Envelhecer agora é sinônimo de viver intensamente (Halfpoint images/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 10h00.
Por Rodrigo Pastore*
Durante muito tempo, o marketing carregou uma visão limitada sobre a idade: campanhas focadas quase exclusivamente nos jovens, enquanto o público 60+ era tratado como homogêneo, pouco digital e preso a estereótipos ultrapassados.
Mas os tempos mudaram — e o mercado começa, ainda que lentamente, a perceber que o futuro é prateado.
O Brasil caminha para se tornar um dos países que mais envelhecem no mundo. Segundo projeções do IBGE, até 2070, o número de pessoas com mais de 60 anos deve mais que dobrar, passando de 33 milhões para aproximadamente 75 milhões de pessoas.
Já em 2024, o público prateado demonstrou sua força econômica ao movimentar R$ 1,8 trilhão, o que representa 24% de todo o consumo privado nacional — um dado que reforça sua crescente relevância estratégica para marcas e mercados.
O público maduro viaja com frequência, aprecia roteiros planejados e está disposto a investir em conforto, segurança e experiências memoráveis. Mas, mais do que isso, ele busca um valor simbólico: pertencimento. Quer viver e compartilhar experiências, e espera que marcas o tratem como protagonista, não como figurante.
O velho estereótipo do idoso avesso à tecnologia caiu por terra. Dados do IBGE mostram que, em 2023, 66% dos brasileiros com 60 anos ou mais já utilizavam a internet, um crescimento expressivo frente aos 24,7% registrados em 2016.
Entre os idosos, o celular é o principal meio de acesso à internet, usado para redes sociais, mensagens e buscas. Plataformas como Facebook continuam gerando volume relevante de leads, enquanto o Instagram cresce como canal de conversão, especialmente em nichos como viagens e bem-estar.
Ainda, o Google tem papel fundamental, não só para o público prateado, mas também para seus filhos e familiares que pesquisam serviços especializados para essa faixa etária.
Esses dados reforçam a necessidade de estratégias de marketing digital inclusivas e alinhadas ao perfil ativo e conectado do público 60+.
Pesquisa, compara, busca experiências personalizadas e dá muito valor ao atendimento humanizado e à prova social. Vídeos, fotos e, sobretudo, depoimentos autênticos de outros consumidores da mesma faixa etária são decisivos para gerar confiança e desejo.
Embora mais digitalizados, muitos ainda preferem jornadas de compra intuitivas e com suporte humano. O contato pessoal e o acolhimento sempre serão um diferencial.
E há um traço marcante: o consumidor maduro não compra produtos ou serviços — ele investe em histórias para contar. Para ele, uma viagem, um jantar ou um passeio são narrativas que ampliam a sua identidade, e o marketing que entende isso cria conexões profundas.
O maior erro das marcas ainda é subestimar esse público, reforçando estereótipos ou infantilizando a comunicação. O público prateado não quer ser tratado como “vovô” ou “vovó” frágeis, mas sim como indivíduos autônomos, curiosos e protagonistas de sua própria jornada.
O marketing prateado não é mais uma tendência — é uma realidade pujante. E o setor de turismo talvez seja o mais sensível a isso: entende que envelhecer não significa parar, mas sim partir… para novas viagens.
As marcas que souberem enxergar o público 60+ como um segmento diverso, ativo e altamente influente terão não apenas vantagem competitiva, mas a oportunidade de participar de um movimento cultural importante: o de reposicionar o envelhecimento como uma etapa de expansão, descoberta e reinvenção.
Em um país que está envelhecendo rapidamente, essa é a hora de abandonar clichês e criar estratégias que conversem com o que de fato move esse público: o desejo de viver intensamente.
*Rodrigo Pastore fundou as marcas Pastore Travel, Pastore Luxury e Pastore DMC Brazil, transformando o negócio em um grupo. Em 2024, como co-CEO e sócio, lidera a expansão da marca, que cresceu 23% e dobrou o faturamento, além de conduzir o projeto de franquias e filiais.