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Megaoperação investiga esquema de adulteração de bebidas alcoólicas com metanol em 21 cidades

Ação de força-tarefa envolve Receita Federal, Polícia Federal, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Agência o Globo
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Publicado em 16 de outubro de 2025 às 11h34.

Uma operação deflagrada na manhã desta quinta-feira, 16, coleta amostras de metanol em 21 cidades para análises químicas que possibilitem rastrear a procedência do solvente e compará-las com as obtidas em bebidas falsificadas apreendidas.

Batizada de Alquimia, a operação foi motivada pelo crescimento de ocorrências de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas.

A ação é uma força-tarefa da Receita Federal, Polícia Federal, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Coleta de amostras e investigação de adulteração de bebidas

A coleta de elementos e amostras pelos órgãos da força-tarefa ocorre em 24 empresas, incluindo atuantes do setor sucroalcooleiro, importadores e distribuidores de metanol, localizadas em cinco estados: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A operação conta com a participação de 48 servidores da Receita Federal.

A auditora-fiscal Márcia Meng, superintendente da Receita Federal em São Paulo, afirma que a operação tenta mapear o DNA do metanol usado nas fábricas clandestinas para a adulteração de bebidas.

Os investigadores já não têm dúvidas de que parte da falsificação dos destilados é feita com etanol comprado de postos de combustíveis, batizado ilegalmente com o metanol e sem a ciência dos adulteradores.

Com a coleta das novas amostras, será possível dizer se as fábricas compram metanol também direto da fonte de exportação.

Possível envolvimento de organizações criminosas

"Não temos indícios diretos hoje da participação [do PCC] na adulteração. É possível afirmar que tem relação indireta, porque na importação no metanol há o envolvimento de organizações criminosas. Vamos descobrir agora se essas pessoas que estão nas fábricas têm relação direta [com a facção]", disse Márcia.

Segundo a Receita Federal, a escolha das empresas se deu com base no potencial de envolvimento na cadeia do metanol — desde a importação da substância até sua possível destinação irregular. Entre os alvos estão importadores, terminais marítimos, empresas químicas, destilarias e usinas.

Cadeia de distribuição do metanol e seus impactos

Os importadores são responsáveis pela entrada do metanol no país. Eles usam o solvente em seus processos produtivos e revendem o produto para empresas químicas.

Nos terminais marítimos, empresas movimentam volumes expressivos de metanol, que permanecem nesses locais até serem encaminhados às unidades fabris ou aos clientes finais. Quando há vendas a terceiros, os produtos são despachados diretamente dos terminais ao destino.

As empresas químicas compram o produto de importadores para uso industrial ou para revenda a outras indústrias químicas.

Segundo a Receita, há indícios consistentes de que algumas delas desviaram parte do produto.

Já as destilarias investigadas teriam adquirido metanol por meio de empresas conhecidas como “noteiras”. As notas fiscais indicavam caminhões e motoristas que, contudo, nunca chegaram aos destinos informados, sugerindo possível fraude documental.

As usinas, produtoras e distribuidoras de etanol anidro e hidratado também estão sendo verificadas por atuarem em pontos estratégicos da cadeia, fundamentais para rastrear eventuais lotes adulterados ou irregularidades na destinação do produto.

Desdobramentos das operações anteriores e implicações para a saúde pública

A Operação Alquimia é um desdobramento das operações Boyle e Carbono Oculto, que revelaram um esquema de adulteração de combustíveis com metanol. Há fortes indícios de que esse combustível adulterado esteja sendo utilizado na fabricação clandestina de bebidas alcoólicas, configurando uma cadeia de irregularidades com alto potencial de risco à saúde pública.

A Operação Boyle foi conduzida para apurar possíveis casos de adulteração de combustíveis por meio da utilização de metanol. A partir da análise do material apreendido, surgiu a Operação Carbono Oculto.

A Operação Carbono Oculto revelou um esquema que consistia na compra de metanol importado por empresas químicas regulares, que o repassavam a empresas de fachada. Essas, por sua vez, desviavam o produto para postos de combustíveis, onde o metanol era adicionado de forma ilícita à gasolina comercializada ao consumidor final.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em bebidas alcoólicas o metanol deve estar presente em níveis inferiores a 0,1%. Substância altamente tóxica, mesmo o percentual máximo de 0,5% permitido em combustíveis já seria suficiente para causar graves danos à saúde. É proibido, portanto, o uso de combustíveis na fabricação de bebidas alcoólicas.

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