O hortifrúti, historicamente visto como um centro de perdas e risco operacional, passa agora a ocupar um lugar estratégico nas discussões sobre eficiência e sustentabilidade (Aravita/Divulgação)
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Publicado em 25 de novembro de 2025 às 10h00.
Por Marco Perlman*
O desperdício de alimentos deixou de ser um problema restrito à cadeia produtiva e passou a ser uma questão estratégica nacional.
A nova Estratégia Intersetorial para Redução de Perdas e Desperdício de Alimentos, lançada pelo Governo Federal em parceria com a Embrapa e outros órgãos, estabelece metas e compromissos concretos para transformar o sistema alimentar brasileiro.
A agenda conecta o país aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em especial o ODS 2, que visa erradicar a fome, o ODS 12, voltado ao consumo e produção responsáveis, e o ODS 13, que incentiva a ação climática.
Nesse cenário, o papel do varejo se torna central: é nas lojas, nos estoques e nas gôndolas que parte significativa dos alimentos se perde antes de chegar ao consumidor.
A “Pesquisa de Eficiência Operacional 2025” da ABRAS ajuda a dimensionar esse desafio. Os produtos perecíveis continuam sendo os principais responsáveis pelas perdas no varejo.
As seções de FLV (4,73%), padaria e confeitaria (4,62%) e rotisseria (3,66%) lideram o ranking das maiores taxas de ineficiência.
Esses números revelam que, mesmo em um setor que avança em eficiência, a gestão dos alimentos frescos ainda é um ponto crítico, e é justamente nesse ponto que a inteligência artificial começa a fazer a diferença.
A IA permite ao varejo compreender com profundidade o comportamento da demanda, antecipar variações sazonais e ajustar o sortimento com precisão.
Ao analisar dados históricos de vendas, consumo local e logística, a tecnologia calcula o pedido ideal para cada loja, reduzindo desperdícios e evitando rupturas.
Em operações que já adotaram esse modelo preditivo, reduções de até 25% nas perdas e de 30% nas rupturas vêm sendo alcançadas, comprovando que o uso de dados é uma das formas mais eficazes de equilibrar eficiência econômica e responsabilidade ambiental.
Essa transformação vai além da operação. O uso de IA na gestão de perecíveis coloca o varejo em linha com a agenda de sustentabilidade global e com as exigências do consumidor contemporâneo, cada vez mais atento à origem e ao impacto dos alimentos que consome.
Menos desperdício significa menos emissões, menor consumo de água e energia e mais coerência com os compromissos climáticos. Significa também uma nova forma de fazer negócio, baseada em previsibilidade, inteligência e propósito.
O hortifrúti, historicamente visto como um centro de perdas e risco operacional, passa agora a ocupar um lugar estratégico nas discussões sobre eficiência e sustentabilidade.
Quando a inteligência artificial entende de banana madura e tomate fresco, ela entende, na verdade, de um sistema alimentar mais resiliente, de margens mais saudáveis e de um planeta que não pode mais se dar ao luxo de desperdiçar.
*Marco Perlman é cofundador e CEO da Aravita, startup de inteligência artificial que ajuda varejistas a otimizar a gestão de FLV.