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Nem vilã, nem salvação: a CLT como ponto de partida para o futuro dos jovens

Em meio a memes e discussões sobre o trabalho formal, pesquisa revela que a CLT ainda oferece crescimento e estabilidade para muitos jovens

Esse debate não precisa ser sobre defender um ou outro lado (RafaPress/Getty Images)

Esse debate não precisa ser sobre defender um ou outro lado (RafaPress/Getty Images)

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Publicado em 10 de julho de 2025 às 10h00.

Por Andrea Matsui, CEO da Generation Brasil.

Lá se foi a geração das carreiras consolidadas, dos planos de crescimento e das histórias de décadas em uma mesma empresa? Nos últimos meses, muito se falou sobre uma suposta rejeição dos jovens ao trabalho com carteira assinada. O debate, que agora está dominando as redes sociais com direito até a memes contra a CLT, tem caracterizado a formalidade como sinônimo de rigidez e baixa remuneração, posicionando o trabalho informal e o empreendedorismo como a saída para a autonomia e o crescimento financeiro. Bem diferentes das antigas gerações que sonharam em construir carreiras e passavam anos em uma mesma empresa.

A grande questão é se essa polarização está nos impedindo de olhar com mais profundidade para o contexto do jovem e o que está, ou não, sendo construído para o futuro profissional daqueles que estão entrando ou se estabelecendo no mercado de trabalho.

É natural e legítimo que muitos jovens busquem autonomia, propósito e flexibilidade em suas vidas; são, inclusive, características pelas quais a Geração Z é muitas vezes descrita. Mas também é preciso considerar o tempo e os desafios para chegar nesse patamar de autonomia. É muito difícil empreender e assumir riscos, principalmente quando se vive no limite do dia a dia, com pouca rede de apoio, portanto, bem mais difícil do que muitos influenciadores fazem parecer. Embora existam diversos programas de formação em empreendedorismo que podem ajudar a construir esse caminho, os desafios e as instabilidades vão muito além do que os criadores de conteúdo mostram nos posts do dia a dia. Temos, sem dúvidas, espaço para melhorar as condições e o ambiente de trabalho em muitas empresas, e parte da rejeição dos jovens foi construída por verem seus familiares trabalharem sem perspectivas. Os modelos de trabalho também precisam ser repensados para os novos tempos e contemplar essa geração que não quer viver para o trabalho e que valoriza a qualidade de vida mais do que qualquer outra.

O papel da CLT no crescimento profissional e pessoal dos jovens

O Ministério do Trabalho e Emprego apontou que metade dos jovens empregados pediram demissão em 2024. Uma pesquisa publicada pelo Brasil de Fato mostrou que 36% dos jovens de 18 a 24 anos que deixaram empregos com carteira assinada citaram os baixos salários como principal motivo; 26% mencionaram saúde mental e 20%, a rigidez da jornada de trabalho. Por outro lado, há quem encontre no CLT uma saída para a informalidade, renda fixa e apoio financeiro para mudar de vida.

Nesse sentido, a pesquisa Alumni Generation, realizada pela Generation Brasil com uma amostra significativa dentre os mais de 4 mil formados, mostra que 73% dos ex-alunos empregados através dos programas da ONG tiveram um aumento de salário no último ano, o que demonstra que empregos formais podem oferecer crescimento de carreira e de remuneração. Além disso, 83% dos graduados da instituição se sentem satisfeitos com a própria vida, um indicativo de que a segurança e as perspectivas do emprego formal contribuem significativamente para o bem-estar geral.

Essas pessoas passam a ter renda previsível e estável, acesso a direitos e benefícios e, principalmente, perspectivas reais de crescimento de carreira. Não se trata de idealizar a CLT, mas de reconhecer o valor dessas oportunidades e a mudança de qualidade de vida que vemos acontecer. A mesma pesquisa Alumni Generation mostra que 77% dos alunos graduados pela instituição estavam desempregados antes do programa, e a renda média anual deles saltou de menos de um salário mínimo para quase três vezes esse valor após a formação e o emprego fixo. Além disso, 85% continuam empregados após três anos, mostrando a sustentabilidade dessas oportunidades.

Alternativas para os jovens e a importância de programas de formação

Há de se falar também sobre quais são as alternativas reais para os milhões de jovens que saem do ensino médio sem formação técnica, com poucas conexões no mercado e precisando contribuir na renda da família. A informalidade não é, para a maioria, uma escolha, é muitas vezes a única opção. Mais do que gerar renda no curto prazo, precisamos pensar em soluções de longo prazo para que, independente da opção, nossos jovens possam desenvolver carreiras de sucesso, pagar suas contas, conquistar seus sonhos e se preparar para o futuro. Precisamos garantir que mais jovens tenham acesso ao primeiro passo e que esse passo leve, de fato, a algum lugar.

Esse debate não precisa ser sobre defender um ou outro lado, mas sobre ampliar os caminhos possíveis. O emprego formal pode ser, sim, uma ferramenta de mobilidade e de dignidade. Quando associado à formação e à perspectiva de crescimento, ele deixa de ser um destino e passa a ser o início de uma trajetória sustentável que, no longo prazo, constrói não só uma carreira, mas uma vida com mais escolhas.

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