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Roubo e furto de celulares caem no Brasil, mas estelionato dispara, chegando a 4 casos por minuto

Com o crescimento dos golpes digitais, o Brasil vê uma migração de crimes do físico para o virtual, alertam especialistas

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 24 de julho de 2025 às 09h58.

Última atualização em 24 de julho de 2025 às 10h02.

O Brasil registrou mais de 2,1 milhões de casos de estelionato em 2024, uma média de mais de 4 casos por minuto, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira, 24.

Esse aumento de mais de 400% desde 2018 indica uma migração dos crimes da esfera física para o mundo digital, um fenômeno que preocupa especialistas em segurança.

Em contrapartida, os roubos e furtos de celulares diminuíram no país, o que reforça a ideia de que o crime virtual está substituindo os tradicionais delitos patrimoniais.

Os golpes digitais e sua crescente complexidade

De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os estelionatos digitais, como os golpes bancários e os praticados por meio de aplicativos de relacionamento, já representam cerca de 12% de todos os estelionatos registrados no Brasil. No entanto, o número pode estar subnotificado devido à inclusão desse tipo penal apenas em 2021 e à falta de registros detalhados em alguns estados, como São Paulo e Rio de Janeiro. Essa nova modalidade de crime é mais difícil de rastrear, mas seu impacto é claro: criminosos estão cada vez mais sofisticados na aplicação de golpes online.

Leonardo Carvalho, pesquisador sênior do Fórum, afirma que as pessoas estão migrando para o mundo virtual, o que facilita a atuação de criminosos. “Usamos o celular para tudo: pedir comida, pagar contas e até nos relacionarmos socialmente. Essa mudança no comportamento cria oportunidades para fraudes mais complexas”, destaca Carvalho.

A queda de roubos e furtos de celulares no Brasil

Apesar do aumento no estelionato digital, os roubos e furtos de celulares diminuíram significativamente. Em 2024, o país registrou 850.804 ocorrências, uma redução de 12% em relação ao ano anterior. Isso indica que muitos criminosos podem estar migrando para o campo digital em busca de novos alvos, principalmente após o roubo de aparelhos. Entretanto, mesmo com a queda, o roubo de celulares continua representando um problema significativo, com uma taxa de 431 ocorrências a cada 100 mil habitantes. Estados como o Rio de Janeiro e São Paulo ainda apresentam altos índices desses crimes.

São Paulo e a concentração de roubos e furtos de celulares

São Paulo concentra a maior parte dos roubos e furtos de celulares no país, com 31,4% de todas as ocorrências registradas. A cidade de São Paulo, por exemplo, responde por 18,5% desses crimes, embora represente apenas 5,6% da população brasileira. A cidade possui uma taxa alarmante de 1.405,4 casos a cada 100 mil habitantes, indicando a persistência desse problema, mesmo com a queda nas estatísticas gerais.

Isabelle Melgaço Gonzaga, uma das vítimas desse tipo de crime, teve seu celular furtado em São Paulo enquanto aguardava um carro de aplicativo. Ela conta que, após a perda do aparelho, os criminosos conseguiram realizar transações bancárias, embora ela tenha conseguido bloquear os aplicativos a tempo.

O aumento dos golpes e a falta de resposta judicial

Apesar do crescimento dos estelionatos, a resposta judicial no Brasil é insatisfatória. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, em 2024, o Judiciário recebeu 51.793 novos casos de estelionato, representando apenas 2,4% do total de crimes registrados. Isso se deve à complexidade das investigações, já que muitos estelionatos envolvem vítimas e criminosos localizados em estados diferentes, além da falta de especialização das forças policiais em crimes digitais.

Samira Bueno, diretora executiva do Fórum de Segurança Pública, destaca que, embora haja esforços para reduzir crimes como o roubo de celulares, o estelionato digital se expandiu de forma impressionante. A “profissionalização do golpe” é um fenômeno crescente, com criminosos organizados, como facções como o PCC, também se beneficiando dos golpes digitais.

O golpe aplicado em Claudia Carneiro: um exemplo do estelionato digital

Claudia Carneiro, uma aposentada de 60 anos, foi vítima de um golpe que lhe custou R$ 78 mil. A fraude começou com uma ligação de um suposto funcionário de um banco, que se apresentou como parte de uma verificação de segurança. No fim da ligação, a fraude resultou em diversas transferências via Pix, empréstimos e o resgate de seus investimentos. Embora tenha registrado boletim de ocorrência, Claudia enfrenta uma difícil batalha para reaver seu dinheiro, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelas vítimas de estelionatos.

[Grifar] A falta de punição eficaz e a escassez de respostas para as vítimas mostram a complexidade do crime digital e as falhas do sistema de justiça brasileiro.

Cidades com mais roubos e furtos de celulares:

CidadeUFCelulares subtraídosPopulaçãoTaxa% em relação ao total de roubos e furtos% em relação a população brasileira
São LuísMA17.4061.088.057,001.599,701,900,50
BelémPA20.3101.398.531,001.452,202,200,70
São PauloSP169.55611.895.578,001.425,4018,505,60
SalvadorBA35.8802.568.928,001.396,703,901,20
Lauro de FreitasBA3.034217.960,001.392,000,300,10
Porto VelhoRO7.018514.873,001.363,100,800,20
TimonMA2.433182.241,001.335,000,300,10
OlindaPE4.223365.402,001.155,700,500,20
TeresinaPI10.422902.644,001.154,601,100,40
RecifePE17.6861.587.707,001.113,901,900,70

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

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