Entenda o FIB, indicador de Felicidade Interna Bruta (Hinterhaus Productions/Getty Images)
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Publicado em 28 de março de 2025 às 13h00.
Por Vanda Lohn*
Nos últimos anos, testemunhamos uma transformação profunda na forma como medimos o sucesso corporativo. Os relatórios financeiros, antes considerados únicos indicadores de desempenho, agora dividem espaço com métricas de impacto ambiental, responsabilidade social e bem-estar dos colaboradores. Esta mudança reflete um novo entendimento: empresas verdadeiramente bem-sucedidas são aquelas que prosperam financeiramente enquanto cuidam do planeta, das pessoas e de seus processos internos.
Esta evolução se materializa na integração de dois conceitos poderosos: o ESG (Environmental, Social, and Governance) e o FIB (Felicidade Interna Bruta). Juntos, eles estabelecem um novo paradigma onde o desempenho financeiro e a longevidade da organização estão diretamente ligados ao equilíbrio entre responsabilidade socioambiental, governança responsável e satisfação de quem trabalha nela.
O cenário atual revela a urgência desta transformação. Dados recentes divulgados pelo INSS mostram que o Brasil registrou no último ano mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais, um aumento de 68% e o maior patamar da última década. Por trás destes números estão pessoas reais enfrentando ansiedade, depressão e esgotamento profissional.
Ainda segundo o INSS, em 2023, nosso país registrou 421 afastamentos por Síndrome de Burnout, representando um crescimento de 136% em relação ao período pré-pandemia (2019). No acumulado dos últimos dez anos, os casos aumentaram quase 1.000%.
Estes números alarmantes evidenciam que algo está fundamentalmente errado na relação entre organizações e colaboradores, exigindo uma revisão profunda dos modelos de gestão.
Reconhecendo esta realidade, o próprio marco regulatório está evoluindo. A recente atualização da Norma Regulamentadora nº 01 (NR-01) estabelece diretrizes mais rigorosas para segurança e saúde no ambiente de trabalho, impondo às empresas a responsabilidade de mapear, avaliar e gerenciar continuamente os riscos que afetam o bem-estar dos colaboradores.
Fatores antes ignorados, como nível de estresse das funções, qualidade do sono, tempo de deslocamento e intensidade da interação com o público, agora precisam ser considerados na gestão de riscos ocupacionais. Esta mudança regulatória reflete um entendimento mais amplo e humanizado do que constitui um ambiente de trabalho saudável.
É importante reconhecer que o bem-estar no trabalho não é determinado apenas por fatores organizacionais. Existe uma relação de mão dupla entre vida pessoal e profissional que precisa ser considerada em qualquer estratégia efetiva.
Por um lado, problemas mal resolvidos na esfera pessoal inevitavelmente afetam o desempenho e as relações no ambiente corporativo. Por outro, situações estressantes no trabalho frequentemente transbordam para a vida familiar e social. Esta interdependência demanda uma abordagem holística, que considere o colaborador como um ser humano integral, não apenas como um recurso produtivo.
Quando examinamos mais profundamente os conceitos de ESG e FIB, percebemos que eles são complementares e mutuamente reforçadores. O ESG estabelece práticas responsáveis em relação ao meio ambiente, à sociedade e à governança, criando as condições estruturais para organizações mais éticas e sustentáveis. Já o FIB propõe medir o progresso organizacional pelo bem-estar coletivo, não apenas pelos resultados financeiros.
A convergência destes conceitos cria um ciclo virtuoso: ambientes de trabalho equilibrados retêm talentos e impulsionam a inovação, enquanto práticas responsáveis fortalecem a reputação da organização. Empresas que abraçam esta integração observam ganhos consistentes em produtividade, criatividade e lealdade – fatores essenciais para o crescimento sustentável no longo prazo.
Implementar esta visão integrada requer ações concretas em diferentes níveis da organização. Algumas estratégias fundamentais incluem:
A integração entre ESG e FIB representa mais que uma tendência passageira – é uma redefinição fundamental do propósito empresarial no século XXI. Organizações que abraçam esta visão não apenas sobrevivem em tempos de crise, mas se tornam referências em seus setores, atraindo os melhores talentos, investidores conscientes e consumidores alinhados com seus valores.
O futuro corporativo será inevitavelmente mais humano e sustentável. As empresas que compreenderem esta realidade agora, investindo na integração estratégica entre práticas de ESG e promoção da felicidade corporativa, estarão mais bem posicionadas para prosperar neste novo paradigma, consolidando-se como verdadeiros agentes de transformação positiva na sociedade.
*Vanda Lohn é Mentora e Consultora Sistêmica de Lideranças e Negócios. Tem a formação em Responsabilidade Socioambiental e Gestão do Terceiro Setor. Especialista em desenvolvimento de pessoas, felicidade corporativa, PNL e liderança sistêmica. Autora de "A felicidade não procura por vítima – Do eu soterrado ao arqueólogo do ser", criou o Mapa do Comportamento Sistêmico, metodologia voltada ao autoconhecimento e transformação de padrões.
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