Precisamos fazer nossa lição de casa e elevar a qualidade do jogo (Leandro Fonseca /Exame)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 10h00.
Última atualização em 14 de novembro de 2025 às 10h06.
O quarto dia da COP30 amanheceu com a formalização de um processo que vinha amadurecendo nas últimas conferências.
O reconhecimento da saúde como um aspecto crítico dos processos de adaptação às mudanças climáticas. Foi lançado aqui o Belém Health Action Plan (BHAP), iniciativa liderada pelo Brasil para fortalecer sistemas de saúde diante de um clima cada vez mais hostil.
Trata-se de um marco importante, não apenas por organizar ações de vigilância, capacitação local e inovação, mas por reconhecer que a crise climática já se traduz em riscos concretos às comunidades — e que proteger vidas exige preparação, não improviso.
Em um processo global frequentemente marcado por lentidão, o Plano de Belém para Ação em Saúde lembra que ainda é possível avançar quando o foco é salvar pessoas.
Na mesa-redonda ministerial sobre Educação Verde, organizada por Brasil e UNESCO, ficou claro que preparar sociedades para viver — e prosperar — em um mundo mais quente exige muito mais do que ajustar currículos.
Exige formar professores, fortalecer redes de aprendizagem e construir ambientes escolares capazes de inspirar ação climática desde cedo. Não há transição justa possível sem um processo educativo que democratize o acesso ao conhecimento e à capacidade de adaptação.
Em um tema correlato a esse, em um dos eventos paralelos da conferência, World Climate Summit, o professor Andrew Steer fez uma provocação muito interessante, lembrando que a capacidade de pensar no longo prazo tem um componente de gênero.
“E se as mulheres tivessem dois votos? Certamente os resultados das eleições seriam muito mais alinhados às decisões certas que precisam ser feitas”.
Por fim, outro tema de destaque - que pessoalmente considero fundamental - é a comunicação para sustentabilidade, finalmente tratada com a seriedade necessária.
Nesse sentido, foi lançada a Declaração sobre Integridade da Informação — a primeira vez que o tema aparece na agenda oficial de ação da conferência.
O documento estabelece compromissos internacionais para combater a desinformação climática e promover informação qualificada, baseada em evidências.
A inclusão do tema é um chamado direto à responsabilidade dos profissionais de comunicação. A banalização de conteúdos enganosos não é apenas um risco conceitual: ela mina políticas públicas, atrapalha consensos e corrói o senso de urgência.
Precisamos fazer nossa lição de casa e elevar a qualidade do jogo — aprofundar conhecimento, qualificar narrativas, traduzir temas complexos sem perder rigor e atuar, diariamente, no combate às falsas informações que atrasam a transição climática.