O cenário atual é alarmante, mas oportunidades podem ser encontradas (Freepik/Freepik)
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Publicado em 24 de abril de 2025 às 10h00.
Por Denis Zanini e Valdeilton Bandeira
A saúde mental no trabalho vem deixando de ser uma questão secundária para se tornar um imperativo estratégico. A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) e a Lei nº 14.831, de 27 de março de 2024, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, são marcos importantes nesse reconhecimento.
Juntas, elas visam não apenas assegurar condições físicas de trabalho, mas também proteger a saúde mental e emocional dos colaboradores. Sabemos que, em muitas situações, o ambiente corporativo pode ser fonte de estresse, ansiedade e burnout, impactando diretamente o bem-estar dos trabalhadores e, consequentemente, a produtividade e os resultados da empresa. A adequação a esta nova realidade coloca em pauta a necessidade de implementar ações que previnam o adoecimento mental, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado. Mas, para além do cumprimento legal, reside uma oportunidade de transformação profunda nas organizações: o investimento no autoconhecimento como pilar para um ambiente de trabalho mais saudável e de alta performance.
Os números não deixam margem para dúvidas. Os transtornos mentais respondem por cerca de 30% dos afastamentos totais por doenças no Brasil. E as mulheres são particularmente afetadas, representando 75% dos trabalhadores que tiraram licença médica por problemas de saúde mental em 2023.
Em 2024 o número de afastamentos apresentou um aumento de 68% em comparação a 2023, chegando a 472 mil. A principal causa dos afastamentos foi relacionada a transtornos de ansiedade, respondendo por mais de 141 mil afastamentos. Sobrecarga de trabalho, ambientes tóxicos, falta de suporte, insegurança e desequilíbrio entre vida pessoal e profissional são fatores que contribuem para o estresse, a ansiedade e o burnout. As empresas que negligenciam a saúde mental de seus colaboradores correm sérios riscos, como multas, processos trabalhistas e danos à reputação, além da redução de sua produtividade e competitividade.
Diante desse cenário, o autoconhecimento surge como a tecnologia mais poderosa, inovadora e disruptiva para a reinvenção de pessoas e empresas. Gerenciar uma equipe formada por profissionais sem autoconhecimento é como tentar encaixar um círculo em uma lacuna quadrada. Não tem como encaixar.
Quando os colaboradores se conhecem profundamente, eles são capazes de identificar seus gatilhos de estresse, gerenciar suas emoções e estabelecer limites saudáveis e por conseguinte também auxiliar outros colegas. O autoconhecimento permite que cada indivíduo se conecte com sua singularidade, seu propósito e seus valores, o que aumenta a motivação, o engajamento e a resiliência.
É justamente essa conexão com a singularidade e o propósito que pavimenta o caminho para a felicidade no trabalho. Quando um colaborador se sente autêntico, valorizado e alinhado com o que faz, ele experimenta um senso de pertencimento e realização que transcende o simples cumprimento de tarefas. O autoconhecimento, portanto, é o alicerce sobre o qual se constrói a felicidade no ambiente profissional, transformando o trabalho em uma fonte de satisfação e bem-estar.
A felicidade no trabalho não é apenas um estado emocional desejável, mas um motor propulsor de desempenho. Estudos comprovam que colaboradores felizes são mais produtivos, criativos e engajados. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, por exemplo, revelou que trabalhadores felizes são, em média, 31% mais produtivos, 37% mais criativos e vendem 23% mais. Além disso, eles são 10 vezes mais engajados e têm 65% menos chances de faltar ao trabalho.
Shawn Achor, especialista em psicologia positiva e autor do livro O Jeito Harvard de Ser Feliz, demonstra que a felicidade é um diferencial competitivo. Ele argumenta que o cérebro no estado positivo tem um desempenho significativamente melhor do que no estado neutro ou negativo. Ainda de acordo com Achor, empresas que investem na felicidade de seus colaboradores apresentam um aumento de 22% na lucratividade e uma redução de 10% na rotatividade. Portanto, a felicidade no trabalho não é apenas um benefício para os colaboradores, mas um investimento estratégico que impulsiona o sucesso da empresa.
A implementação de programas de autoconhecimento nas empresas pode ser feita de diversas formas, como:
Ao investir no autoconhecimento e na felicidade no trabalho, as empresas não apenas cumprem as exigências da NR-1 e da Lei 14.831, mas também criam um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e feliz. E, no final das contas, o sucesso de uma organização é o reflexo do bem-estar de seus colaboradores.
Denis Zanini é jornalista, escritor, empresário, palestrante de educação reflexionária e apresentador do podcast Pensar a 2.
Valdeilton Bandeira é analista comportamental DISC, terapeuta holístico e hipnoterapeuta clínico com especialização em ansiedade.
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