Com R$ 30 bi em Capex até 2030, EcoRodovias prioriza seletividade, diz diretor-geral
EP. 14: Aegea avalia IPO em 2027 e prepara estrutura para novo ciclo de expansão e investimentos
EP. 15: Repactuação de rodovias atraem poucos players — mas Fernão Dias deve ter disputa, diz especialista