Cerque-se de pessoas que agregam energia e conhecimento, planeje meticulosamente, tenha resiliência
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Publicado em 2 de outubro de 2025 às 15h00.
Por Julio Amorim*
A decisão de cruzar fronteiras, sejam elas físicas ou mercadológicas, nunca começa com um passo à frente, mas sim com um turbilhão interno de dúvidas. Antes de colocar os pés em solo estrangeiro, os maiores obstáculos já se erguem.
O medo do idioma, a apreensão sobre como se conectar com clientes desconhecidos e a incerteza sobre se o produto ou serviço será aceito em um mercado com costumes e expectativas tão distintos.
Questões práticas de logística, legislação e recursos financeiros multiplicam a sensação de que o sonho está a ponto de escapar pelos dedos. São nessas noites de insônia, diante de "nãos invisíveis", que a coragem e a resiliência são verdadeiramente testadas.
É fácil sentir vontade de desistir, mas é justamente nesse momento que se aprende a enxergar oportunidades onde outros só veem barreiras intransponíveis.
A primeira é que a força espiritual – a fé e a crença interior – é o alicerce, mas sozinha não basta. É fundamental combinar essa determinação com um método claro.
Conhecer o mercado a fundo, entender clientes e concorrentes, e buscar técnicas estruturadas são pontos que transformam o medo em ação. Aprendi, de forma prática, que ter ao lado alguém com desejo genuíno de vencer, determinação e, crucialmente, fluência no contexto local faz uma diferença abissal.
Essa parceria estratégica acelera o aprendizado, abre portas e traduz não apenas palavras, mas intenções, revelando que cada obstáculo, quando enfrentado com apoio e método, é uma lição de adaptação e clareza de propósito.
Tal experiência é um microcosmo perfeito dos desafios que empresas e líderes enfrentam ao expandir seus negócios, seja para outro estado ou para outro continente. A semelhança é gritante.
Em qualquer cenário, a ausência de um plano de negócios mínimo é como viajar sem mapa: você fica à mercê apenas da atitude, que, embora vital, é insuficiente para garantir o sucesso. A gestão de riscos torna-se essencial.
Mapear ameaças potenciais – operacionais, culturais, legais – e aprender com os erros de quem já tentou antes é o que separa a aventura da expedição estratégica. Planejar com antecedência, tanto para uma viagem quanto para uma expansão corporativa, é a ferramenta mais poderosa para reduzir incertezas.
Significa antecipar logística, documentação, cultura e, principalmente, conectar-se com pessoas e grupos estratégicos que facilitam a entrada em um novo ecossistema.
A burocracia internacional, assim como os entraves empresariais no Brasil, existe e deve ser encarada com realismo. A obra “Potência Empreendedora”, de André Duek, por exemplo, é uma excelente referência para quem busca o mercado exterior. O segredo está em como a enfrentamos.
Envolver especialistas que conhecem o terreno é a chave para transformar processos aparentemente complexos em etapas gerenciáveis. Da mesma forma, ao atravessar essas "fronteiras organizacionais", a governança deve ser uma aliada da agilidade, e não uma inimiga.
Transparência e rapidez são pilares. Como líder, percebo que a governança ideal é aquela que oferece segurança e direcionamento sem engessar a operação, permitindo decisões ágeis com visão estratégica.
Todas essas vivências culminam em lições de liderança fundamentais: empatia e resiliência. A empatia genuína nasce da necessidade de compreender contextos, costumes e expectativas radicalmente diferentes.
A resiliência é forjada na capacidade de manter o foco no propósito, mesmo quando obstáculos inesperados testam nossa paciência e disciplina. Líderes que desenvolvem essas competências conseguem tomar decisões mais assertivas, equilibrando resultados com o olhar cuidadoso para as pessoas.
Se toda essa experiência pudesse ser sintetizada em um conselho para quem almeja a internacionalização, ele seria: jamais deixe de sonhar quando todas as respostas ao seu redor gritam "não".
Cerque-se de pessoas que agregam energia e conhecimento, planeje meticulosamente, tenha resiliência para enfrentar os obstáculos e empatia para navegar por novas culturas. Sonhar é o ponto de partida, mas a ação estruturada e consistente é o que constrói a ponte entre a visão e a realidade.
A principal lição que fica é clara: coragem, planejamento e consistência transformam obstáculos em oportunidades e sonhos em resultados. Essa é a essência de não apenas cruzar fronteiras, mas de conquistar novos horizontes.
*Julio Amorim é CEO da Great Group, especialista em planejamento e autor do livro "Escolha Vencer: Criando o Hábito de Conquistar Sonhos e Objetivos”.