Sessão da Cúpula de Líderes da COP30, em Belém (Ricardo Stuckert/PR)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 7 de novembro de 2025 às 13h00.
Última atualização em 7 de novembro de 2025 às 13h19.
A abertura da cúpula de líderes em Belém, que antecede a COP30, marca o início de uma etapa crucial nas negociações climáticas globais. O encontro, realizado no coração da Amazônia, ocorre sob o peso dos dados alarmantes apontados pelo IPCC, que geram consequências sociais e econômicas de larga escala.
Nesse último aspecto, as perdas decorrentes da crise climática podem chegar a 20% do PIB global até o fim do século, caso não sejam tomadas medidas efetivas para reduzir emissões e adaptar as economias aos novos riscos.
A estimativa é do relatório "Ascensão da Economia de Adaptação: Investindo em Adaptação e Resiliência em um Mundo Além de 1,5ºC", iniciativa da Morphosis, organização Suíça, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas, o Instituto Itaúsa, o Paulson Institute e a Basilinna.
A dimensão desse impacto deixa claro que a questão climática não é apenas ambiental — é estruturalmente econômica.
A inação diante da emergência climática ameaça desestabilizar cadeias produtivas, reduzir a produtividade agrícola, provocar choques inflacionários e aprofundar desigualdades.
No fim das contas, a lógica é simples: quanto mais tempo demorarmos para agir, mais caro será corrigir os danos.
Nesse contexto, o financiamento climático surge como ponto crítico das negociações que conduzem ao encontro de Belém. O “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, apresentado pelos presidentes da COP29 e COP30, traça uma estratégia para mobilizar US$ 1,3 trilhão em recursos destinados à mitigação e adaptação, com o objetivo de viabilizar a transição para economias de baixo carbono e fortalecer a resiliência dos países mais vulneráveis.
A proposta busca transformar promessas em mecanismos concretos, conectando compromissos políticos, instrumentos econômicos e métricas de resultados.
Nesse esforço, começa a tomar forma um dos instrumentos que podem contribuir para a concretização desse plano: o Tropical Forests Forever Fund (TFFF), lançado oficialmente durante a cúpula de Belém.
O fundo, voltado à conservação das florestas tropicais, teve a Noruega como primeira doadora, com o anúncio de uma contribuição de US$ 3 bilhões.
O objetivo do TFFF é captar um total de US$ 125 bilhões e gerar retorno – que será então repassado aos países que possuem florestas tropicais e controlarem o desmatamento.
O TFFF representa um passo simbólico e prático rumo à consolidação de um sistema financeiro global capaz de valorizar o capital natural e recompensar resultados positivos para o clima.
Mesmo com ausências relevantes, como as do Reino Unido e da Alemanha, o lançamento do fundo sinaliza que há espaço para coalizões que busquem resultados tangíveis e imediatos, antecipando a ambição esperada para a COP30, com mecanismos de financiamento misto, que unem recursos governamentais, filantrópicos e privados para alavancar a preservação.
Belém pode se tornar o ponto de inflexão dessa agenda. Mais do que um encontro de chefes de Estado, a COP30 será um teste de credibilidade para o sistema econômico global: seremos capazes de alinhar finanças e clima, crescimento e regeneração, curto prazo e futuro?
O custo de agir é elevado, mas o custo de não agir é incomparavelmente maior. O caminho de Baku a Belém será, portanto, o trilho sobre o qual se decidirá não apenas o destino da política climática, mas também a sustentabilidade da própria economia mundial.