Palácio do Planalto: além de oferecer crédito para empresas afetadas pelo tarifaço, governo quer tirar do papel programas para oferecer gás para famílias de baixa renda, programa de crédito para reformas e linhas de financiamento para compra de motos e carros para trabalhadores de aplicativos. (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 28 de julho de 2025 às 17h47.
Última atualização em 28 de julho de 2025 às 18h40.
A avaliação interna do governo, segundo técnicos da equipe econômica e da ala política ouvidos pela EXAME, é de que o tarifaço de 50% aos produtos brasileiros que tende a ser formalizado em 1º de agosto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não deve afetar negativamente a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — pelo menos no curto prazo.
Auxiliares do petista confidenciaram que os estados mais prejudicados são Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Os estados do Sul são redutos bolsonaristas onde Lula tem maior rejeição. Com isso, avaliam auxiliares de Lula, o risco de danos à popularidade é reduzido.
A situação é diferente no caso de São Paulo, berço político do petista e estado em que o presidente teve um crescimento de votos do primeiro para o segundo turno nas eleições de 2022.
Os quatro estados concentram boa parte da fabricação de produtos exportados para os Estados Unidos, mas não serão “abandonados” pelo governo, segundo auxiliares de Lula. E essa é a aposta para não perder a popularidade que Lula já tem nesses locais.
Segundo técnicos das alas econômica e política, linhas de crédito serão oferecidas pelos bancos públicos para socorrer as empresas e, com isso, evitar demissões em massa.
Além disso, o governo trabalhará para abertura de novos mercados ou para reforçar as exportações para países que já são compradores naturais dos produtos em questão — por exemplo, ampliar laços comerciais com países amigos.
Outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará e Espírito Santo, sofrerão com o tarifaço. Nesse caso, técnicos do governo entendem que a oferta de crédito para as empresas manterá os empregos em risco — e a aprovação do presidente, que melhorou nas últimas semanas.
O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Nordeste, o Banco da Amazônia, o Banco do Brasil e a Caixa oferecerão aos clientes pessoa jurídica linhas de crédito específicas para empresas afetadas pelo tarifaço, segundo técnicos do governo.
Os prazos, eventuais carências, as taxas de juros e o montante total oferecido ainda serão definidos em reunião nesta semana entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente Lula e o vice-presidente, Geraldo Alckmin.
As conversas preliminares apontavam a oferta de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões em crédito para as empresas.
O valor pode ser ainda maior, a depender da necessidade das empresas, afirmaram técnicos econômicos.
Durante evento na última sexta-feira, 25, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que o banco público está pronto para apoiar as empresas que sofram perdas com as medidas tarifárias do governo dos Estados Unidos.
“O BNDES vai estar presente, vai apoiar, como nós fizemos recentemente no Rio Grande do Sul”, afirmou.
Ele também disse que essa é a atuação do BNDES, em todos os momentos difíceis recentes da história do Brasil.
“Naquela tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, o BNDES colocou R$ 29 bilhões. O que aconteceu? A economia cresceu 4,9%. O desemprego foi o menor da história, 4,1%, e o Brasil cresceu 3,4%. Então, o Rio Grande do Sul se recuperou porque teve crédito, teve suspensão do pagamento de giro, teve apoio para capital, para investimento, para reconstrução. E era uma tragédia de grande dimensão”, afirmou.
Presidente Lula em cerimônio no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira, 28 - Crédito: Ricardo Stuckert/PR (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)
O governo também aposta que o excedente de produção, sobretudo de alimentos como carne, frutas e café, deve ajudar a desacelerar a inflação.
Uma queda mais acentuada da inflação, segundo técnicos da equipe econômica, pode contribuir para que o Banco Central (BC) inicie a queda de juros no fim de 2025.
Parte significativa do mercado apostava em uma redução da Selic somente a partir de 2026.
A estratégia de Lula de enfrentamento ao tarifaço, segundo auxiliares, também passa por tirar do papel três programas já anunciados pelo presidente, mas que ainda não foram formalizados.
Com isso, Lula fará afagos à classe média e aos mais pobres em meio ao imbróglio político e comercial com os Estados Unidos.
Entre as medidas, o governo publicará uma Medida Provisória (MP) para criar o programa Gás para Todos.
A ideia é beneficiar 17 milhões de famílias de baixa renda, com a oferta de até seis botijões por ano para famílias com pelos três pessoas e quatro botijões para famílias de duas pessoas. A previsão é de que o governo gaste R$ 2,6 bilhões com o programa em 2025 e outros R$ 5 bilhões no próximo ano.
Além disso, o governo quer lançar um programa para compra de carros e motocicletas para trabalhadores de aplicativos, que tem forte ligação com o bolsonarismo.
Uma linha de R$ 10 bilhões deve ser oferecida por meio de um fundo gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Os detalhes sobre as taxas de juros e os prazos de pagamento ainda serão definidos pelo governo.
Além disso, o Ministério das Cidades oferecerá uma linha de crédito para que as famílias façam pequenas reformas nos seus domicílios.
A ideia do governo é oferecer é uma linha de até R$ 5 mil para famílias de baixa renda e outra de até R$ 30 mil para famílias de classe média. O governo quer lançar todos os programas em agosto.