Uma vista aérea do Aterro do Flamengo, o maior parque público e área de lazer da cidade do Rio de janeiro em 19 de março de 2020 esvaziado pelo surto do coronavírus (Buda Mendes/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 18 de outubro de 2025 às 11h55.
Última atualização em 18 de outubro de 2025 às 11h56.
É verdade que a cidade ganhou terras importantes graças ao aterramento, mas também perdeu muitas belezas. Das 118 praias cariocas existentes no início do século XX, quase a metade desapareceu: 56 simplesmente sumiram do mapa, principalmente na Zona Norte, e de forma mais acelerada a partir dos anos 1950.
Não para por aí. Na Baía de Guanabara, muitas ilhas também acabaram cercadas de terra por todos os lados. Das cem que havia, restaram 65: as outras foram engolidas por aterros.
A conta é do geógrafo Jorge Luiz Barbosa, um dos autores do livro “As águas encantadas da Baía de Guanabara” (Numa Editora), que, entre outros aspectos, trata do crescimento da cidade por meio de aterros.
— Os aterros tiveram funções distintas na urbanização do Rio, que se refletem até hoje. O que ocorreu ao longo dos anos foi uma espécie de racismo ambiental. Os aterros feitos em direção à Zona Sul, seja no Parque do Flamengo, seja na Lagoa e nas demais praias da Zona Sul, tiveram como objetivo valorizar a paisagem e as moradias de uma classe social mais favorecida. Por outro lado, a Zona Norte foi sacrificada, com o aterramento de praias entre o Caju e a Penha — diz o autor.
Devido à proximidade com São Cristóvão, onde morava a família real, é considerada o primeiro balneário da cidade. A praia sumiu no século 20 depois de uma série de aterros, inclusive com lixo. Primeiro durante o governo do prefeito Pereira Passos, que para ampliar o porto do Rio aterrou o Cais do Valongo (redescoberto nas obras do Porto Maravilha), a Praia Formosa e o Saco do Alferes (hoje Rodoviária Novo Rio). A pá de cal foi a construção da Ponte Rio-Niterói, cujos acessos no Caju foram erguidos onde era parte da orla Uma das poucas referências que restou foi a Casa de Banhos de D. João VI, construída no século 19 para que o rei tomasse banho de mar, prescrito por médicos, para curar feridas na perna. De propriedade da Comlurb, hoje está fechada à visitação.
Ficava na Praia Vermelha nas imediações do que hoje é a Avenida Pasteur. A praia começou a ser aterrada em 1908. Na época, uma parte inicial da praia foi aterrada e foram construídos pavilhões para uma exposição comemorativa pelos 100 anos da Abertura dos Portos Brasileiros, por D. João VI, que chegou ao Brasil fugindo das tropas de napoleão em 1808. Em uma das construções remanescentes da exposição, fica hoje o Museu de Ciências da Terra. A praia sumiu de vez na década de 1930, com a construção da sede do Iate Clube do Rio de Janeiro.
Ficava entre os bairros de Cordovil e Penha Circular, em uma área aterrada para a construção de um conjunto habitacional que se transformou na Favela Kelson's.
Ficava entre os bairros de São Cristóvão e Bonsucesso. Os aterros para construir a Ilha do Fundão acabaram provocando o deslocamento de lama submersa para o entorno, comprometendo a balneabilidade. Na altura da Rua Guilherme Maxwell (Bonsucesso) havia até um pequeno porto usado para escoar parte da produção agrícola dos subúrbios para outras regiões do Rio. Parte dela foi aterrada para a construção da Avenida Brasil, da Fiocruz, a Refinaria de Manguinhos além de diversos quartéis.
Integrava a antiga enseada do bairro de São Cristóvão. Ficava nas imediações do que hoje é a Rodoviária Novo Rio. A praia começou a ser aterrada nas últimas décadas do século 19 para expandir a área do Porto do Rio e a construção do Canal do Mangue. A praia é citada nos romances Quincas Borba, Memorial de Aires e no conto Noite de Almirante, todos de Machado de Assis.
Era chamada de Copacabana do Subúrbio. Ficava entre os bairros de Bonsucesso e Olaria. Viveu seu auge entre os anos 1920 e 1940, quando durante o carnaval eram realizados banhos de mar à fantasia. Parte da fama da região, que chegou a servir de local de regatas de remo pelo Carioca Iate Clube e Ramos Iate Clube, fundados nos anos 1940, se deve a um projeto do coronel Joaquim Vieira Ferreira, proprietário de terras na região, de construir um loteamento à beira-mar chamado de Villa Gerson, que não saiu do papel. As terras ficavam em área de marinha e o Governo Federal decidiu aterrar quase toda a área para construir a Avenida Brasil.
Ficava entre Olaria e a Penha até às imediações do viaduto Engenheiro Lourenço de Abreu Jorge que liga às avenidas Lobo Júnior e a Brasil. Também aterrada para a construção da Avenida Brasil.
Ficava nas proximidades da Lapa, integrada a paisagem do Aqueduto da Carioca (Arcos da Lapa) Bastante poluída no século 18, por receber esgotos sem tratamento da população a região central foi aterrada para a construção do Passeio Público (1783), primeiro jardim público da cidade do Rio de Janeiro
Ficava nas imediações do antigo Hotel Glória, na área onde hoje fica a Praça do Russel. Perdeu boa parte da faixa de areia com as obras de construção da Avenida Beira-Mar no início do século 20 durante o governo Pereira Passos, com parte do material do desmonte do Morro do Castelo. Sumiu do mapa na construção do Aterro do Flamengo.
Continuação da Praia de Santa Luzia, localizada atrás da igreja de mesmo nome no Centro. Chegou a ser uma sede dos praticantes de Remo do Vasco e eram comuns os banhos de mar à fantasia. Entre os frequentadores estava Madame Satã (1970-1976). Foi aterrada nos anos 1930 para a construção do Aeroporto Santos Dumont.