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Emoção pode ser medida e utilizada como dado estratégico

A inteligência emocional na IA está transformando a maneira como entendemos e interagimos com a tecnologia, trazendo novas oportunidades e desafios para empresas e indivíduos

 (Andrii Lemelyanenko/Getty Images)

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Publicado em 22 de agosto de 2025 às 07h00.

Por Thelma Valverde*

Durante décadas, construímos a inteligência artificial sobre um paradoxo: máquinas que processam informações de forma puramente racional para entender seres humanos que tomam decisões fundamentalmente emocionais. Esse paradigma está chegando ao fim.
A revolução não está apenas na capacidade de processamento ou na sofisticação dos algoritmos. Está na compreensão de que emoção é dado e, talvez, o mais estratégico de todos. Quando uma IA consegue interpretar não apenas o que alguém diz, mas como se sente ao dizer, estamos diante de uma transformação que redefine os limites entre tecnologia e humanidade.

O despertar da inteligência emocional artificial

A IA emocional representa mais que uma evolução técnica; é uma mudança de paradigma. Sistemas capazes de reconhecer microexpressões faciais, interpretar entonações vocais, analisar posturas corporais e até decodificar sentimentos em textos não são mais ficção científica. São realidade em funcionamento.

Tive a oportunidade de vivenciar esse potencial durante minha participação no Cocria inovabra, onde exploramos aplicações práticas da IA emocional em diferentes setores. O que descobrimos vai além da tecnologia: quando algoritmos compreendem emoções, eles não apenas processam dados – eles antecipam comportamentos.

O desenvolvimento colaborativo resultou em uma prova de conceito robusta que valida a capacidade de sistemas de IA emocional identificarem sinais comportamentais críticos. Através de testes controlados e demonstrações no Tech Day, incluindo análise em tempo real via webcam e processamento de uploads de vídeo, comprovamos que é possível detectar padrões emocionais associados a riscos operacionais, estados de fadiga e necessidades de intervenção preventiva.

Além dos números: o contexto que faltava

O mercado global de IA emocional deve atingir US$ 56 bilhões até 2024, segundo a MarketsandMarkets. Mas os números, por si só, não revelam a verdadeira dimensão dessa transformação. O diferencial está no contexto emocional que essa tecnologia adiciona aos dados tradicionais.

Considere um e-commerce que identifica abandono de carrinho. Dados convencionais mostram “o que” aconteceu. Já a IA emocional revela “por que” aconteceu: frustração com a interface, insegurança sobre o pagamento, ou simples distração. Essa distinção transforma reação em antecipação, correção em prevenção.

No ambiente corporativo, a aplicação é ainda mais transformadora. Sistemas de monitoramento emocional podem identificar colaboradores em situação de risco psicológico, permitindo intervenções preventivas. Na área de vendas, a análise emocional de clientes em tempo real possibilita ajustes instantâneos na abordagem, aumentando significativamente as taxas de conversão.

O imperativo ético da inovação responsável

Toda tecnologia disruptiva traz consigo questões éticas fundamentais, e a IA emocional não é exceção. A capacidade de "ler" emoções levanta preocupações legítimas sobre privacidade, consentimento e uso responsável de dados sensíveis.

Essas questões não podem ser tratadas como obstáculos, mas como pilares fundamentais do desenvolvimento. Estabelecemos que transparência não é opcional, é condição sine qua non para a adoção ética dessa tecnologia. Usuários devem saber quando suas emoções estão sendo analisadas, como esses dados são utilizados e que controle têm sobre eles.

A discussão sobre viés algorítmico também é central. Sistemas de IA emocional podem perpetuar preconceitos se não forem adequadamente calibrados para a diversidade cultural e individual das expressões emocionais. Por isso, a inclusão e a representatividade devem estar no centro do desenvolvimento, não na periferia.

O futuro é emocional e responsável

Estamos no limiar de uma era onde a inteligência artificial não apenas processa informações, mas compreende intenções. Onde algoritmos não apenas executam comandos, mas interpretam necessidades. Onde a tecnologia não substitui a empatia humana, mas a amplifica.

A IA emocional não é sobre máquinas que sentem, é sobre máquinas que nos ajudam a entender melhor como sentimos e como isso influencia nossas decisões. É sobre transformar a subjetividade das emoções em objetividade de dados acionáveis.

Mas esse futuro só se realizará plenamente se construído sobre fundamentos éticos sólidos. Dados sem empatia são apenas números, mas emoção com propósito pode ser uma verdadeira revolução, desde que essa revolução seja inclusiva, transparente e verdadeiramente humana.

O desafio não é mais técnico. É cultural. É sobre como escolhemos usar essa tecnologia para criar um mundo onde a inteligência artificial não apenas nos entende, mas nos ajuda a nos entendermos melhor.

*Thelma Valverde é CEO da eMiolo, uma startup de tecnologia focada em desenvolver soluções inteligentes e customizadas para grandes corporações. Com mais de 10 anos de experiência na liderança de projetos inovadores, Thelma tem sido uma força motriz na criação de softwares que impactam diretamente a eficiência operacional de grandes empresas. Sob sua liderança, a eMiolo foi reconhecida como uma das principais startups em Open Innovation no Brasil.

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