Brasil

OCDE: capacidade do Brasil de investigar suborno estrangeiro está ameaçada

Entidade se preocupa com a aprovação de um projeto de lei sobre abuso de autoridade que introduzisse uma definição muito ampla sobre a questão

OCDE: entidade se manifestou após decisão de interromper todas as investigações e processos criminais no país com base nos relatórios da Unidade de Inteligência Financeira (antigo Coaf) e de outros órgãos (Antoine Antoniol/Bloomberg)

OCDE: entidade se manifestou após decisão de interromper todas as investigações e processos criminais no país com base nos relatórios da Unidade de Inteligência Financeira (antigo Coaf) e de outros órgãos (Antoine Antoniol/Bloomberg)

R

Reuters

Publicado em 21 de outubro de 2019 às 13h10.

São Paulo — A capacidade do Brasil de investigar e processar casos de suborno estrangeiro está seriamente ameaçada, avaliou Grupo de Trabalho sobre Suborno da OCDE, que anunciou visita ao país para reforçar mensagem sobre a importância desses processos.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico informou em comunicado que uma missão será enviada "assim que possível em novembro" para reuniões com funcionários do alto escalão do governo.

A ideia, segundo o comunicado, é reforçar a mensagem de que a capacidade das autoridades públicas brasileiras de investigar e processar o suborno estrangeiro deve ser preservada para garantir que o Brasil siga comprometido em cumprir com as obrigações que assumiu nos termos da Convenção da OCDE.

"A decisão segue a preocupação do Grupo de Trabalho em ações recentes tomadas pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado brasileiro que podem afetar seriamente a capacidade do Brasil de cumprir plenamente suas obrigações sob a Convenção Anticorrupção da OCDE", disse a organização em nota.

Segundo a OCDE, o Grupo de Trabalho sobre Suborno da entidade emitiu em julho uma declaração pública destacando sua preocupação com a aprovação de um projeto de lei sobre abuso de autoridade que introduzisse uma definição muito ampla sobre a questão, desencorajando processos e investigações de combate à corrupção no Brasil e no exterior.

No início de setembro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto de lei de abuso de autoridade com vetos. Dias depois, deputados e senadores derrubaram 18 dos 33 pontos vetados.

"A decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal de interromper todas as investigações e processos criminais no país com base nos relatórios da Unidade de Inteligência Financeira (antigo Coaf) e de outros órgãos administrativos sem autorização judicial prévia, assim como as tentativas de restringir a capacidade das autoridades fiscais de identificar, denunciar e investigar casos de corrupção de funcionários públicos estrangeiros e lavagem de dinheiro, está entre as medidas e decisões preocupantes que continuarão sendo monitoradas com cautela pelo Grupo de Trabalho sobre Suborno", destacou a OCDE.

Neste mês, o Sindifisco, que representa os auditores fiscais da Receita Federal, protocolou no Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (Gafi), em Paris, uma representação denunciando medidas que classifica como "retrocesso" do país na área.

O país pleiteia ser aceito como membro da OCDE. No final de agosto, uma carta enviada pelo governo norte-americano à entidade manifestando apoio à entrada da Argentina e da Romênia na organização, sem citar o Brasil, gerou mal-estar ao levantar dúvidas sobre o comprometimento do governo dos EUA com o apoio à candidatura brasileira.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraImpostosOCDE

Mais de Brasil

Recuperação da popularidade de Lula perde fôlego e reprovação chega a 40%, diz Datafolha

Itamaraty entrega a autoridades italianas pedido de extradição de Carla Zambelli

Moraes diz em julgamento no STF que redes sociais permitem ações 'criminosas' contra crianças

MP do governo prevê mudança em cargos da Receita Federal com custo de R$ 12,9 milhões por ano