Roberval de Souza, diretor de engenharia e inovação da companhia de saneamento básico do estado de São Paulo e com 29 anos de experiência no setor de saneamento foi o convidado do 6º episódio do videocast EXAME INFRA realizado pela EXAME com a empresa Suporte (Exame Infra/YouTube/Reprodução)
Publicado em 17 de março de 2025 às 10h00.
Última atualização em 17 de março de 2025 às 12h50.
A desestatização da Sabesp, sob gestão privada desde 1º de outubro de 2024, trouxe importantes mudanças para a companhia, que permitiram uma aceleração significativa dos seus planos de investimento e operações, de acordo com Roberval Tavares de Souza, diretor de engenharia e inovação da companhia de saneamento básico do estado de São Paulo.
Em entrevista ao EXAME INFRA, o executivo garante haver um ganho de maior agilidade nos processos, especialmente nas contratações, que ficaram em média três vezes mais rápidas, com a mudança.
"Porque antes o modelo era público, de licitação, em que se tinham amarras legais. No modelo privado, convida-se três, quatro, cinco empresas, é dado o modelo de referência e elas fazem o preço com base nele. Os R$ 15 bilhões [de investimentos] anunciados em dezembro [pela gestão privada da Sabesp] foram contratados em 90 dias", afirma Souza.
"Em um modelo público isso se estenderia em torno de 9 meses ou mais. Está errado? Não, mas é outro modelo", compara o executivo, que tem 29 anos de experiência no setor de saneamento, no sexto episódio do videocast EXAME INFRA realizado pela EXAME em parceria com a empresa Suporte para debater os desafios e as grandes transformações da infraestrutura.
O processo do governo estadual foi concretizado em julho do ano passado com a empresa Equatorial, que recebeu o controle da companhia de água e saneamento paulista como acionista de referência.
Ao assumir a gestão da Sabesp, que está presente em 375 municípios do estado de São Paulo, com 62% da população do estado atendida, a Equatorial também ganhou um novo desafio pela frente: até 2029, a companhia precisa garantir o acesso universal a água potável e coleta e tratamento de esgoto, uma antecipação da meta nacional, prevista para 2033.
Para isso, a empresa planeja investir quase R$ 70 bilhões, entre eles R$ 15 bilhões já contratados neste ano, com a promessa de acelerar a implementação dos planos existentes.
Um dos projetos prioritários, segundo o diretor da Sabesp, é o Integra Tietê, que tem como objetivo melhorar a coleta e o tratamento de esgoto na região metropolitana de São Paulo. O programa conta com R$ 9 bilhões em investimentos em andamento. Outro projeto importante é a expansão do abastecimento de água e o tratamento de esgoto na Baixada Santista, que também está recebendo R$ 3 bilhões.
Além disso, a Sabesp está comprometida em levar saneamento básico para áreas rurais e comunidades informais, como indígenas e quilombolas, que antes não estavam no escopo de atendimento da empresa.
"Tudo dentro do desafio de atuar até 2029 em todas as regiões", diz Souza. Em cinco meses, já há obras em todos os 375 municípios atendidos e mais de 400 frentes de trabalho executando-as.
"Para que a gente possa ampliar a coleta e o tratamento de esgoto, além das grandes tubulações que serão feitas na região metropolitana, também estamos ampliando as estações de tratamento esgoto. Em Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e no ABC Paulista, temos obras em andamento nessas quatro estações e mais três estações construídas em Guarulhos, que é um novo município da Sabesp, entrou em 2019 com grande déficit de saneamento", afirma.
Em termos de vazão, nos 39 municípios da Grande São Paulo, a Sabesp passará a tratar de 25 mil litros de esgoto por segundo, para 42 mil litros, como projeta a companhia até o prazo final.
Souza reconhece que a região, contudo, é que a possui maiores desafios operacionais, como a realização de obras em áreas urbanas densas sem interromper o abastecimento. A escassez de mão de obra qualificada também é percebida pela Sabesp.
A empresa tem investido em parcerias com o Senai para formar novos profissionais, mas já percebe um aumento na demanda por especialistas no setor de saneamento. "Os profissionais mais qualificados em saneamento estão vendo um inflacionamento".
O diretor da Sabesp cita também a questão do atendimento a comunidades que até então não recebiam o serviço, seja pela falta total de acesso, ou ligações clandestinas. "Nunca atuamos nas áreas rurais e precisaremos atuar e, nas áreas informais, entraremos na região para levar água, coleta e tratamento de esgoto", diz Souza.
Além de expandir seu atendimento em São Paulo, a Sabesp está de olho no mercado nacional e busca se posicionar como um novo player privado no setor de saneamento.
Roberval de Souza destacou que a companhia está aberta a estudar concessões em outros locais do Brasil, para contribuir para a universalização do saneamento e alcançar as metas do novo marco legal do setor.
"A Sabesp está se posicionamento como um novo player privado e pode ser atuar em outros estados, existe um dispositivo da Sabesp de estudar qualquer concessão que venha a ser disponível no mercado. O estado de São Paulo é mais competitivo pela capilaridade e atendimento, mas estamos olhando o Brasil inteiro", afirma o diretor.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor