Brasil

Lava Jato nega que Odebrecht esteja negociando delação

De acordo com o MPF, sequer a iniciativa de negociação existiu e a atitude de manifestar a vontade de colaborar fere o sigilo exigido para fechar acordos

Sede da Odebrecht, em São Paulo (REUTERS/Rodrigo Paiva)

Sede da Odebrecht, em São Paulo (REUTERS/Rodrigo Paiva)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de março de 2016 às 17h45.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 15h01.

São Paulo – Por meio de nota, o Ministério Público Federal negou nesta quarta-feira (23) que haja qualquer negociação para acordo de delação premiada de executivos do Grupo Odebrecht, ou mesmo acordo de leniência com a empresa, no âmbito da Operação Lava Jato.

O comunicado foi uma resposta ao texto da empreiteira divulgado ontem (22) à imprensa, dizendo que a empresa havia decidido colaborar com as investigações como forma de "implantar melhorias em suas práticas" e "evoluir para o Brasil".

De acordo com o MPF, sequer a iniciativa de negociação jamais existiu e a atitude de manifestar a vontade de colaborar à imprensa fere o sigilo exigido pela justiça para a celebração dos acordos.

"A simples intenção demonstrada não tem o condão de descaracterizar a contínua ação do Grupo Odebrecht em obstruir as investigações em andamento, como ficou caracterizado na recente 26ª fase da Operação Lava Jato, com a tentativa de destruição de seu sistema de controle informatizado de propina", diz o texto.

O ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht não é citado nominalmente na nota. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o empreiteiro, preso desde a 14ª fase, Operação Erga Omnes, já teria começado a depor, antes mesmo da última interevenção da PF que descobriu o nome de mais de 200 políticos em planilhas da empresa.

Marcelo Odebrecht foi condenado em março a 19 anos de prisão junto com dois executivos da empresa, fator que teria pesado para que aceitassem colaborar com o MPF. Não fica claro que rumos tomam as negociações depois do entrave entre empresa e força-tarefa da operação.

VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA

O Ministério Público Federal, diante da nota emitida pelo Grupo Odebrecht em 22 de março de 2016, bem como da sua repercussão na imprensa, vem esclarecer:

1. não existe sequer negociação iniciada sobre acordos de colaboração com executivos ou leniência com o Grupo Odebrecht;

2. a simples manifestação dessa vontade pela imprensa, seja por indivíduos, seja por qualquer grupo empresarial investigado, não possui qualquer consequência jurídica, motivo pelo qual as investigações e atos processuais continuarão em andamento;

3. a divulgação de qualquer intenção de acordo através de imprensa fere o sigilo das negociações exigido pela lei para a celebração do acordo;

4. a simples intenção demonstrada não tem o condão de descaracterizar a contínua ação do Grupo Odebrecht em obstruir as investigações em andamento, como ficou caracterizado na recente 26ª fase da Operação Lavajato, com a tentativa de destruição de seu sistema de controle informatizado de propina;

5. o Ministério Público Federal mantém o entendimento de que acordos de leniência e de colaboração premiada somente são possíveis com o completo desvelamento, por parte dos envolvidos, dos fatos criminosos que já são investigados, além da revelação plena de outras ilegalidades que tenham cometido e que ainda não sejam de conhecimento das autoridades, e da reparação mais ampla possível de todas essas ilegalidades.

VEJA A NOTA DA ODEBRECHT

COMPROMISSO COM O BRASIL

As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato.

A empresa, que identificou a necessidade de implantar melhorias em suas práticas, vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União.

Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor.

Na mesma direção, seguimos aperfeiçoando nosso sistema de conformidade e nosso modelo de governança; estamos em processo avançado de adesão ao Pacto Global, da ONU, que visa mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores reconhecidos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção; estabelecemos metas de conformidade para que nossos negócios se enquadrarem como Empresa Pró-Ética (da CGU), iniciativa que incentiva as empresas a implantarem medidas de prevenção e combate à corrupção e outros tipos de fraudes. Vamos, também, adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública.

Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato – que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país - seguimos acreditando no Brasil.

Ao contribuir com o aprimoramento do contexto institucional, a Odebrecht olha para si e procura evoluir, mirando o futuro. Entendemos nossa responsabilidade social e econômica, e iremos cumprir nossos contratos e manter seus investimentos. Assim, poderemos preservar os empregos diretos e indiretos que geramos e prosseguir no papel de agente econômico relevante, de forma responsável e sustentável.

Em respeito aos nossos mais de 130 mil integrantes, alguns deles tantas vezes injustamente retratados, às suas famílias, aos nossos clientes, às comunidades em que atuamos, aos nossos parceiros e à sociedade em geral, manifestamos nosso compromisso com o país. São 72 anos de história e sabemos que temos que avançar por meio de ações práticas, do diálogo e da transparência.

Nosso compromisso é o de evoluir com o Brasil e para o Brasil.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas brasileirasCorrupçãoEscândalosFraudesOperação Lava JatoMinistério PúblicoPolícia FederalNovonor (ex-Odebrecht)Marcelo Odebrecht

Mais de Brasil

PF prende suspeitos em operação contra fraudes em concursos públicos

CPI do INSS ouve ministro da CGU sobre fraudes em benefícios de aposentados

Imposto de Renda: o que muda para profissionais liberais, como advogados, médicos e engenheiros?

Polícia investiga morte de dois amigos após consumo de uísque adulterado com metanol em Pernambuco