Empreendedores precisam entender como a perspectiva de saída se tornou importante para os investidores (Igor Suka/Getty Images)
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Publicado em 10 de novembro de 2025 às 10h00.
Por Wana Schulze*
Durante anos, o ecossistema de inovação viveu sob a lógica de crescimento a qualquer custo. Rodadas sucessivas, valuations crescentes e métricas de vaidade pareciam ser o combustível inesgotável das startups.
Mas o tempo da liquidez fácil passou e com ele, a régua de sucesso se reposicionou. Em 2025, o olhar dos investidores volta-se menos para a rodada seguinte e mais para a possibilidade real de saída.
No mercado de venture capital, o “exit” – a saída de um investimento via M&A, IPO ou secundário – deixou de ser um tema de fim de jornada para se tornar parte central da tese desde o início.
A lógica mudou: não basta crescer rápido, é preciso construir um negócio que alguém queira comprar, integrar ou listar.
De acordo com a KPMG Global Venture Pulse Q3 2025, o valor global das saídas de VC subiu para US$ 149,9 bilhões, impulsionado por um tímido retorno dos IPOs nos Estados Unidos e na Ásia.
Ainda assim, estamos longe do pico de 2021, quando o volume global ultrapassava US$ 600 bilhões.
Na América Latina, o movimento é ainda mais comedido. Segundo o Latin America Venture Capital Report 2025, houve apenas 79 exits em 2024, somando cerca de US$ 1,9 bilhão – a menor marca recente.
Investidores institucionais, CVCs e fundos de pensão estão ajustando suas teses. O que se busca agora são empresas capazes de gerar caixa, sustentar margens e, sobretudo, destravar liquidez em horizontes previsíveis. O tempo de segurar startups indefinidamente no portfólio acabou.
Com menos saídas, há um efeito cascata: os fundos de estágios avançados (growth e late stage) reduzem o ritmo de investimento, o que pressiona os fundos early stage, e assim por diante. O pipeline de liquidez se alonga, o capital recicla mais lentamente e os múltiplos encolhem.
Esse movimento força uma redefinição da relação risco-retorno. Startups que antes buscavam valuations agressivos estão revendo estratégias. Hoje, um M&A estratégico a múltiplos sustentáveis vale mais do que uma Série C inflada sem perspectiva de saída.
Enquanto o mercado global começa a ensaiar o retorno dos IPOs, no Brasil a liquidez vem principalmente das operações de M&A.
Grupos estratégicos seguem ativos em setores como saúde, fintech e energia, adquirindo startups que oferecem tecnologia validada, eficiência e sinergia operacional.
À medida que o país se aproxima das eleições de 2026, o apetite por risco tende a oscilar, e investidores institucionais e estratégicos adotam uma postura mais seletiva, priorizando negócios com geração de caixa e governança sólida.
As empresas estão focadas em aquisições que tragam tecnologia, canais e eficiência operacional, em vez de promessas de crescimento futuro.
O investidor em 2025 está olhando para três dimensões de saída antes mesmo de aportar:
A startup que demonstra ter clareza sobre esses pontos conquista vantagem. O empreendedor que sabe explicar como e para quem sua empresa pode sair inspira mais confiança do que aquele que promete “ser o próximo unicórnio”.
O mercado global de venture capital ainda está longe da exuberância de 2021, mas avança para um ciclo mais racional. A nova régua de sucesso não é o valuation de entrada, e sim a capacidade de gerar liquidez com propósito e consistência.
Na América Latina, onde o ecossistema amadurece rapidamente, a próxima onda de valor virá das startups que entendem desde cedo como construir um negócio adquirível. Isso significa:
O ciclo de exits está apenas recomeçando e quem compreender essa dinâmica agora estará mais preparado para surfar a próxima onda do venture capital.
*Wana Schulze é tem experiência no mercado financeiro e consultoria estratégica, com passagens pelo Itaú BBA, Societé Générale, PIMCO e McKinsey. Atualmente, é Head de Investimentos e Portfólio da Wayra e Vivo Ventures.