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'O crime se sofistica e o Estado deve se sofisticar contra ele', diz Haddad sobre megaoperação

Núcleo contra o crime organizado, criado em janeiro, coordenou ofensiva inédita em operação nesta quinta-feira, 28

Publicado em 28 de agosto de 2025 às 12h16.

Última atualização em 28 de agosto de 2025 às 13h01.

"É uma grande ação, a maior da história do Brasil e inaugura uma forma nova de trabalhar", declarou Fernando Haddad, ministro da Fazenda, durante coletiva sobre megaoperação contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), deflagrada na manhã desta quinta-feira, 28.

A ação é a junção de três operações: Carbono Oculto, da Receita Federal e Ministério Público (MP), e Quasar e Tank, da Polícia Federal, e investiga um esquema criminoso no setor de combustíveis comandado por integrantes da facção criminosa PCC. Até o momento, cinco pessoas foram presas, 21 fundos de investimento e R$ 1 bilhão foram bloqueados, 141 veículos e R$ 300 mil apreendidos e 1,55 mil veículos sequestrados.

Haddad disse que essa operação é obra de decisão política. "Em 2023, criamos equipes para fraudes estruturadas no Ministério da Fazenda, no âmbito da Receita Federal.” Para o ministro, conforme “o crime se sofistica”, o Estado também tem de sofisticar sua ação contra o crime. “Contra o crime organizado, precisamos de uma resposta organizada, e não é possível fazer isso sem o envolvimento de todos os órgãos envolvidos.”

O ministro ainda afirmou que a escolha de atacar o setor de combustíveis se deve pela importância do segmento nesse tipo de esquema. Segundo Haddad, a operação favorece o consumidor e os empresários corretos do setor, os mais prejudicados quando esse tipo de esquema entra em vigor.

Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, contou que, em 17 de janeiro de 2025, foi criado um Núcleo de Combate ao Crime Organizado. "Entendemos que o combate ao crime organizado deveria ter uma visão sistêmica, abrangente, e não era mais suficiente combater por operações policiais", afirmou.

Durante coletiva de imprensa, Lewandowski confirmou que esta é apenas a primeira grande operação conjunta e o núcleo trabalha para desmantelar outros setores tomados pelo crime

O alvo da ação é uma rede que movimentou mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, infiltrada em toda a cadeia de combustíveis e no sistema financeiro nacional.

As investigações revelaram que o grupo criminoso controlava desde a importação até a venda ao consumidor final, usando centenas de empresas para sonegar tributos, adulterar combustíveis e lavar dinheiro. Segundo a Receita Federal, só em créditos tributários federais já foram constituídos mais de R$ 8,67 bilhões contra os envolvidos.

Como funcionava o esquema que movimentou R$ 52 bilhões

Um dos mecanismos identificados foi o desvio de metanol importado para adulterar gasolina, prática que prejudicava diretamente consumidores e ampliava os lucros ilícitos dos postos. Mais de mil postos em dez estados participaram do esquema, recebendo recursos em espécie ou via maquininhas para movimentar o dinheiro do crime.

Entre 2020 e 2024, esses postos registraram R$ 52 bilhões em transações, mas declararam tributos muito abaixo do esperado. Parte dos locais nem mesmo funcionava, mas mesmo assim receberam R$ 2 bilhões em notas fiscais simuladas.

Esquema criminoso movimentou mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024 (Divulgação/Receita Federal)

Fintech atuava como “banco paralelo”

O núcleo financeiro do esquema era uma fintech de pagamentos, que operava como verdadeiro banco clandestino da organização criminosa. Entre 2020 e 2024, a empresa movimentou R$ 46 bilhões de forma não rastreável, explorando brechas regulatórias.

A instituição chegou a receber mais de 10,9 mil depósitos em espécie, somando R$ 61 milhões, o que, de acordo com a PF, é uma operação incompatível com sua natureza que deveria apenas registrar dinheiro escritural. Os recursos eram concentrados em “contas-bolsão”, dificultando a identificação dos clientes finais.

Segundo a Receita Federal, essa fragilidade no monitoramento foi ampliada após a revogação, em 2025, de normas que obrigavam fintechs a reportar movimentações financeiras pela e-Financeira.

Blindagem em fundos de investimento

O dinheiro ilícito era reinserido na economia por meio de pelo menos 40 fundos de investimento, que somam patrimônio de R$ 30 bilhões. A maior parte funcionava como fundos fechados com apenas um cotista — normalmente outro fundo — criando diversas camadas de ocultação.

Esses fundos, segundo a Receita Federal, controlavam um terminal portuário, seis usinas de álcool, 1,6 mil caminhões, mais de 100 imóveis e propriedades de luxo, como fazendas no interior de São Paulo e uma casa em Trancoso/BA avaliada em R$ 13 milhões.

A Receita aponta indícios de que as administradoras dos fundos tinham ciência do esquema e colaboraram para esconder os verdadeiros beneficiários, deixando de repassar informações obrigatórias ao Fisco.

Operação nacional

Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em 350 alvos em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional também entrou com ações para bloquear mais de R$ 1 bilhão em bens, incluindo imóveis e veículos.

A operação contou com a participação de cerca de 350 servidores da Receita Federal, além de integrantes do Ministério Público de São Paulo, Ministério Público Federal, Polícia Federal, Polícias Civil e Militar, Secretaria da Fazenda de São Paulo, ANP e Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo.

Segundo a Receita, o nome “Carbono Oculto” faz referência tanto ao elemento químico presente em combustíveis quanto à ocultação de recursos ilícitos no sistema financeiro.

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