Bússola

Um conteúdo Bússola

Como as empresas podem colaborar para prevenir os eventos climáticos extremos?

Com a articulação público-privada, seguindo metas globais, é possível desacelerar mudanças climáticas. Saiba como no artigo de consultores em ODS e sustentabilidade para empresas

Caramelo, o cavalo que ficou ilhado em cima de telhado de casa em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre
 (TV Globo/Reprodução)

Caramelo, o cavalo que ficou ilhado em cima de telhado de casa em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre (TV Globo/Reprodução)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 16 de maio de 2024 às 10h00.

Por Rafael Kenji e Thaís Scharfenberg*

Os eventos climáticos extremos, como tempestades, enchentes e secas, estão cada vez mais frequentes ao redor do mundo, e com proporções ainda maiores. De acordo com o Banco Mundial, mais de 216 milhões de pessoas serão consideradas refugiadas climáticas até 2050

Ao mesmo tempo que as chuvas na região sul do Brasil causaram enchentes e mais de 100 mortes no Rio Grande do Sul, eventos semelhantes aconteceram na Ilha de Sumatra, na Indonésia, e no Afeganistão, somando mais de 3 milhões de desabrigados, em uma semana de chuvas nos três países

Em 2023, em uma seca histórica, rios da região amazônica ficaram sem água e mais de 150 botos morreram em uma semana de seca e altas temperaturas das águas, situação agravada por um fenômeno climático já conhecido, o El Niño

A típica imagem do urso polar se equilibrando em um bloco de gelo passa a ser acompanhada pela imagem de um cavalo no telhado de uma casa na cidade de Canoas, durante a enchente histórica.

A causa: mudanças climáticas

Após uma pesquisa da Quaest, em que 99% das pessoas acreditam que os acontecimentos no Rio Grande do Sul estão relacionados às mudanças climáticas, fica claro que a população entende que todos os eventos climáticos extremos da atualidade não são resultado de acontecimentos recentes, mas sim de décadas de degradação ambiental, poluição, queimadas e degradação hídrica. 

Por muito tempo foi ignorada a informação de que o "ponto limite de aquecimento" do planeta estava se aproximando, e medidas urgentes precisavam ser tomadas. Após 11 meses consecutivos de aumento de temperatura no planeta, algumas cidades já registraram médias de temperatura 2ºC acima do habitual, como São Paulo e Rio de Janeiro. 

Uma das soluções pode estar nas mãos das empresas

Apesar de tudo, ainda existem formas de frear, ou ao menos diminuir a velocidade que as mudanças climáticas afetam todo o mundo, com uma coordenação de ações entre os setores público e privado, com a fiscalização e apoio do terceiro setor e órgãos internacionais. 

As empresas podem contribuir não apenas adotando medidas institucionais, como também colaborando para a mudança de cultura e comportamento de consumo da população, sendo que em alguns casos também podem atuar pressionando a aprovação de leis e projetos de política pública.

Em 2019, um relatório da Comissão Global de Adaptação apresentou uma sólida justificativa econômica para investir em ação climática: cada dólar investido em cinco áreas-chave de adaptação poderia gerar benefícios líquidos significativos, variando de US$ 2 a US$ 10. Além disso, um estudo revelou que o mercado potencial de adaptação poderia atingir a marca impressionante de US$ 2 trilhões até 2026.

Ações de base

Dentro de um ecossistema, as empresas multinacionais podem promover um comportamento mais sustentável nas cadeias de suprimentos que gerenciam, os investidores e os bancos são fontes potenciais de investimento em infraestrutura limpa, e as empresas e os empreendedores fornecem as habilidades e o conhecimento que levam à inovação em tecnologias limpas e eficiência de recursos. 

Os custos da transição para um futuro de baixo carbono e resiliente ao clima são imensos, porém o custo da inação é ainda maior e os governos sozinhos não têm condições de arcar com tudo. Estima-se que somente os setores de agricultura e uso da terra exijam 26 vezes mais do que os níveis atuais de financiamento. 

As empresas precisam ser transparentes sobre suas emissões de carbono e seus impactos ambientais, e podem se comprometer com metas claras de redução de emissões e relatar regularmente seu progresso.

Estabelecendo metas

Tais metas são organizadas e acompanhadas através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com 17 objetivos para atingir o desenvolvimento sustentável até o ano de 2030 em diversas áreas, como saúde, educação, meio ambiente e economia. 

Os ODS e o Acordo de Paris confirmam que o crescimento e o desenvolvimento não podem continuar sem que todos os países enfrentem as mudanças climáticas e promovam a sustentabilidade ambiental. 

A transição do atual caminho de desenvolvimento para um caminho de baixo carbono e resiliente ao clima exigirá investimentos e inovação significativos, e mais importante ainda, uma mudança na forma como os governos e o setor privado tomam decisões.

Empresas públicas e privadas e o Pacto Global da ONU

Mesmo com evidente vantagem, a parceria entre o setor público e privado apresenta desafios para ser consolidada. O setor público tende a priorizar os benefícios sociais de médio e longo prazo e a sustentabilidade ambiental, enquanto o privado se concentra nos retornos de curto prazo e no valor para os acionistas. Existe ainda a variação na urgência e aplicação das pautas em períodos de eleição. Essas diferenças podem dificultar a colaboração público-privada para a ação climática, o que torna essencial conciliar a sustentabilidade com a obtenção de lucro.

Para facilitar e ampliar o relacionamento e o impacto de todos os setores, o Pacto Global da ONU foi criado, e entende que a ação e a liderança do setor privado em relação ao clima são fundamentais para a transição para um futuro resiliente e com emissões net zero até 2050. 

As empresas têm um papel fundamental a desempenhar no mercado e na expansão de soluções inovadoras para apresentar planos factíveis para desbloquear o financiamento climático, ao mesmo tempo que defendem uma recuperação verde e justa. As empresas podem liderar a transição e tomar medidas ambiciosas.

O Pacto Global da ONU Rede Brasil possui uma plataforma conectada com o ODS 13, pautado na ação climática, que incentiva os integrantes a incluir a Agenda Climática nas suas estratégias de maneira transparente, socialmente justa e inclusiva. 

A Plataforma de Ação pelo Clima realiza projetos focados na mitigação, adaptação e implementação de medidas, apoiando iniciativas temáticas e setoriais intimamente ligadas ao clima, como projetos relacionados à energia e transporte.

De iniciativa global, a Science Based Targets, composta por representantes do CDP, Pacto Global da ONU, WRI e WWF, tem impulsionado ações climáticas corporativas ambiciosas desde 2015, com mais de 2.200 empresas liderando medidas climáticas alinhadas com o Acordo de Paris, das quais mais de mil empresas aprovaram metas baseadas na ciência, em dezembro de 2021. 

Para promover a aprendizagem dos participantes, a Academia do Pacto Global oferece cursos online que orientam as empresas no processo de definição de um objetivo de base científica em apoio a um futuro de net zero.

Desta forma, com a articulação público-privada, seguindo metas e objetivos definidos globalmente, é possível desacelerar as mudanças climáticas e diminuir o impacto gerado na saúde, educação e desenvolvimento econômico

As ações devem ser coordenadas, pautadas na consciência de igualdade social e no entendimento de que populações vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas de baixa renda são mais suscetíveis aos impactos causados pelos eventos climáticos extremos.

*Rafael Kenji é médico e Thaís Scharfenberg é internacionalista, consultores em ODS, ONU e sustentabilidade para empresas.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Acompanhe tudo sobre:Mudanças climáticas

Mais de Bússola

Como a inteligência artificial está transformando treinamentos corporativos

Varejista investe em formação dos colaboradores com plataforma de conteúdo diversificado

Setor de energia elétrica avança na redução de passivo histórico

Rede social ESG aposta no Rio Innovation Week para ampliar sua presença