Presidente Lula e Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, trocaram farpas após aprovação do PL Antifacção (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
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Publicado em 19 de novembro de 2025 às 18h34.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), rebateu as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao PL Antifacção aprovado pelos deputados e expôs a crise política entre os Poderes gerada pela discussão do projeto que endurece as penas para integrantes de organizações criminosas.
O petista publicou hoje às 12h30 nas redes sociais que, da maneira como foi aprovado, o PL Antifacção "enfraquece o combate ao crime organizado e gera insegurança jurídica". Pouco mais de duas horas depois e sem citar Lula diretamente, Motta usou a mesma rede social para dar uma resposta dura. “Não se pode desinformar a população, que é alvo diariamente do crime, com inverdades”, escreveu.
O presidente da Câmara já havia feito um discurso para comemorar a aprovação da matéria com indiretas ao governo, mas nesta quarta-feira, 19, elevou o tom. Classificou como “muito grave que se tente distorcer os efeitos” do projeto e afirmou que não se enfrenta “a violência das ruas com falsas narrativas”.
“Precisamos estar unidos neste momento. O governo optou pelo caminho errado ao não compor essa corrente de união para combater a criminalidade. Repito: segurança não pode ser refém de falsas narrativas”, afirmou.
O texto de Motta evidencia o estremecimento na relação com Lula, que demonstrou irritação com os rumos que a proposta tomou logo no início da tramitação em virtude da escolha de um adversário do PT, o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), para relatar o projeto.
Lula chegou a ligar para Motta a fim de expor a insatisfação, mas o presidente da Casa não recuou e os desdobramentos dos pareceres apresentados por Derrite ampliaram ainda mais o desgaste.
Segundo apurou a Exame com dois integrantes do alto escalão do Palácio do Planalto, a avaliação no governo é de que criou-se uma fissura significativa na relação do petista com Motta. A leitura é que as divergências são naturais, mas que houve uma quebra de confiança do Executivo devido à escolha de Derrite, que se licenciou da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, como relator.
Isso porque, o deputado é auxiliar direto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem chance de ser o adversário de Lula nas eleições de 2026. Apesar do estremecimento, essas fontes citam a habilidade do chefe do Executivo em evitar guerras declaradas a fim de não comprometer a pauta do governo na Câmara. Eles preveem, no entanto, uma mudança na relação entre os dois que pode, sim, ter consequências nas próximas negociações.
Parlamentares ligados a Motta, porém, amenizam a troca de farpas públicas após a aprovação do PL Antifacção. Dois deles ouvidos pela Exame sob reserva afirmam que o Executivo precisa mais da Câmara do que o contrário. Além disso, afirmam que era natural que fosse aprovado um texto sobre segurança pública, seara em que a direita costuma vencer os debates junto à opinião pública, com apoio maior da oposição.