(Bilanol/Getty Images)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 6 de junho de 2025 às 15h00.
A tempestade não é mais metáfora. Entre 2015 e 2024, eventos extremos custaram R$ 61 bilhões aos cofres estaduais brasileiros – valor que saiu do orçamento público para reparar estradas, redes de energia, hospitais e sistemas de saneamento danificados por secas, enchentes e tempestades.
No setor financeiro, o sinal de alerta também já soou: 44 % das instituições brasileiras relataram impacto direto de eventos climáticos em 2024, mais que o dobro do ano anterior (17%) e muito acima dos 16% de 2022. Enchentes no Rio Grande do Sul e secas no Sudeste puxaram o índice, mas especialistas veem o dado como indício de um “novo normal” – onde perdas por inadimplência, queda na produção agropecuária e oscilações de mercado viram rotina.
Esses números revelam a falácia de tratar a crise climática como ameaça futura: o impacto é presente, recorrente e crescente. Quando o mercado não precifica o risco – seja no custo do capital, nas apólices de seguro ou no planejamento orçamentário – ele apenas empurra a conta para governos, comunidades vulneráveis e, em última instância, para o contribuinte. Colocar preço correto nesse risco exige três movimentos coordenados:
Generalizar divulgações climáticas (TCFD, TNFD) e testes de estresse específicos, como já iniciou o Banco Central, para que ativos e passivos reflitam probabilidades de eventos extremos.
Ativos azuis, verdes e de resiliência, seguros e fundos de infraestrutura resiliente devem ganhar escala, direcionando capital para drenagem urbana, restauração de encostas e modernização de redes elétricas.
Ao remunerar a conservação e a restauração de florestas, solos e bacias hidrográficas, o país poderá reduzir riscos físicos (enchentes, secas), mitiga emissões e gera créditos alinhados ao Artigo 6 do Acordo de Paris, reforçando o caixa de Estados e municípios.
O Brasil já vive extremos simultâneos: estiagem prolongada no Centro-Oeste e chuvas recordes no Sul. A cada desastre, a reconstrução compete com saúde, educação e segurança no orçamento público. Investir em adaptação custa menos que reconstruir repetidamente; mas não basta erguer muros contra enchentes. É preciso acelerar a transição energética, reduzindo emissões que alimentam novos extremos, e recuperar ecossistemas degradados – o que trará múltiplos benefícios simultâneos, como ampliar a resiliência hídrica, sequestrar carbono e proteger a biodiversidade com retornos econômicos e desenvolvimento social.
Com a COP30 em Belém no horizonte, o Brasil tem a chance de liderar uma agenda que integre precificação de risco climático, financiamento de adaptação e transição justa. O cálculo econômico já mostrou que emergência climática não é mais um cisne negro improvável – ele bate à porta e cobra caro pela negligência. Dar preço ao risco, portanto, não é punição; é o passo necessário para redirecionar investimentos e construir uma economia capaz de prosperar em um planeta mais quente, mas – se agirmos agora – também mais resiliente e inclusivo.
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