Brasil

Mulher que teve pedido negado no Brasil faz aborto na Colômbia

Rebeca estava com nove semanas de gestação e já tem dois filhos, de 9 e 6 anos

A estudante de direito Rebeca Marques, 30 anos: ela alegou não ter condições psicológicas e financeiras para criar outra criança (Instituto Anis/Divulgação)

A estudante de direito Rebeca Marques, 30 anos: ela alegou não ter condições psicológicas e financeiras para criar outra criança (Instituto Anis/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 9 de dezembro de 2017 às 14h01.

Última atualização em 9 de dezembro de 2017 às 14h36.

São Paulo - A estudante de direito Rebeca Mendes Silva, 30 anos, que teve um pedido de aborto negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), conseguiu realizar o procedimento de forma legal na Colômbia, confirmou o Instituto Anis, que auxiliava Rebeca com o pedido na Justiça.

Rebeca estava com nove semanas de gestação e já tem dois filhos, de 9 e 6 anos. Ela alegou que problemas financeiros e falta de condições emocionais e psicológicas para criar outra criança a levaram a tomar a decisão de interromper a gestação.

Rebeca resolveu fazer o pedido à justiça para não ser criminalizada pela escolha mais tarde. A mulher que realiza um aborto pode ficar presa por até três anos.

A estudante chegou a entrar com um novo pedido para abortar na justiça paulista, mas decidiu não esperar pela resposta, já que, conforme a gestação avança, diminuem as possibilidades de se obter essa autorização. "O pedido de Rebeca era de urgência, e não foi respondido no tempo que sua situação crítica exigia. Ela foi desamparada pelo silêncio da justiça brasileira", disse o Instituto Anis, em nota.

"Cada dia de espera representava uma ameaça crescente à sua saúde. Rebeca tomou a decisão que considerou mais correta diante da emergência e das condições que tinha. Mas o debate judicial que levantou no Brasil sobre o sofrimento imposto pela criminalização do aborto na vida concreta das mulheres seguirá à sua história", completa o instituto.

Rebeca conseguiu abortar no país vizinho ao ser convidada para participar de um seminário em Bogotá organizado pelo Consórcio Latinoamericano contra o Aborto Inseguro (Clacai). Os custos da viagem foram pagos pela organização e ela conseguiu realizar o procedimento durante a viagem.

O aborto foi realizado em uma clínica da organização privada e sem fins lucrativos Profamilia, que oferece serviços de planejamento familiar e cuidado à saúde sexual e reprodutiva na Colômbia. A Profamilia tem uma atuação assistencial, por meio da qual oferece o procedimento gratuito a mulheres que não podem pagar pelo procedimento.

Rebeca foi acolhida na clínica e, após receber explicações sobre métodos para realizar o aborto, optou pelo cirúrgico. Também foi orientada sobre diversos métodos contraceptivos e escolheu o de sua preferência, conta o Instituto Anis. "Tudo transcorreu bem, ao longo de uma manhã, e Rebeca saiu da clínica já com o implante subcutâneo", relatou a instituição.

Desde 2006, a interrupção da gravidez até o terceiro mês é permitida na Colômbia para proteger a saúde física e mental da mãe, e, assim como no Brasil, em casos de estupro e risco de morte para a mulher.

Segundo o Instituto Anis, a lei brasileira só é aplicável no país. Rebeca fez o aborto amparada pelas leis colombianas e não pode ser punida por isso.

Rebeca deu um depoimento ao Instituto Anis explicando a sua decisão. Ela é a primeira mulher a entrar com um pedido de aborto no STF sem que a gestação se enquadre em caso de estupro, risco de vida para a mãe ou o bebê tenha anencefalia. Veja abaixo:

Acompanhe tudo sobre:AbortoColômbiaSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Lula anuncia pagamento do Pé-de-Meia e gratuidade dos 41 remédios do Farmácia Popular

Denúncia da PGR contra Bolsonaro apresenta ‘aparente articulação para golpe de Estado’, diz Barroso

Mudança em lei de concessões está próxima de ser fechada com o Congresso, diz Haddad

Governo de São Paulo inicia extinção da EMTU