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Reúso e lavagem de garrafas com metanol são foco de investigação da Polícia Civil em SP

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que a principal linha de investigação da Polícia Civil envolve o uso de metanol na higienização de garrafas em produções clandestinas

Paloma Lazzaro
Paloma Lazzaro

Estagiária de jornalismo

Publicado em 3 de outubro de 2025 às 20h56.

Enquanto casos de intoxicação por metanol crescem em no Brasil, a Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo lançaram forças-tarefa de investigação. A principal linha de investigação em São Paulo é que a contaminação por metanol ocorre devido ao uso do químico para higienizar garrafas, conforme nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP SP) desta sexta-feira, 3.

O reúso inadequado de garrafas é apontado como parte essencial da cadeia por trás de bebidas falsificadas, segundo Rodrigo Oliveira, CEO da startup de logística reversa Green Mining, disse à EXAME. Até o momento, a maioria dos casos suspeitos de intoxicação por metanol foi atribuída ao consumo de bebidas clandestinas, segundo investigações preliminares.

Investigação da Polícia Civil

Em nota publicada nesta sexta-feira, 3, a SSP SP afirma que "equipes têm feito operações diárias em vários locais para fiscalizar a venda de bebidas alcoólicas e rastrear a origem dos produtos falsificados."

"Uma das linhas de investigação é de que a contaminação pode ter acontecido no momento da limpeza dos vasilhames com metanol", diz a nota. Mais de 2.500 garrafas foram apreendidas nesta semana e nove estabelecimentos foram fechados.

Os produtos apreendidos pela Polícia Civil são direcionados à Polícia Científica, que cuida da elaboração dos laudos por meio de exames periciais.

"Estes exames são feitos a partir da requisição da autoridade presidente do inquérito, geralmente o delegado do caso. Quando ele solicita e envia o material, este é analisado pelos peritos criminais", disse a Polícia Científica. As garrafas vão para o Núcleo de Documentoscopia para análise externa, assim como lacres, selos e rótulos. Depois, seguem para o Núcleo de Química para análise do conteúdo. "Após o processo de análise, são emitidos os laudos que são enviados diretamente ao delegado que requisitou", afirmou a corporação.

Sucateiros especializados em garrafas

"Só existe bebida falsificada se foi reutilizada uma garrafa. Não se fabrica uma garrafa nova para a falsificação", explica Rodrigo Oliveira.

A GreenMining faz a reciclagem de garrafas, processo no qual todas são quebradas. Ele diz que donos de bares e restaurantes não vendem garrafas, afinal, elas são lixo para eles. A própria startup faz a coleta em alguns estabelecimentos.

Oliveira relata que a empresa é frequentemente abordada por operadores de compra de garrafas."Já vieram falando 'olha, não quebra suas garrafas, que eu compro'. Nunca vendemos, porque reciclagem é material quebrado. Eles compram por um valor alto e não sabemos para onde vai. O ponto é justamente esse: existem muitos fornecedores nessa cadeia de sucateiros especializados em garrafas não-retornáveis, que fornecem as garrafas para os falsificadores".

Na cadeia produtiva de bebidas falsificadas, os "garrafeiros" oferecem muito mais dinheiro pelas garrafas inteiras do que o preço por quilo do vidro para reciclagem. O preço do vidro quebrado no mercado formal da reciclagem varia entre R$ 0,06 e R$ 0,10 o quilo. Enquanto isso, os sucateiros chegam a oferecer R$ 2 a R$ 5,00 por uma garrafa intacta.

A higienização das garrafas

Segundo a linha investigativa da Polícia Civil, o metanol contaminou as bebidas adulteradas no momento de lavagem das garrafas usadas.

"Acho até curioso o cuidado de um falsificador em lavar uma garrafa", comenta Oliveira. "Chega a ser ingênuo eles usarem um produto tóxico e de difícil acesso para a higienização das garrafas. É um produto tóxico, que mesmo depois de lavado ainda deixa resquícios na garrafa. O problema são os resquícios."

A EXAME solicitou mais detalhes da investigação da Polícia Civil. Até o momento, não houve atualizações.

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