O hidrogênio verde é uma alternativa promissora para substituir o hidrogênio tradicionalmente obtido a partir de combustíveis fósseis, contribuindo assim para a redução das emissões de gases de efeito estufa. (Angel Garcia/Bloomberg/Getty Images)
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Publicado em 28 de fevereiro de 2025 às 13h00.
Por Nelson Silveira*
O Brasil possui um potencial único para se tornar um dos líderes na produção de hidrogênio verde, um combustível limpo e promissor para o futuro da energia. Além de ser um energético apontado como uma das principais soluções para a descarbonização da economia global, o hidrogênio verde, produzido a partir de fontes renováveis como a energia solar e eólica, garante um combustível limpo, sem emissões de gases de efeito estufa em sua utilização.
No entanto, a utilização do hidrogênio verde em larga escala ainda enfrenta desafios, como a necessidade de infraestrutura adequada para transporte e armazenamento, e custos de produção que precisam ser barateados para torná-lo competitivo no mercado.
O Brasil, por sua vez, possui vantagens únicas para antecipação desse cenário. O país tem um sistema interligado nacional de energia elétrica robusto, um mercado de biocombustíveis consolidado e grande potencial para geração de energia renovável.
Uma aplicação ainda pouco usual do hidrogênio verde está na produção de energia elétrica em térmicas com turbinas a gás movidas a 100% desse energético. Há projetos no Brasil que permitem a geração de energia elétrica totalmente limpa a partir da produção de hidrogênio verde, obtido da eletrólise da água, com energia renovável. São modelos inovadores que formam um arranjo operacional sustentável com tecnologias já existentes.
Além da energia firme para o sistema elétrico, é possível nesses arranjos tecnológicos produzir combustíveis como o metanol renovável, por exemplo. O modelo utiliza energia solar para alimentar eletrolisadores que produzem hidrogênio verde para a geração de energia elétrica em turbinas e ainda a produção do e-metanol a partir da captura de CO2 da queima de biomassa. Essa abordagem permite otimizar o uso do hidrogênio verde, reduzir custos e ampliar o uso local desse combustível, prescindindo de uma estrutura de transporte do gás.
O e-metanol, por exemplo, possui diversas aplicações e se destaca por sua versatilidade, podendo ser utilizado em diferentes setores, como o de transporte marítimo, reduzindo as emissões nesse segmento. É um combustível sintético produzido a partir da combinação de hidrogênio verde com CO2 capturado.
Nesse cenário de transição energética, em que além de soluções descarbonizadas é preciso ainda prover energia firme e segura, o Brasil possui um papel de destaque. O país tem a oportunidade de se tornar um dos principais produtores e exportadores de hidrogênio verde do mundo, impulsionando sua economia e gerando empregos. Mais ainda, com a associação da geração de energia à produção de metanol, pode ter os primeiros projetos no mundo de produção e uso contínuo de hidrogênio verde. Claro que para isso se concretizar é preciso, além de investimentos, um ambiente regulatório claro que ofereça segurança jurídica e atraia investidores.
Para que esses projetos inovadores possam auxiliar ainda mais o país na oferta de uma energia renovável, é preciso homologá-los no Leilão de Reserva de Capacidade para que possam competir nesse leilão e contribuir para a segurança energética e a descarbonização da matriz elétrica brasileira. A solução é reconhecer a equivalência do hidrogênio verde com o gás natural, fazendo com que dessa forma usinas térmicas movidas a hidrogênio verde sejam autorizadas a participar do certame e competir em igualdade de condições com as outras termelétricas.
Além disso, representará uma oportunidade única para o Brasil liderar a transição energética global, oferecendo um combustível limpo, versátil e com total flexibilidade operacional, um conceito extremamente necessário quando se fala em sistema elétrico integrado e os problemas observados com a entrada cada vez maior de fontes renováveis, notadamente a solar. Esses novos projetos colocam o Brasil na vanguarda do hidrogênio verde e introduzem mais uma fonte de energia renovável ao sistema nacional de energia, mas projetos dessa natureza só vão sair do papel se tiverem uma âncora, como o próximo leilão de reserva de capacidade.
*Nelson Silveira é CEO da Nexblue Energia
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