Repórter
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 18h42.
A megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro agentes das forças de segurança, impactou o debate público e as interações digitais no Rio de Janeiro e em outras regiões do país.
Nas redes, um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou 1,92 milhão de postagens entre a 0h da terça-feira, 28 — quando a megaoperação começou —, e as 14h da quarta-feira, 29, em redes sociais como X, Instagram, Facebook, YouTube e portais de notícias. No total, foram mais de 60 milhões de interações digitais relacionadas à ação de combate ao Comando Vermelho.
Com base em dados públicos, o estudo mapeou os principais comentários, figuras políticas envolvidas e as narrativas que ganharam força. Houve destaque para a polarização política em torno do caso, com usuários comparando o contexto da operação à guerra entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza, além de críticas direcionadas a autoridades estaduais e federais pela escalada da onda de violência.
A operação contou com a mobilização de 2,5 mil agentes e provocou confrontos intensos em áreas do Rio de Janeiro. Como reflexo, o volume de buscas sobre o estado do Rio de Janeiro superou a marca de 500 mil pesquisas no Google em apenas 24 horas.
A pesquisa da FGV também mostra que o episódio teve ampla disseminação em diferentes segmentos da internet. No Instagram, por exemplo, cinco dos dez conteúdos com maior engajamento vieram de páginas de entretenimento, sinalizando que o debate ultrapassou o campo político.
Entre os posicionamentos registrados nas redes, destacaram-se as críticas ao governador Cláudio Castro, acusado por parte dos usuários de usar a operação como vantagem política, e manifestações que cobravam uma atuação mais incisiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente à crise de segurança no estado.
Segundo o estudo, os atores políticos mais mencionados em postagens sobre a megaoperação no Rio, no dia 29 de outubro, foram:
Algumas postagens também direcionavam à responsabilidade sobre a crise de segurança pública a Lula, apontando para falta de apoio logístico e de segurança à capital carioca. Por outro lado, vários críticos do governador Cláudio Castro o acusaram de usar métodos ineficazes para resolver o problema.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, também foram mencionados nas redes, embora com participação menos relevante nas discussões.
Um levantamento da Palver, empresa de tecnologia especializada em análise de tendências sociais, monitorou cerca de 100 mil grupos no WhatsApp e identificou dois padrões distintos de posicionamento sobre a megaoperação. No estado do Rio de Janeiro, 43% das mensagens analisadas eram contrárias à operação, 39% favoráveis e 18% sem posição definida.
Por outro lado, o cenário nacional apresentou maioria favorável à ação: 45% das mensagens eram de apoio, 38% desfavoráveis e 16% não permitiram identificação clara de opinião.
Os dados foram divulgados na quarta-feira, 29, com base em mensagens coletadas entre as 8h do domingo, 27, e as 8h da terça-feira, 29 — período que inclui registros anteriores ao início da operação, utilizados para efeito comparativo.
Segundo a Palver, as mensagens favoráveis à operação destacaram a atuação da polícia como essencial para a retomada da segurança, com ênfase nas prisões de lideranças do Comando Vermelho e na apreensão de armas de grosso calibre. Já as mensagens contrárias criticaram a "alta letalidade", a "transformação das áreas em uma zona de guerra" e a "condução violenta da operação".
Nos dias que sucederam à megaoperação nas comunidades da Penha e do Alemão, o governador Cláudio Castro triplicou o número de seguidores em seu perfil nas redes sociais.
Nesta segunda-feira, 27, Castro tinha 464 mil seguidores no Instagram. Na terça-feira, quando a operação contra o Comando Vermelho começou, esse número subiu para 478 mil.
No dia seguinte, quando foram contabilizados 121 mortos pela ação contra o tráfico, o perfil de Castro chegou a 746 mil seguidores. Atualmente, o governador conta com 1,4 milhão de seguidores no Instagram.
Na opinião pública, uma pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta-feira, 31, mostra que a maioria dos brasileiros aprova a megaoperação da Polícia do Rio de Janeiro.
A operação mobilizou cerca de 2.500 agentes civis e militares, com a apreensão de 118 armas — entre fuzis, pistolas e revólveres — 14 explosivos e toneladas de drogas. Mais de 80 pessoas foram presas. Quatro polícias estão entre os mortos.
O estudo mostra que 55,2% aprovam a operação, enquanto 42,3%, reprovam.
Dentro desse recorte, 80,9% dos moradores de favelas pelo país avaliaram a operação de maneira positiva.
O estudo questionou ainda se o entrevistado presenciou um crime nos últimos três meses. Os dados mostram que 73,8% não presenciaram, enquanto 26,2% testemunharam.
O dado contrasta com o levantamento com foco no Rio de Janeiro, onde 57,6% afirmam que presenciaram algum crime no período.
A pesquisa mostrou ainda que na capital carioca 77,6% evitam determinada área da cidade por preocupação com a criminalidade.
A pesquisa ainda questionou a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do governador do estado do entrevistado e do prefeito da cidade do participante da pesquisa na área de segurança.
Lula tem avaliação ruim ou péssima nessa área para 50% da população e apenas 31% de ótimo ou bom.
Os governadores são avaliados de maneira regular por 36%, como ruim e péssimo por 35% e como ótimo e bom por 28%. Para os prefeitos, essa distribuição foi: 51% regular, 24% ruim ou péssimo e 23% ótimo ou bom.
A pesquisa ouviu 1.089 brasileiros entre os dias 29 e 30 de outubro por meio de recrutamento digital aleatório (ATLAS RDR). A margem de erro é de três pontos percentuais com 95% de nível de confiança.
Batizada de Operação Contenção, a ação realizada entre as polícias Civil e Militar nesta terça-feira, 28, foi considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, com saldo de 121 mortos, 113 pessoas presas e mais de 90 fuzis apreendidos, de acordo com dados divulgados pelo governo do estado, na quarta-feira.
Os confrontos começaram após o cerco de forças de segurança às comunidades da Penha e do Alemão, áreas sob domínio do grupo Comando Vermelho. A ação desencadeou uma série de reações do tráfico, incluindo bloqueios em vias expressas e paralisações no sistema de transporte público.
Segundo o governo do Rio, o objetivo da operação foi conter a expansão territorial da facção. Em contrapartida, organizações civis e moradores relataram denúncias de execuções, remoção de corpos e uso excessivo da força por parte dos policiais.