Agência de notícias
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 15h57.
A Zona Sudoeste do Rio de Janeiro foi oficializada nesta terça-feira com sanção do prefeito Eduardo Paes. Agora, 21 bairros que antes formavam a Zona Oeste fazem parte de uma nova organização espacial na cidade, conhecida pelos shoppings e condomínios luxuosos — frequentados por políticos e famosos —, praias extensas, incluindo a única de nudismo da capital, e grandes espaços para shows e eventos, como o Rock in Rio. Em contrapartida, é também a região onde nasceu a milícia e que, frequentemente, é cenário de execuções envolvendo o crime organizado.
A nova Zona Sudoeste é composta pelos bairros Recreio dos Bandeirantes, Barra da Tijuca, Barra Olímpica, Anil, Camorim, Cidade de Deus, Curicica, Freguesia, Gardênia Azul, Grumari, Itanhangá, Jacarepaguá, Joá, Praça Seca, Pechincha, Rio das Pedras, Tanque, Taquara, Vargem Grande, Vargem Pequena e Vila Valqueire. Os demais bairros da Zona Oeste se mantêm sob essa denominação.
A proposta de dividir a Zona Oeste em duas foi do vereador Dr. Gilberto (Solidariedade), sob o argumento de que reagrupar bairros com necessidades e interesses distintos ajudaria o poder público a definir os investimentos prioritários em cada região.
Entre os políticos que têm casa na nova região estão Jair Bolsonaro e Cláudio Castro (PL), governador do Rio de Janeiro, ambos na Barra da Tijuca. Nesse bairro, também residem os jogadores do Fluminense Renato Augusto e Thiago Silva, e o ponta-esquerda do Real Madrid, Vini Jr., que construiu no local uma mansão avaliada em R$ 20 milhões.
No Joá, bairro vizinho, há imóveis à venda que podem chegar a R$ 13 milhões. Por lá, moram os atores Cauã Reymond e Carolina Dieckmann, além da Família Hulk, cuja mansão tem cerca de 4 mil metros quadrados.
É na Zona Sudoeste que acontecerá o festival Rock in Rio, presente a cada dois anos na cidade. Os palcos são montados na Cidade do Rock, localizada no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca. No bairro, também estão presentes dois shoppings famosos, o BarraShopping, de extensão de 8km, e o Village Mall, o mais luxuoso — nele, é possível encontrar as lojas de grife Balenciaga, Boss, Dolce & Gabbana, Gucci, Louis Vuitton, Michael Kors, Miu Miu e Prada.
Quase escondida entre a Prainha e Grumari, a Praia do Abricó é a única liberada para a prática de naturismo no Rio. A permissão, sancionada por lei em 2014, regulamentou um comportamento que era comum na região desde os anos 70.
No site da Associação Naturista da Praia do Abricó, é possível encontrar a descrição da "filosofia" da praia: "O naturismo tem como finalidade promover um modo de vida mais natural e saudável, dirigindo suas preocupações para o meio ambiente, para a saúde física e mental e para a alimentação".
Considerada o berço da milícia — nos anos 1980, comerciantes locais começaram a pagar policiais para evitar a invasão do local por traficantes —, Rio das Pedras é a única comunidade do Itanhangá e Jacarepaguá que ainda continua com o território dominado por paramilitares.
No entanto, há pelo menos dois anos, o Comando Vermelho tem investido em diversas invasões na região, o que tem transformado a dinâmica das comunidades, seja pelo aumento da violência, como também pela venda de drogas no entorno. Essa facção já se apossou das favelas vizinhas, como Tijuquinha, Morro do Banco, Sítio do Pai João e Muzema — todas eram controladas por milícias.
Ao menos 10 atentados envolvendo o jogo do bicho já aconteceram na Barra da Tijuca desde 1998. O último foi contra Vinicius Drumond, em 12 de julho deste ano. Ele havia saído de uma academia frequentada por famosos, no Casa Shopping, quando foi seguido por criminosos que atiraram contra seu Porsche Taycan Turbo 2023, blindado, avaliado em cerca de R$ 1 milhão. Drumond teve apenas ferimentos leves.
No mês passado, em um intervalo de cinco dias, o bairro foi palco de dois atentados. Tiago Silva Pereira, de 37 anos, foi baleado depois que o carro em que estava foi atingido por ao menos 15 disparos na Avenida Jornalista Tim Lopes. Já André Luis Brasil Gomes, de 49 anos, foi morto ao estacionar o automóvel na Rua Carlos Oswald. O veículo tinha marcas de ao menos dez tiros.
Outro atentado marcante na região foi a morte de três médicos num quiosque em outubro de 2023. À época, eles aproveitavam o tempo livre num quiosque da Barra da Tijuca, após passarem o dia em um congresso de ortopedia, quando foram atacados por traficantes do Comando Vermelho. A principal hipótese do crime, segundo a polícia, é de que uma das vítimas foi confundida com um miliciano de Rio das Pedras, região até hoje em disputa.