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Reserva extrativista sofre com extração ilegal de madeira

A Reserva Extrativista Gurupá-Melgaço, no leste do Pará, resume muitos dos problemas enfrentados pelas unidades de conservação


	Desmatamento na Amazônia: criada em 2006, a Resex, com 145 mil hectares (o equivalente a 145 mil campos de futebol), sofre com a extração ilegal de madeira
 (Getty Images)

Desmatamento na Amazônia: criada em 2006, a Resex, com 145 mil hectares (o equivalente a 145 mil campos de futebol), sofre com a extração ilegal de madeira (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2014 às 18h55.

Gurupá – A Reserva Extrativista (Resex) Gurupá-Melgaço, no leste do Pará, onde ocorre hoje (27) e amanhã o 2º Chamado da Floresta, evento que deve reunir mil lideranças extrativistas dos nove estados da Amazônia Legal, resume muitos dos problemas enfrentados pelas unidades de conservação. Criada em 2006, a Resex, com 145 mil hectares (o equivalente a 145 mil campos de futebol), sofre com a extração ilegal de madeira, com a falta de um plano de manejo que permita a exploração sustentável dos recursos naturais e com a ausência de políticas públicas.

Do alto, é possível ver diversas clareiras com árvores caídas, toras empilhadas e estradas abertas pelos madeireiros no meio da mata fechada, segundo denúncia dos moradores da Resex. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Agroextrativistas de Gurupá, Heraldo Pantoja da Costa, conta que a entidade vem denunciando desde 2008 a presença de madeireiros ilegais na região.

O barulho das motosserras e o vaivém de caminhões e embarcações carregados de madeira serrada no Rio Pucuruí não passam despercebidos pelos moradores. De acordo com o presidente do sindicato, a madeira é processada dentro da Resex Gurupá-Melgaço em serrarias ilegais. “O movimento sindical tem trabalhado para segurar essa floresta, mas não é fácil por causa da má gestão do ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], das políticas públicas que não chegam, da invasão de madeireiros”.


As cerca de 800 famílias da reserva vivem da produção de açaí, palmito, farinha de mandioca e pescado. Um dos líderes da Resex, Mateus Souza de Carvalho, de 21 anos, diz que a ausência do Estado propicia que alguns moradores sejam cooptados por madeireiros e vendam árvores entre R$ 50 e R$ 100 cada. “Tirar milhares de árvores como os madeireiros fazem, como vai ficar o meio ambiente de Gurupá? [Essa situação] deixa os madeireiros mais ricos e a gente mais pobre. Se continuar nesse ritmo, do que vamos viver daqui a 20 anos?”, pergunta Carvalho.

A ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, ressaltou que a exploração ilegal de madeira em reservas extrativistas da Amazônia é objeto de investigação do governo federal. “Isso [a extração ilegal de madeira] tem um ônus para as populações que vivem lá, joga essa população na pobreza e exclui, além da degradação ambiental”, disse ela.

O presidente do ICMBio, autarquia vinculada ao MMA, Roberto Vizentin, informou que a extração ilegal de madeira antes da criação das Resex era muito maior. “O fato de ter criado as reservas extrativistas assegurou o território a essas populações e uma condição de assumir o controle da área e planejar o uso dos recursos. A extração ilegal de madeira que ainda persiste é uma realidade e vamos ter uma ação mais enérgica de controle com os mecanismos de fiscalização e ação policial”, disse.

Ele ressaltou que o governo pretende apoiar as populações extrativistas a fazer a transição para uma economia de base sustentável. “Se as famílias não têm alternativa de renda, elas ficam mais vulneráveis à ação desses madeireiros ilegais. Reconhecemos o problema e estamos apresentando no 2º Chamado da Floresta um pacote de ações muito concretas de apoio ao extrativismo”, disse Vizentin.

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