A cirurgia plástica pode, sim, atender desejos legítimos, desde que haja escuta, preparo e paciência (Thinkstock/Getty Images)
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Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15h00.
Por Lucas Dantas*
Com a chegada do inverno, cresce a busca por cirurgias plásticas no Brasil, cerca de 60% dos procedimentos eletivos ocorrem nessa época, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O clima mais frio favorece a cicatrização e reduz o inchaço, mas é fundamental respeitar limites técnicos e anatômicos para evitar frustrações ou riscos desnecessários.
No consultório, o inverno se reflete em agendas lotadas, impulsionadas por quem busca aproveitar as vantagens do clima frio para uma recuperação mais confortável. Menor exposição ao sol, menos inchaço e maior tolerância ao uso de cintas e curativos são fatores que favorecem o pós-operatório. Para muitos, a principal motivação é garantir que o resultado esteja consolidado a tempo do verão.
Com isso, é comum pacientes chegarem com fotos moldadas por filtros e pedidos baseados em padrões irreais da internet. Ter referências não é um problema em si; o risco está em já chegar ao consultório com um resultado pré-definido, como se a cirurgia fosse a entrega de um “corpo perfeito”.
O maior obstáculo, na maioria das vezes, é a expectativa, não a técnica. A medicina tem limites claros: histórico clínico, anatomia, preparo prévio e plano pós-operatório não podem ser ignorados. A pressa para alcançar o “corpo de verão” leva a decisões mal planejadas, que podem comprometer o resultado final.
Nem sempre o desejo do paciente é compatível com a própria estrutura corporal. Há limites técnicos e funcionais que precisam ser respeitados, mesmo quando o procedimento é viável. Desconsiderá-los eleva o risco de insatisfação, que não é causada pela técnica, mas pela expectativa criada antes da cirurgia.
Os avanços tecnológicos de hoje oferecem técnicas menos invasivas e com recuperação mais rápida, mas nenhuma tecnologia substitui uma motivação equilibrada e um preparo adequado. O cirurgião não está ali apenas para operar, mas para avaliar, orientar e, quando necessário, dizer não.
Infelizmente, o aumento da procura no inverno também eleva os atendimentos de pacientes que precisam corrigir procedimentos mal feitos por profissionais sem registro ou fora do ambiente hospitalar. Não é raro lidarmos com complicações graves decorrentes do uso indiscriminado de PMMA, substância proibida para fins estéticos pela Anvisa, ou de lipoaspirações realizadas sem suporte de UTI.
A cirurgia plástica pode, sim, atender desejos legítimos, desde que haja escuta, preparo e paciência, esta última, muitas vezes ignorada, é crucial. Mesmo entre cirurgias bem indicadas e realizadas com segurança, ainda é comum ver pacientes abandonarem o pós-operatório tão logo percebem algum resultado no espelho. Antes de agendar o seu procedimento, vale lembrar: procurar um cirurgião membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, planejar o pós-operatório com antecedência, ter expectativas compatíveis com sua anatomia e desconfiar de soluções milagrosas são atitudes que fazem toda a diferença para um desfecho seguro e satisfatório.
*Lucas Dantas, coordenador da Cirurgia Plástica dos hospitais da Rede Total Care no Rio de Janeiro.
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