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Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h00.
Por Gabriela Lobato Marins*
Discutir o papel do Brasil na transição climática exige reconhecer que nossos recursos marinhos e costeiros não são apenas um patrimônio ambiental, mas uma base concreta para um novo modelo de desenvolvimento.
O uso sustentável desses ativos, que envolvem biodiversidade, logística, pesca, energia, turismo e inovação, deve estar no centro da agenda climática brasileira. Não apenas como complemento, mas como parte estruturante de uma economia capaz de crescer, incluir e preservar ao mesmo tempo.
A COP30, que ocorrerá em Belém em novembro, nos oferece uma oportunidade única para debater essa visão. Ao trazer a maior conferência climática do mundo para a Amazônia, o Brasil evidencia o protagonismo de uma região que reúne em si os dilemas e as soluções da crise climática.
Mas esse gesto, simbólico e poderoso, só será completo se soubermos ampliar o campo de visão. É preciso incluir o oceano no debate. E, com ele, tudo o que as águas representam: estabilidade climática, segurança alimentar, geração de energia limpa, comércio exterior, turismo, proteção do meio ambiente, inovação e justiça social.
A chamada Economia Azul traduz, com precisão, esse potencial. Esse conceito propõe uma articulação entre crescimento econômico e conservação marinha, estruturando cadeias produtivas sustentáveis e de alto valor agregado.
É um caminho natural para o Brasil, que possui uma das maiores zonas costeiras do planeta, abriga mais de 25% de sua população em áreas litorâneas e tem no mar uma das suas mais importantes plataformas logísticas e econômicas.
Essa transição já começou. O governo federal iniciou a estruturação do Programa Amazônia Azul, com foco em atividades produtivas sustentáveis e inclusão de comunidades costeiras. O BNDES vem apoiando projetos estratégicos como o Planejamento Espacial Marinho, fundamental para o ordenamento do uso múltiplo do território oceânico.
Estados como Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro têm mobilizado agendas próprias voltadas à economia do mar, com destaque para o mapeamento do setor náutico, iniciativas de inovação azul e programas de governança costeira.
Mas esses esforços, embora relevantes, ainda são dispersos. Falta ao Brasil uma política nacional clara, integrada e ambiciosa para a Economia Azul, com metas, instrumentos de financiamento, articulação federativa e reconhecimento explícito em nossas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). O país que sediará a COP30 precisa demonstrar que está pronto para liderar com responsabilidade e visão estratégica.
Falar de Economia Azul é falar de futuro. Um futuro que integra proteção ambiental, geração de empregos resilientes, negócios alinhados à transição para uma economia de baixo carbono, adaptação às mudanças climáticas nas cidades costeiras e investimento em inovação e biotecnologia marinha.
É também uma oportunidade de reposicionar o país no cenário internacional, valorizando seus ativos naturais e produtivos por meio de uma visão de desenvolvimento que alia inteligência econômica, responsabilidade social e compromisso ambiental.
Na COP30, o Brasil terá uma vitrine global para apresentar ao mundo seu modelo de transição ecológica justa. Se quisermos ocupar esse espaço com autoridade, o mar precisa estar no centro do discurso e das decisões.
O planeta já entendeu que não há futuro possível sem floresta. Chegou a hora de lembrar que também não haverá futuro sem oceano.
*Gabriela Lobato Marins é CEO da BR Marinas.