Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 11h29.
Uma chuva torrencial tomou a cidade de Santos nesta quarta-feira, 6, mesmo dia em que entra em vigor a tarifa de importação de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
Em um cenário de tempo inclemente e expectativas intensas, as empresas se apressaram para embarcar mercadorias já negociadas com os americanos. Apesar de fora da lista de isenção, algumas dessas mercadorias não devem tarifadas de imediato, com prazo para chegar até 5 de outubro sem sobretaxa, segundo as regras do governo dos EUA.
A leitura de pessoas envolvidas na administração da Autoridade Portuária de Santos (APS), que responde por 30% da média da corrente comercial do Brasil e tem os EUA como segundo maior cliente, ouvidas pela EXAME, é que os últimos dias representaram uma segunda corrida para envio de produtos.
A aplicação da tarifa de 50% gerou um aumento significativo nos embarques, com empresas buscando antecipar a exportação para evitar os custos adicionais. Esse movimento gerou um fluxo de cargas maior, com destaque para produtos fora da lista de isenção, como o café e carne.
Segundo a ordem executiva do governo americano, as mercadorias fora da exceção podem não ser tarifadas nesse primeiro momento se atender a duas condições: terem saído do porto inicial antes de 6 de agosto e chegado ao território americano até 5 de outubro.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços estima que, do total de US$ 40,4 bilhões em exportações, US$ 14,5 bilhões (ou 35,9%) estarão sujeitos à tarifa adicional de 50%.
No início de julho, houve um aumento de 96% nos embarques de proteína animal por contêineres e aumento de 17% na exportação de café. O movimento foi mais intenso nas duas primeiras semanas, o que foi considerado uma primeira corrida pela autoridade portuária.
O resultado dessa movimentação intensa foi o recorde de mais de 17 milhões de toneladas movimentadas em julho, um recorte na história do complexo portuário, que tem 55 terminais privados.
A expectativa era que o cenário de aumento de tarifas intensificasse ainda mais a busca por embarques, o que foi confirmado na segunda onda observada na última semana de julho e início de agosto.
Nesta segunda onda, que começou na semana passada e se encerrou hoje, foi observado um volume significativo de envio de veículos e contêineres, alguns com café — item que representa 4,7% do total exportado para os EUA e que ficou de fora da lista de isenção do governo americano.
Um desafio adicional foi o porto parado por dois dias devido à ressaca na última semana, o que aumentou a ansiedade das empresas para embarcar os produtos antes do prazo.
Os dados do Porto mostram que a antecipação de embarques gerou um intenso fluxo de navios rumo à Europa e aos EUA, com destaque para cargas agrícolas e industriais. Entre os destaques do mês estão os granéis sólidos, com crescimento de 10%, totalizando 900 mil toneladas embarcadas.
A movimentação de contêineres cresceu 4%, chegando a 200 mil toneladas, enquanto as cargas soltas tiveram alta de 9%, com 85 mil toneladas movimentadas. A estimativa para os granéis líquidos também é de crescimento de cerca de 10%, com dados consolidados ainda em processamento.
"O crescimento no volume de cargas demonstra que a infraestrutura dos portos brasileiros é capaz de suportar esses aumentos pontuais verificados em julho. O Ministério de Portos e Aeroportos está trabalhando para ampliar a capacidade e eficiência operacional dos portos com os leilões que estamos preparando para este ano, como o do canal de acesso ao Porto de Santos e o do terminal de contêineres, Tecon Santos 10", afirmou o ministro Silvio Costa Filho, em nota.