Juliana Marins: laudo do IML é divulgado no Rio de Janeiro (resgatejulianamarins/Instagram)
Redação Exame
Publicado em 8 de julho de 2025 às 21h41.
Última atualização em 8 de julho de 2025 às 21h44.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou, na manhã de hoje, que a morte da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, foi provocada por múltiplos traumas decorrentes de uma queda de altura durante uma trilha na Indonésia.
A informação foi detalhada no laudo pericial elaborado pelo Instituto Médico-Legal (IML), que concluiu que as lesões causaram uma hemorragia interna e politraumatismo, e resultaram em falência dos órgãos vitais.
O corpo de Juliana foi encontrado quatro dias após o acidente, e a perícia brasileira revelou detalhes sobre o impacto fatal, que foi de "alta energia cinética". De acordo com o exame, os ferimentos sofridos pela jovem eram, por si só, letais em um curto espaço de tempo, com uma estimativa de sobrevida de apenas 10 a 15 minutos após o impacto.
Mas imagens do drone, os relatos de testemunhas e a própria cronologia do resgate indicam que a jovem pode ter sobrevivido por muitas horas após a queda.
Apesar da gravidade das lesões, os peritos também mencionaram a possibilidade de que Juliana tenha passado por um período agonal, caracterizado por sofrimento físico e psíquico antes de falecer. Esse intervalo, marcado por estresse extremo e alterações metabólicas, pode ter ocorrido devido à queda ou ao contexto da situação, e dificultam a capacidade da vítima de tomar decisões imediatas.
O laudo, no entanto, não conseguiu confirmar com certeza se a jovem ainda teria sobrevivido com atendimento médico imediato, devido às condições em que o corpo foi recebido pelo IML, já embalsamado.
A perícia, que também contou com a participação de um perito particular contratado pela família de Juliana, esclareceu que não houve sinais de violência física prévia, como luta ou contenção. O laudo, entretanto, encontrou marcas indicativas de deslocamento do corpo após o impacto, provavelmente devido à inclinação do terreno onde a queda ocorreu.
A morte de Juliana Marins gerou grande comoção e questionamentos por parte da família, que solicitou à Justiça a realização de uma nova perícia para aprofundar as investigações. Os familiares também perguntaram aos peritos se a falta de socorro imediato teria sido um fator decisivo para o óbito, ou se, dadas as circunstâncias, a morte era inevitável. Os elementos presentes no exame não foram suficientes para uma resposta conclusiva sobre essa questão.
Mochileira e publicitária, Juliana Marins, de 26 anos, era uma niteroiense que parecia colecionar paisagens, fazer amigos por onde passava e acreditava que “as coisas sempre dariam certo”, segundo sua irmã, Mariana Marins.
Desde fevereiro, vivia o sonho de um mochilão pelo Sudeste Asiático, com passagens pelas Filipinas, Vietnã e Tailândia, sempre registrando as experiências nas redes sociais.
Na Indonésia, decidiu encarar a desafiadora trilha de três dias até o topo do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, acompanhada por um guia local e outros cinco turistas. Mas não deu certo. Juliana caiu de um penhasco durante a caminhada e, após quatro dias à espera de socorro, seu corpo foi localizado por uma equipe de resgate.
Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com passagens profissionais por canais como Multishow e Canal Off, Juliana também se apresentava como dançarina de pole dance.
De espírito livre e muito expansiva, ela havia cursado por um breve período Direito na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Mariana Marins, passou por dias de angústia em busca de notícias e de ajuda, mesmo a quilômetros de distância, para tentar salvar a irmã.
Após quatro dias, a equipe de resgate formada em grande parte por voluntários conseguiu recuperar o corpo de Juliana. E seu perfil do Instagram, Mariana publicou uma carta de despedida, acompanhada de fotos e comentários sobre a irmã:
"Você sempre esteve comigo em todos os momentos, inclusive nos piores deles. A gente sempre dizia que moveria montanhas uma pela outra, e daqui do Brasil, tentei mover uma lá na Indonésia por você. Desculpa não ter sido suficiente, irmã", escreveu.
Na carta, ela chama Juliana de “doidinha”, recorda que a ensinou a andar de bicicleta e a tocar violão, e relembra momentos juntas como madrinha de seu casamento.
"Você sempre foi a maior parceira do mundo, mesmo sendo avoadinha de tudo, sempre acreditando que todas as coisas sempre iam dar certo. E o pior: elas sempre davam certo!"
Em tom emocionado, Mariana também fala da dor de imaginar o futuro sem a irmã por perto:
"Outra coisa que tem me incomodado muito é que meus filhos não terão a tia Ju por perto. Seu relógio biológico bateu errado e você — semana sim, semana não — me pedia logo uma sobrinha. Você seria uma excelente tia. Seus sobrinhos vão saber tudo sobre você. Não se preocupe com isso. Mas eles não terão o privilégio de conviver com você. E isso tem acabado comigo. Como vou ser velha sem você? Como terei 60 anos sem você do meu lado? Quem usará um gorro de Natal comigo em qualquer dia de dezembro?".
Juliana decidiu enfrentar a trilha de três dias até o cume do Monte Rinjani, um vulcão ativo com 3.726 metros de altitude, na ilha de Lombok.
Ela integrava um grupo de turistas acompanhado por um guia local, Ali Musthofa, de 20 anos, que já havia subido a montanha dezenas de vezes desde novembro de 2023.
Durante a subida, segundo relatos da irmã Mariana Marins, Juliana se sentiu cansada e pediu para parar. O guia teria orientado o grupo a seguir em frente e combinado de esperar mais adiante. Em entrevista ao jornal O Globo, Ali confirmou que continuou por alguns minutos e voltou depois de perceber a demora de Juliana. “Fiquei três minutos à frente dela”, disse.
Pouco depois, Juliana caiu em uma área íngreme. Estimativas indicam que a queda foi de aproximadamente 300 metros. Ela ainda estaria viva, segundo vídeos registrados por turistas que passaram pelo local três horas depois do acidente. Um drone chegou a captar imagens dela imóvel, mas ainda em posição que sugeria sinais de vida. No dia seguinte, já havia deslizado ainda mais, a cerca de 650 metros da trilha principal.
A demora no resgate, segundo a família, foi crucial. Mariana conta que souberam do acidente pelas redes sociais. A comunicação oficial com as autoridades da Indonésia foi lenta, e os relatos sobre o abandono por parte do guia deixaram todos em estado de choque. "Ela foi deixada sozinha por mais de uma hora. Isso não poderia ter acontecido", disse Mariana ao Fantástico, da TV Globo.
(Com Agência O Globo)