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'Usar ônibus elétrico é como padeiro deixar de usar trigo', diz diretor de empresa de SP

Manoel Marinho é diretor da MobiBrasil, empresa que transporta 390 mil pessoas por dia na zona sul da capital paulista

Manoel Marinho, diretor da viação MobiBrasil: “O ônibus elétrico veio para ficar” (Germano Lüders/Exame)

Manoel Marinho, diretor da viação MobiBrasil: “O ônibus elétrico veio para ficar” (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 16 de maio de 2025 às 06h01.

Última atualização em 16 de maio de 2025 às 09h05.

A garagem da viação MobiBrasil, na zona sul de São Paulo, teve semanas de mudança neste começo de ano. O espaço foi adaptado para receber ônibus elétricos, em uma mudança radical das operações, que tem sido bem recebida pelos gestores e funcionários da empresa.

"É como o padeiro que faz pão a vida inteira com trigo, agora vai ter que fazer com outro produto. A gente era tão acostumado com diesel", diz Manoel Marinho, diretor de novos negócios da MobiBrasil.

Ele supervisiona a transição na empresa, que tem 630 carros e transporta em média 390.000 pessoas por dia.

A Mobibrasil comprou 50 ônibus elétricos desde o ano passado e investiu 6 milhões de reais em carregadores e na parte elétrica. Marinho avalia a transição como "um caminho sem volta", "tanto pelo clamor da sociedade, quanto pelo comprometimento dos governos".

A EXAME visitou a garagem no começo de abril, como parte da apuração para uma reportagem ampla sobre a transição energética dos ônibus em São Paulo. A cidade tem planos de chegar a 2.600 elétricos nas ruas nos próximos anos, o que representará 20% da frota. A capital paulista tem a maior frota de coletivos do Brasil.

Marinho diz que a empresa está empolgada com a troca. Os indicadores, antes baseados em padrões como quilômetros rodados por litro, agora consideram medidas como megawatts e tem trazido bons resultados. Em média, o custo do km rodado com um elétrico é 25% menor do que o gasto com diesel.

Rede de apoio

"Testamos o etanol um tempo atrás, mas tivemos de mudar, porque na época não tivemos o respaldo que precisávamos do nosso fornecedor. No caso do elétrico, é diferente. Temos tido um apoio muito bom da prefeitura, do órgão gestor e dos nossos fornecedores", diz Marinho.

Na garagem, carregadores foram instalados perto das paredes do fundo do pátio onde os ônibus estacionam, e lembram bombas de gasolina. Durante a visita da EXAME, vários coletivos ainda estavam com plástico nos bancos e com espaço para a instalação dos validadores. A empresa comprou os coletivos, mas teve de esperar algumas semanas para que a Enel instalasse a rede elétrica, um problema que se repetiu em outras garagens da cidade.

Do lado dos fornecedores, o suporte foi maior. A MobiBrasil comprou veículos elétricos com chassi Mercedes-Benz e carroceria Caio, seus fornecedores de longa data. A Mercedes ficou responsável pela manutenção dos elétricos por um ano. Neste período, os funcionários da garagem estão sendo treinados para lidar com a nova tecnologia.

"A manutenção é mais leve, não é pesada como a do diesel. Estamos tendo uma resposta positiva", diz Marinho. Por conta disso, a expectativa é que os elétricos fiquem menos tempo parados na oficina do que os diesel. Como os veículos ainda são novos, esse ponto ainda será comprovado na prática.

Ônibus elétricos em São Paulo (Germano Lüders/Exame)

Quanto custa um ônibus elétrico?

Enquanto um ônibus a diesel, do tipo Padron (13,25 metros), custa ao redor de 1 milhão de reais a unidade, um elétrico pode chegar a 3,5 milhões de reais — sem contar a infraestrutura de carregamento. Em São Paulo, a prefeitura subsidia a diferença, para facilitar a adequação. Assim, a empresa investe o custo de um ônibus diesel, mas recebe um elétrico.

Embora os novos ônibus sejam mais caros, eles deverão rodar 15 anos, ante 10 anos dos veículos diesel, com uma troca de bateria com 7 anos de operação. "Depois de dez anos, o custo de manutenção do ônibus diesel é altíssimo. O ônibus realmente chegou no fim da vida dele", diz.

Marinho conta que a empresa, que tem três mulheres como principais acionistas, optou por colocar apenas motoristas mulheres para guiar os primeiros coletivos elétricos. "Todas elas disseram que o elétrico era mais confortável e fácil de operar. O cliente aceita melhor porque não tem barulho nem solavanco", afirma.

O diretor comenta que a autonomia tem sido suficiente para a maioria das linhas. Os ônibus saem da garagem com energia suficiente para rodar o dia todo nas rotas planejadas. "Esperamos que a tecnologia evolua para dar conta de operar o dia todo em linhas mais longas, como de Santo Amaro a Parelheiros", diz. Esse trajeto soma 23 km por viagem, em média.

Marinho diz que a empresa também tem interesse ônibus elétricos articulados, que já estão sendo adotados no Chile. Além de São Paulo, a MobiBrasil opera um serviço de BRT (sistema de ônibus articulados em corredores) em Sorocaba, no interior de São Paulo, em mais um sinal de que a mudança pode ter vindo para ficar.

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