Bússola

Um conteúdo Bússola

3 perguntas de ESG para Françoise Lombard, da Proparco

Prestes a vir ao Brasil, CEO do braço privado da Agência Francesa de Desenvolvimento fala dos critérios de investimento socioambiental no país

Françoise Lombard, CEO da Proparco (Bússola/Divulgação)

Françoise Lombard, CEO da Proparco (Bússola/Divulgação)

B

Bússola

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 12h30.

Última atualização em 27 de outubro de 2022 às 18h51.

Dona de uma carteira de investimentos que já chegou a 2,3 bilhões de euros, a Proparco, braço privado da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), é uma das maiores instituições financeiras do mundo, cujo foco é investir em ações e empresas com objetivos ESG bem definidos.

No Brasil a Proparco aterrissou em 2007, de olho em setores como agricultura, geração de energia, infraestrutura, educação, saúde e inclusão financeira. As principais investidas são PMEs alinhadas ao Acordo de Paris e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

No próximo mês, a CEO da Proparco, Françoise Lombard, virá ao país para conhecer de perto o trabalho de duas empresas, a Pró Infusion, de manipulação farmacêutica, e a recifense Effico, que oferece serviços para o setor de água e saneamento.

Graças ao aporte da Proparco por meio do fundo Vinci Impacto e Retorno (VIR IV), da Vinci Partners, as duas empresas ganharam musculatura e passaram a oferecer soluções de sustentabilidade em suas áreas. Na entrevista a seguir, Françoise Lombard fala sobre os planos da Proparco no Brasil e do cenário ESG.

Bússola: A Proparco investe em empresas brasileiras desde 2007. Em que tipo de negócio vocês estão interessados?

Françoise Lombard: O nosso olhar é sempre voltado para o social e o ambiental. Desde o início, acreditamos que é possível gerar impacto de forma financeiramente responsável, e no Brasil essa filosofia se mantém. Investimos 46% em instituições financeiras e fundos de private equity que alocam os recursos em nossos setores prioritários, com o compromisso de utilizar o dinheiro para investir em atividades de mitigação das mudanças climáticas, como cogeração de energia, eficiência energética e energia renovável, além de fundos voltados para o financiamento de tecnologias limpas e soluções sustentáveis.

O restante do nosso portfólio está distribuído em diversos setores. No agronegócio, investimos em players de açúcar e etanol e outros empenhados em sustentabilidade. Em energia, o foco geralmente está em usinas de energia renovável ou desenvolvedores de energia renovável que usem nossos fundos para investir em seus próprios projetos. Não financiamos petróleo e gás. Saneamento básico, saúde e manufatura também estão presentes, sempre visando o maior impacto positivo e sustentável possível.

Bússola: Como você avalia o cenário ESG no Brasil?

Françoise Lombard: Como em outras partes do planeta, as regulamentações ESG estão avançando. Vemos isso como um bom sinal de que o mercado financeiro brasileiro está enfrentando os atuais desafios climáticos, sociais e de biodiversidade. Para nós, é muito bom quando a agenda ESG ganha força localmente, pois nos ajuda a explicar nossas metodologias e convencer nossos clientes da importância da tarefa. Ao fazer isso, eles estarão à frente da conformidade com as regulamentações e, portanto, serão pioneiros em novos mercados. Além disso, sabemos há muito tempo que a boa gestão dos riscos ESG é uma questão de boa governança e de gestão adequada de riscos financeiros para todo o setor privado.

Bússola: Como vocês auditam e regulam os investimentos, uma vez que os parâmetros de ESG ainda estão em processo de aperfeiçoamento?

Françoise Lombard: Na Proparco avaliamos há muito tempo os riscos e oportunidades ESG para investidores e financiadores. Nossas metodologias de avaliação ESG são robustas e dependem de uma avaliação específica do cliente/local feita por nossos especialistas internos dedicados a ESG, ou seja, não dependemos de pontuações ou análises de dados com base apenas de relatórios. Precisamos realmente obter uma compreensão detalhada dos riscos, desafios e oportunidades ESG de nossos clientes para agregar valor aos nossos investimentos, oferecendo soluções sob medida para melhoria.

Importante destacar que nossa metodologia de avaliação e monitoramento leva em consideração que os regulamentos locais de ESG nem sempre estão alinhados com as melhores práticas internacionais. Esse é um primeiro passo necessário e buscamos gradualmente levar nossos parceiros em direção a esses padrões.

Para além dos regulamentos locais, seguimos em direção às melhores práticas internacionais. Focamos principalmente nos Padrões de Desempenho Ambiental e Social da IFC (International Finance Corporation), braço de investimentos privados do Banco Mundial, e a Estrutura de Desenvolvimento de Governança Corporativa, iniciativa conjunta adotada por 33 Instituições Financeiras de Desenvolvimento (DFI, na sigla em inglês).

Estas metodologias extensas e precisas permitem à Proparco ter uma compreensão clara dos passos que o nosso cliente deve tomar no futuro para cumprir estas melhores práticas internacionais. Se os clientes estão prontos para fazer isso, e de fato um número crescente deles está, devido à crescente importância da agenda ESG nos níveis internacional e nacional, concordamos com eles no caminho a seguir. O acompanhamento passo a passo de seus resultados é parte integrante de nossa metodologia.

*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:SustentabilidadeEntrevistaBússola ESG

Mais de Bússola

Como a inteligência artificial está transformando treinamentos corporativos

Varejista investe em formação dos colaboradores com plataforma de conteúdo diversificado

Setor de energia elétrica avança na redução de passivo histórico

Rede social ESG aposta no Rio Innovation Week para ampliar sua presença