Brasil

Morre José Murilo de Carvalho, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras

Ele estava internado com covid-19. Carvalho foi fundamental para o entendimento sobre como reflexos da escravidão, do colonialismo, da formação do Império e da República

José Murilo de Carvalho: historiador era membro da ABL. (ABL/Divulgação)

José Murilo de Carvalho: historiador era membro da ABL. (ABL/Divulgação)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 13 de agosto de 2023 às 11h49.

Última atualização em 13 de agosto de 2023 às 11h50.

O historiador e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) José Murilo de Carvalho, de 83 anos, morreu na madrugada deste domingo, 13. Ele estava internado com covid-19. Carvalho foi fundamental para o entendimento sobre como reflexos da escravidão, do colonialismo, da formação do Império e da República e da relação dos militares com o poder influenciam o Brasil até hoje.

Na primeira tentativa de entrar na universidade, foi reprovado no vestibular para Economia por não resolver uma equação de 2º grau. Aí veio a guinada que marcaria as Ciências Humanas no Brasil: foi o 2º melhor colocado entre os aceitos no curso de Sociologia Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou. Mais tarde, ganhou o título de mestre em Ciência Política pela Universidade de Stanford (EUA), onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro.

Também foi professor e pesquisador visitante em universidades de vários países, como Oxford (Reino Unido), Leiden (Holanda), Stanford (EUA), Notre Dame (França) e na Fundação Ortega y Gasset (Espanha). Foi também professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Eleito imortal da ABL em 2004, sucedeu a escritora cearense Rachel de Queiroz e ocupava a cadeira nº 5. Autor de 19 livros, entre suas obras mais famosas estão A cidadania no Brasil e Os bestializados.

Na sua última entrevista para o Estadão, em 2022, Carvalho analisou o bicentenário da Independência do Brasil. Segundo ele, o País chegou à data sem um projeto de nação e longe da grandeza anunciada em 1500 pela natureza exuberante e sonhada no século 19 pelos que lutaram por sua separação de Portugal.

“A grandeza não passou de sonhos”, destacou o historiador na época. “Destruímos nosso paraíso terrestre. Nossos ares, águas, praias estão poluídas, nossas matas, destruídas, nossas terras, em perigo de desertificação, a Amazônia, ameaçada pelo desmatamento e pela mineração predatória. A grande população indígena da época da chegada dos colonizadores foi quase toda extinta. Grande parte da população ainda sofre as marcas da escravidão.”

Infância na fazenda e pesquisa durante a ditadura militar

Nascido em Andrelândia (MG), a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora, Carvalho era de uma família de dez irmãos e cresceu em uma fazenda em que não havia luz nem água encanada. Lá, segundo relatava, tiravam leite de vaca e andavam descalços - só usavam sapatos quando iam à cidade.

Foi alfabetizado pelo pai, que era dentista, e depois estudou em no seminário. Ele estava na graduação, em Belo Horizonte, quando o Brasil sofreu o golpe militar de 1964. Quando já dá aulas nas pós, Carvalho enfrentou os efeitos do Ato Institucional nº 5 (1968), em um cenário de cassação e prisão de professores e alunos - ele contava que até uma namorada sua foi detida no início dos anos 1970.

Acompanhe tudo sobre:HistóriaCultura

Mais de Brasil

Prefeitura de SP faz projeção de imagens em homenagem ao Papa Francisco

'Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula', diz deputado ao recusar cargo de ministro

Lula, Bolsonaro, Tarcísio, Michelle e Ciro: Paraná Pesquisas simula cenários das eleições de 2026