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Trama golpista: defesas do 'núcleo 4' argumentam que denúncia da PGR não individualizou condutas

Primeira Turma do STF analisa acusação contra integrantes de suposto núcleo de ‘desinformação’

Sessão da Primeira Turma do STF (Antonio Augusto/ STF)

Sessão da Primeira Turma do STF (Antonio Augusto/ STF)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 6 de maio de 2025 às 12h49.

Última atualização em 6 de maio de 2025 às 13h21.

Advogados de acusados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de integrar o "núcleo 4" da trama golpista — conhecido como "núcleo da desinformação"— argumentaram, durante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que a denúncia não individualizou condutas atribuídas a seus clientes. O grupo é suspeito de atuar com táticas de desinformação, desacreditando o sistema eleitoral e atacando autoridades com o propósito de impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, no fim do governo Jair Bolsonaro.

A Primeira Turma analisa se recebe a denúncia em relação ao núcleo que seria responsável pela desinformação, formado por sete pessoas, segundo a PGR. Entre eles, o ex-major do Exército Ailton Barros, o sargento Giancarlo Rodrigues e policial federal Marcelo Bormevet.

Os advogados, na maioria dos casos, insistiram que a denúncia da PGR não apontou uma individualização das condutas de cada um dos acusados. Para embasar essa linha argumentativa, os defensores dizem que a Procuradoria não especificou na denúncia o que exatamente os acusados fizeram, e apontam que há uma extensão de vínculos para que se pudesse imputar a participação de todos em uma organização criminosa — crime pelo qual todos são denunciados.

Representando o major da reserva Ângelo Martins Denicoli, o advogado Zoser Hardman de Araujo afirmou haver excesso acusatório na denúncia, com a tentativa de responsabilização do militar por ato de terceiros, sem a descrição individual da conduta. Segundo ele, as investigações foram baseadas em postagens na internet que induziram a PGR a erro.

— Não podemos dar tratamento diferenciado a personagens que se encontram na mesma situação fática. Éder Balbino fez exatamente a mesma coisa, foi investigado e indiciado, mas não foi, corretamente, denunciado. A situação fática é a mesma, mas um é denunciado e outro não é — disse.

Representando o militar reformado Aílton Barros, a defensora pública Érica Hartmann foi a primeira a levantar a questão da "não individualização mínima da conduta" por parte da PGR. Segundo ela, Aílton, que é acusado de coordenar ações e incitar militares a participar de atividades golpistas, não aparece mencionado nem no plano "Punhal verde e amarelo", nem no plano "Luneta" e não tem relação com o grupo conhecido como "kids pretos" e, por isso, não poderia ter influência sobre outros militares.

Na mesma linha, o advogado de Carlos Rocha, fundador do Instituto Voto Legal, criticou o fato de o presidente do PL, Valdemar Cosa Neto, que o contratou, ter ficado de fora da denúncia enquanto Rocha foi denunciado pela PGR.

— O engenheiro Carlos rocha é contratado pelo PL por seu presidente, Valdemar Costa Neto. E, como já dito aqui na tribuna, ele esteve na mesma circunstância fática. Na mesma consideração fática, e corretamente, não está denunciado o presidente do PL. Mas está denunciado o prestador de serviço, que ofereceu uma avaliação — apontou.

O STF já aceitou a denúncia contra oito pessoas apontadas pela Procuradoria-Geral da República como parte do "núcleo crucial" da suposta organização criminosa, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e contra seis pessoas que fariam parte do grupo que "gerenciava" as ações, como o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques.

O que diz a denúncia

Segundo a PGR, Ailton Barros teria participado de ataques contra os então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, por eles não terem aderido ao plano golpista. Sua defesa afirma que ele apenas trocou mensagens de "desabafos".

Giancarlo Rodrigues e Marcelo Bormevet trabalharam na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão do hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que já é réu. Eles são acusados de promover desinformação contra opositores do grupo.

A defesa de Rodrigues afirmou que a relação dele com Bormevet foi apenas profissional, enquanto os advogados do policial federal negaram a relação entre as atividades dele e o suposto plano de golpe.

O coronel Reginaldo Vieira de Abreu, o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida e o major da reserva Angelo Denicoli teriam ajudado a divulgar informações falsas sobre as urnas eletrônicas, de acordo com a acusação. A mesma suspeita ocorre contra Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, organização contratada pelo PL e que ajudou a embasar uma ação do partido pedindo anulação de parte dos votos. Os quatro negam as acusações.

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