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Gestão Sustentável: por que (e como) as empresas devem ocupar o palco histórico que será a COP30

Belém recebe a COP30 em meio a desafios climáticos e oportunidades para empresas que buscam alinhar lucro e sustentabilidade em um mercado regulado de carbono emergente

Belém (PA), onde será realizada a COP30 (Cayambe/Wikimedia Commons)

Belém (PA), onde será realizada a COP30 (Cayambe/Wikimedia Commons)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 21 de maio de 2025 às 10h00.

Belém ainda ergue as estruturas da COP30, mas a cidade já funciona como metáfora do que está em jogo: às margens de um rio que tanto sustenta a vida quanto ameaça transbordar, governos, sociedade civil — e, sobretudo, empresas — são chamados a mostrar se conseguem navegar um mundo em transição. Para o setor privado brasileiro, o evento será o chamado “momento da verdade”: quem chegar apenas em busca de holofote sairá com fotos; quem trouxer ambição lastreada em entregas voltará com mercados, parceiros e vantagem competitiva.

A primeira prova de legitimidade começa antes mesmo do embarque. Metas climáticas alinhadas ao Acordo de Paris, baseadas em ciência e com cronograma claro, deixaram de ser “diferencial” e tornaram-se porta de entrada. Empresas que tratam descarbonização como projeto paralelo correm o risco de desembarcar em Belém operando, aos olhos dos stakeholders, no passado. E a conferência não perdoa anacronismos: o debate hoje avança para planos de adaptação que antecipem impactos físicos nas cadeias de suprimentos, integrem risco climático ao core financeiro e, principalmente, apontem a alocação de capital necessária para acelerar a transição energética.

Nesse ponto, o Brasil chega à COP30 com uma carta que poucos países possuem: um mercado regulado de carbono aprovado pelo Congresso e prestes a entrar em operação.

O papel do mercado regulado de carbono

O Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões definirá tetos para setores intensivos, criará preço doméstico para CO₂ e abrirá vias de integração com o mercado voluntário, valorizando ativos florestais da Amazônia. Nada disso acontecerá, porém, sem regras robustas de governança e, sobretudo, sem um diálogo transparente entre empresas e reguladores. A legitimidade desse processo — assim como da própria COP — dependerá da capacidade de o setor privado participar de forma produtiva, oferecendo dados, propostas e até críticas que melhorem a qualidade da regulação.

Vale lembrar que o engajamento não se resume à mesa de negociação. Enquanto a visão macro se desenrola, existe um laboratório vivo de inovação no entorno da conferência. Projetos de mobilidade elétrica fluvial, saneamento de baixas emissões, hidrogênio verde e bioeconomia amazônica encontrarão em Belém um palco único para provar escala e retorno. Empresas de impacto na área de regeneração, por exemplo, terão chance de conectar ciência local a capital internacional, reforçando a tese de que proteger a floresta e gerar lucro são partes do mesmo balanço.

Desafios para compromissos concretos

Nada disso será fácil. O escrutínio sobre anúncios corporativos em COPs cresceu à mesma velocidade que o vocabulário ESG ganhou traduções duvidosas. Por isso, qualquer compromisso lançado em Belém deve vir acompanhado de governança, métricas e, preferencialmente, investimento já contratado. A conferência é vitrine, mas também lupa: amplifica acertos e expõe promessas vazias.

Para os conselhos de administração, o roteiro é simples de enunciar e árduo de cumprir: atualizar inventários de emissões, transformar ambição em metas de curto prazo, financiar tecnologia que reduza carbono agora e proteger as operações contra extremos climáticos que já batem à porta. Quem dera fosse apenas uma check-list; na prática, trata-se de redefinir modelos de negócio, rever cadeias de valor e, muitas vezes, disputar narrativas internas sobre o que constitui “retorno” no século XXI.

A importância estratégica da Amazônia e da reputação

Belém, portanto, não é destino turístico no calendário de ESG. É um momento histórico no qual a Amazônia deixa de ser retórica e vira critério de investimento. A COP30 lembrará, a quem ainda duvida, que competitividade e regeneração precisam coexistir no mesmo plano estratégico. A boa notícia é que oportunidade e risco se apresentam juntos: quem se adiantar colherá os frutos da economia verde; quem hesitar enfrentará barreiras de carbono, perda de mercado e custos de capital crescentes.

Há, por fim, um elemento intangível que costuma escapar às planilhas: reputação. Participar da COP30 com substância — e não apenas com estande bem iluminado — pode solidificar décadas de confiança junto a consumidores, investidores e governos. Em um mundo cada vez mais regulado por critérios de sustentabilidade, reputação converte-se em valor patrimonial.

A COP30 será, em última instância, um teste de coerência. Empresas que compreenderem seu papel no pacto climático, mapearem riscos e oportunidades, investirem na transição energética e dialogarem de forma transparente com o poder público terão muito a ganhar. Não porque a conferência conceda indulgências, mas porque o mercado, na volta, premiará quem demonstrar que lucro e futuro cabem na mesma linha de resultado.

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