O que antes era um “benefício de RH” passa a ser item de compliance obrigatório (DC Studio)
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Publicado em 6 de novembro de 2025 às 10h00.
*Por Marina Marzotto,
Em 2024, mais de 470 mil trabalhadores brasileiros foram afastados por transtornos mentais, um salto de 134% em poucos anos.
Segundo a OIT, os custos com saúde mental equivalem a 4% do PIB mundial, o que representa R$ 468 bilhões anuais só no Brasil.
E o problema só cresce: desde 2021, as licenças relacionadas ao tema aumentaram mais de 30%, segundo o Ministério da Previdência.
Esses números escancaram uma verdade incômoda: a crise emocional dentro das empresas é uma epidemia silenciosa e cara.
Mas, a partir de maio de 2026, o cenário mudará. Todas as companhias brasileiras serão obrigadas a mapear riscos psicossociais como parte dos seus programas de Segurança e Saúde no Trabalho, conforme a atualização da NR-01.
O que antes era um “benefício de RH” passa a ser item de compliance obrigatório.
O movimento vai muito além da exigência legal. Ele redefine o papel das lideranças e inaugura uma nova era: a do compliance emocional.
Pela primeira vez, empresas estão sendo chamadas a tratar a saúde mental com a mesma seriedade que tratam segurança física, dados ou finanças.
Durante anos, as pesquisas de clima foram o principal termômetro do bem-estar corporativo. Uma vez por ano, os colaboradores responderam dezenas de perguntas e, semanas depois, o RH recebia um retrato estático: “em X mês, Y% das pessoas estavam satisfeitas”.
Entre uma pesquisa e outra, pessoas entram em burnout, times se desengajam e talentos pedem demissão. Quando o problema é identificado, ele já virou crise, e crise custa caro.
Agora, imagine se fosse possível monitorar continuamente a saúde emocional da empresa, detectar áreas com sobrecarga crescente, líderes que geram desengajamento silencioso ou sinais precoces de turnover.
Ferramentas baseadas em inteligência emocional preditiva e IA conversacional já conseguem “ouvir” colaboradores de forma contínua, anônima e natural, geralmente via WhatsApp, o canal mais usado pelos brasileiros.
A partir dessas conversas, algoritmos treinados em neurociência comportamental identificam padrões e geram indicadores inéditos, como:
Esses dados não substituem a sensibilidade humana, eles a potencializam. São a diferença entre apagar incêndios e evitar que eles comecem.
Assim como a LGPD mudou o tratamento de dados pessoais, a regulamentação de riscos psicossociais vai evoluir. Em pouco tempo, não bastará dizer “fazemos pesquisa de clima”: será preciso comprovar frequência de escuta, ações tomadas e impacto mensurável.
Auditorias trabalhistas, investidores ESG e órgãos fiscalizadores exigirão evidências técnicas.
As empresas que já possuem indicadores longitudinais e planos de ação documentados estarão anos à frente. Não se trata apenas de cumprir a norma — mas de usar a conformidade como estratégia de negócios.
Essa transformação exige um novo mindset. O RH deixa de ser área de suporte e passa a ser coprodutor de inteligência de negócio.
Quando o RH mostra ao board que uma área tem 68% de risco de burnout e projeção de três afastamentos em 60 dias, isso não é “feeling”, é dado.
E quando demonstra que investir R$ 50 mil em reestruturação evita perdas de R$ 300 mil em turnover, isso é ROI real.
Se você lidera pessoas em 2025, vale refletir:
Se a resposta for “não”, talvez seja hora de repensar como sua organização encara a saúde mental.
A NR-01 nos obriga a mapear riscos. A inteligência preditiva nos permite antecipar, prevenir e transformar esses riscos em vantagem competitiva.
A escolha é sua: sua empresa vai apenas se adequar, ou vai se diferenciar?
*Marina Marzotto é CEO da Normalyze, neurocientista e comunicóloga. Foi executiva de RH e comercial em grandes empresas e hoje lidera a primeira IA de compliance emocional do Brasil. É fundadora da Neuro(efi)ciência, consultoria de neurociência aplicada a negócios, e especialista em cultura organizacional e ambientes de alta performance.