Agência de notícias
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 10h41.
A queda de um avião de pequeno porte matou quatro pessoas na noite desta terça-feira, 23, em Aquidauana, no Pantanal, em Mato Grosso do Sul. Entre as vítimas, estavam um dos arquitetos mais renomados do mundo e dois cineastas brasileiros.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave não estava autorizada a realizar voos noturnos, por não dispor dos equipamentos obrigatórios. O acidente é investigado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
O acidente ocorreu ao lado da pista de pouso da fazenda Barra Mansa, área turística localizada na zona rural de Aquidauana (MS).
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o avião arremeteu — interrompeu o procedimento de pouso e retomou o voo — antes da queda e explodiu ao atingir o solo.
Quatro pessoas morreram, incluindo o arquiteto chinês Kongjian Yu, criador do conceito de "cidades-esponja", e dois cineastas brasileiros, Luiz Ferraz e Rubens Crispim Jr., além do piloto Marcelo Pereira de Barros.
O arquiteto e os cineastas estavam na região para a gravação de um documentário. Os corpos das quatro vítimas foram carbonizados.
A aeronave, de PT-BAN, é um modelo Cessna 175, fabricada em 1958, com capacidade para quatro pessoas e propriedade particular de Marcelo de Barros.
Segundo dados da Anac, o avião estava autorizado a voar apenas sob regras visuais, e durante o dia. Em 2019, o avião chegou a ser apreendido durante uma operação da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul contra táxi aéreo clandestino. A aeronave, que operava com o certificado de aeronavegabilidade cancelado, foi devolvida ao proprietário e regularizada em fevereiro deste ano.
O avião perdeu altitude e caiu a cerca de 100 metros da cabeceira da pista de pouso, por volta de 18h30 de terça-feira. Trabalhadores de uma fazenda avistaram a fumaça e tentaram conter as chamas utilizando um trator e um caminhão-pipa. A operação de resgate durou cerca de nove horas e contou com o apoio de três militares e uma viatura. Nenhum dos ocupantes da aeronave sobreviveu.
O 4º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), vinculado ao Cenipa, foi acionado e conduz as investigações. Até o momento, as circunstâncias exatas da queda permanecem indefinidas. Ainda não foi possível determinar se o acidente foi causado por falha mecânica, pane no motor, problema estrutural, falha de manutenção ou outro fator técnico.
A principal linha de investigação busca entender o que levou o piloto a realizar uma arremetida instantes antes da queda da aeronave. Tal manobra é normalmente adotada quando o pouso é considerado inseguro. Os peritos trabalham para identificar se houve algum indicativo de risco durante a aproximação do avião ao solo.
Uma hipótese inicial, levantada por testemunhas e repassada ao Corpo de Bombeiros, sugeria que uma manada de queixadas (porcos-do-mato) teria invadido a pista, forçando o piloto a abortar o pouso. Entretanto, essa possibilidade já foi descartada pela Polícia Civil do Mato Grosso do Sul.
Antes de embarcar para a viagem ao Pantanal, na qual sofreu o acidente, o arquiteto e paisagista Kongjian Yu esteve em São Paulo, onde deu uma palestra de duas horas na abertura da Bienal de Arquitetura. Na ocasião, conversou com os presentes e mostrou interesse pelo território brasileiro.
"Era uma pessoa super simples, curioso sobre como as coisas funcionavam aqui. Ele estava o tempo inteiro muito animado para ir para o Pantanal. Justamente porque ele mostrava em seu trabalho muitas fotos aéreas. Acho que ele estava interessado em analisar essa paisagem", diz Raquel Schenkman, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP).
Ao longo da viagem, Yu visitou prefeituras e locais como a Secretaria de Infraestrutura Urbana e de Obras de São Paulo e conheceu o secretário Marcos Monteiro.
"Ele tinha interesse em fazer parcerias, provavelmente negócios, projetos aqui, além de uma curiosidade imensa pela geografia e a dimensão do território brasileiro", afirmou a presidente da Bienal.
Na palestra, Yu mostrou detalhes de seu trabalho, defendendo, entre outras coisas, que as cidades fossem pensadas para absorver as águas da chuva, e não com foco excessivo em drenagem.
"Ele estava super disponível a responder perguntas", disse. "Ele mostrou vários exemplos de parques, sempre enfatizando o antes e depois de cada área. Em tudo dizia “one year”, “one year” (um ano), mostrando que é possível realizar mudanças rápidas."