Em diversos setores, a IA será a evolução natural
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Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 10h00.
Por Christian Struve e Carolina Escobar*
A Inteligência Artificial (IA) não é mais apenas uma ferramenta, é uma mudança nos processos e uma aliada à competitividade dos negócios.
De acordo com um estudo da Deloitte, 58% das grandes empresas no Brasil já utilizam IA em suas operações diárias e, desse total, 79% planejam expandir seu uso para novas áreas.
Esses números confirmam que a tecnologia está atuando como um agente de transformação transversal, impactando diretamente a cultura organizacional das corporações.
Isso acontece, principalmente, em três níveis das operações: na automatização de processos rotineiros, transformação de big data em decisões inteligentes e exposição de padrões que antes eram invisíveis.
Essas mudanças possibilitam com que as empresas consigam operar com maior eficiência, oferecendo experiências mais personalizadas e proporcionando às equipes menor tempo gasto com tarefas repetitivas.
Nesse sentido, a IA pode ser considerada um agente de transformação neste processo, pois permite compreender como a cultura organizacional realmente opera, identificando lacunas entre o discurso e a prática, lideranças que potencializam ou prejudicam, tornando-se uma aliada na construção de empresas mais coerentes e autoconscientes.
A cultura organizacional dentro de uma companhia é um processo que se desenvolve a partir da tomada de decisões, dos valores estipulados e dos exemplos trazidos pelas lideranças.
Uma cultura sólida e consistente é formada ao alinhar os valores às pessoas que fazem parte do ambiente de uma empresa, sendo capaz de determinar o sucesso de mudanças ou iniciativas, visto que um local de trabalho desequilibrado não contribui para a proliferação de inovação.
Existem diversas estratégias para alcançar essa maturidade cultural, no entanto o relatório MIT SMR-BCG aponta que a adoção de IA pode ser um impulsionador nesse processo, incentivando colaboradores e beneficiando diretamente a cultura organizacional.
Nesse sentido, ao incorporar Inteligência Artificial à cultura, tanto os processos quanto a mentalidade da empresa são alterados.
O principal impacto dessa adoção é a transição para uma conduta orientada por dados e decisões baseadas em análises objetivas que impulsionam valores como transparência e imparcialidade.
Esse processo faz parte da jornada digital das organizações em um mundo cada vez mais tecnificado. Nesse sentido, a transformação tecnológica é, acima de tudo, uma transformação cultural.
Assim sendo, o formato de liderança empregado também se altera, com o foco voltado para a empatia e a capacidade de gestão, ao invés do controle e conhecimento técnico. A mentalidade de inovação contínua ganha espaço na busca por uma cultura de criação de valor com suporte da tecnologia.
A adoção da IA como ferramenta para aprimorar a cultura organizacional também pode gerar uma resistência, principalmente, em suas fases iniciais.
No entanto, as organizações que conseguem transformar essa preocupação em curiosidade são as que acabam avançando e incorporando a tecnologia com maior agilidade.
A transformação cultural gerada pela IA não é intangível, pois se reflete em indicadores específicos, como a taxa de adoção de tecnologia, o número de projetos-piloto que passam a fazer parte do core do negócio ou melhorias na eficiência operacional e redução de erros.
Existem também métricas mais subjetivas, como o nível de engajamento da equipe, a satisfação interna, inovação cultural, estilo de liderança e, crucialmente, a velocidade com que as decisões são tomadas.
A inserção da Inteligência Artificial em processos da cultura organizacional não substitui as habilidades tradicionais dos setores, mas ajuda a capacitá-las.
Além das competências técnicas usuais, são adicionadas a elas conhecimentos digitais e analíticos. Isso significa que as equipes não gastam mais tempo em tarefas repetitivas, mas se concentram no planejamento, análise e melhoria contínua do fluxo de trabalho.
No setor de manutenção de ativos, por exemplo, o técnico se torna um gestor estratégico dos bens de uma empresa, capaz de tomar decisões com base em dados e agregar ainda mais valor ao negócio.
Entretanto, com a IA e agentes inteligentes, as organizações reduzem as ações reativas e começam a construir operações mais resilientes e eficientes com estratégia.
A integração desordenada da IA pode desafiar valores éticos muito sensíveis, desde vieses nos dados que podem gerar decisões injustas até a dificuldade de atribuir responsabilidade quando uma decisão é automatizada.
Esse é um dos principais obstáculos ao utilizar ferramentas digitais, considerando que a tecnologia não pode ser guiada pelos mesmos critérios morais que orientam as pessoas.
Dessa maneira, mesmo que um agente de IA seja treinado de acordo com certos valores, a mensuração do questionamento ético posto à prova durante as operações é complexa, pois são padrões abstratos para uma tecnologia que funciona, quase que em sua totalidade, de maneira objetiva.
Integrar a IA de maneira responsável é um processo que exige princípios éticos claros e que atuem como um direcionamento para a empresa.
Destacam-se nesse contexto supervisão humana, justiça e ausência de viés nos algoritmos, transparência, rastreabilidade, privacidade, segurança de dados, lucro e bem-estar, no sentido de que a IA deve estar a serviço das pessoas e da sociedade, não apenas da eficiência ou da lucratividade que pode proporcionar.
Essas diretrizes funcionam como uma referência para que os benefícios oferecidos pela Inteligência Artificial não ofusquem suas implicações, independentemente da atratividade do recurso tecnológico para as organizações.
Em diversos setores, a IA será a evolução natural para um futuro em que os sistemas antecipam, decidem e executam em tempo real, e as equipes humanas lideram com visão estratégica, como na manutenção reativa e preditiva que será substituída pela manutenção autônoma.
Sendo assim, o trabalho da IA se tornará cada vez mais onipresente e colaborativo. E a tecnologia não estará mais em uma área específica, mas integrada a todos os processos, desde a estratégia até a operação diária.
As empresas que lideram o mercado serão aquelas com cultura organizacional consistente e capazes de combinar tecnologia e talento humano. Isso requer flexibilidade, aprendizado contínuo e uma referência ética muito clara, além de um aliado estratégico para acompanhar e prestar consultoria durante essa mudança para uma gestão mais inteligente.
*Christian Struve é CEO e Co-founder e Carolina Escobar é Diretora de Recursos Humanos da Fracttal, multinacional que está revolucionando a manutenção e a gestão de ativos por meio de tecnologia de ponta.