Brasil

Parada LGBTI do Rio, a mais antiga do país, chega aos 40 anos

A manifestação na orla do Rio é a mais antiga da parada do país e foi iniciada em 1995 pelo Grupo Arco-Íris, que ainda é responsável pela organização

Parada LGBTI, no Rio: 40ª edição do evento aconteceu neste domingo 22 (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Parada LGBTI, no Rio: 40ª edição do evento aconteceu neste domingo 22 (Tomaz Silva/Agência Brasil)

AB

Agência Brasil

Publicado em 22 de setembro de 2019 às 18h10.

A Parada do Orgulho LGBTI [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Intersexuais] de Copacabana comemora neste domingo 22 os 40 anos no Brasil e os 50 anos da Revolta de Stonewall, considerada um marco histórico da luta por diversidade em todo o mundo. A manifestação na orla do Rio é a mais antiga da parada do país e foi iniciada em 1995 pelo Grupo Arco-Íris, que ainda é responsável pela organização.

Realizada em 1969, em Nova York, a Revolta de Stonewall ocorreu em resposta a atuação policial contra frequentadores do bar Stonewall Inn, onde LGBTIs da cidade costumavam se encontrar. A luta pelo respeito à diversidade sexual em Nova York teve eco em todo o mundo e uma das lideranças do movimento, a travesti Marsha P. Johnson, está entre as homenageadas na parada do Rio.

No Brasil, a lista de homenageados inclui nomes como o de João W. Nery, primeiro homem transexual a passar por cirurgias de redesignação sexual no país, e o de Rosely Roth, que liderou o movimento de lésbicas, que frequentavam o Ferros Bar, em São Paulo.

Presente desde a primeira edição da parada, a travesti Jane di Castro cantou o Hino Nacional e foi uma das homenageadas na manifestação. "Vivi algo muito pior que Stonewall", lamentou Jane, que contou ter perdido muitos amigos e que se orgulha por ter participado da geração que abriu caminho para artistas transexuais e drags que fazem sucesso hoje.

Sob chuva fina e vento, uma multidão se juntou aos trios elétricos da parada, que conta neste ano com atrações musicais como Pabllo Vittar, Lexa e MC Rebecca. O clima não desanimou o público, que dançou músicas de diversos ritmos. Coordenador e fundador da parada, Claudio Nascimento ressaltou que o Grupo Arco-Íris enfrentou grandes dificuldades para realizar a parada neste ano.

"Há três semanas, a gente não sabia se teria um trio elétrico", disse. Ele disse que contou com o apoio de 400 voluntários, sendo 68% pessoas de periferias. "Isso mostra que está acontecendo um grito também da periferia, do subúrbio, dizendo que quer ter vez, voz e visibilidade. Por mais que aconteça em Copacabana, ela não é da zona sul. Ela atravessa a cidade e pega o estado todo."

O tema da parada neste ano foi "Pela democracia, liberdade e direitos: ontem, hoje e sempre", com mensagens pela liberdade de expressão, artística e de afeto. Dividida em alas, a manifestação trouxe bandeiras como a prevenção do suicídio, a luta antirracista e a visibilidade específica das pessoas bissexuais, do movimento trans e das mulheres lésbicas. Também foram pautadas na parada a importância da liberdade religiosa, o direito à moradia, a participação dos LGBTIs no esporte e a necessidade de a cultura ser preservada como espaço de diversidade e visibilidade.

Representante do movimento de lésbicas na Baixada Fluminense, Angélica Oliveira defendeu a importância de dar visibilidade a cada um dos grupos que compõem a população LGBTI e pediu que as minorias lembrem das marcas que apoiam a causa quando forem consumir.

"Vamos consumir aqueles que nos abraçam, que vestem as nossas camisas e não têm vergonha das nossas cores", disse. "Não somos só LGBTs, somos profissionais, pais, mães, tios e tias."

A defesa da vida da população negra também fez parte da manifestação. O ato homenageou a vereadora Marielle Franco, que era LGBTI e foi assassinada em março do ano passado. Também foi lembrada a menina Ágatha Vitória, de 8 anos, que foi assassinada na sexta-feira 20 com um tiro nas costas, no Complexo do Alemão.

A tentativa do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de recolher livros na Bienal do Livro também foi alvo de críticas durante a manifestação, que defendeu a liberdade artística e a visibilidade da população LGBTI. No início de setembro, o prefeito considerou que uma história em quadrinhos com personagens homossexuais era imprópria e determinou o recolhimento de exemplares na feira literária, o que criou uma batalha judicial que chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Representações consulares de 15 países como Canadá, França, Noruega, Alemanha e Bélgica participaram da parada, pela primeira vez, em uma ala chamada "Solidariedade Internacional".

O cônsul-geral da França no Rio de Janeiro, Jean Paul Guihuamé, afirmou que a ação inclui "países que têm a diversidade como valor".

Acompanhe tudo sobre:DiversidadeGaysLGBTParada gay

Mais de Brasil

Quais são os estados com mais evangélicos no Brasil? Veja lista do Censo 2022

Primeira Turma do STF tem maioria para manter condenação de Zambelli por invasão a sistema do CNJ

Rumble e Trump Media processam Moraes nos EUA e pedem danos compensatórios

Lula recebe título de doutor 'honoris causa' de universidade francesa