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Opinião: o Brasil vai liderar a neoindústria de baixo carbono

A indústria química brasileira promove cada vez mais sustentabilidade

Indústria química caminha para sustentabilidade (Kadek Bonit Permadi/Getty Images)

Indústria química caminha para sustentabilidade (Kadek Bonit Permadi/Getty Images)

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Publicado em 12 de maio de 2025 às 07h00.

Por André Passos Cordeiro e Daniela Manique*

O Brasil possui atualmente uma das maiores oportunidades de ser o líder global na industrialização de baixo carbono. A seu favor, há dois grandes fatores. Em primeiro lugar, temos a matriz energética mais limpa do mundo, o que favorece uma indústria essencialmente sustentável. Em complemento, possuímos uma agroindústria extremamente diversa e eficiente, que pode fornecer a base para produção de insumos renováveis e biomassa. Na esteira do desenvolvimento econômico sustentável, a iniciativa privada trabalha sob esforços jamais vistos em prol do impulsionamento de negócios e soluções de baixa pegada de carbono e, nesse sentido, o apoio do poder público, a partir de uma política setorial de fomento, é fundamental para essa nova realidade.

Iniciativas sustentáveis da indústria química brasileira

A indústria química brasileira promove a sustentabilidade com o Programa Atuação Responsável desde 1992, e tem investido em iniciativas visando minimizar os impactos ambientais e sociais. Não faltam bons exemplos. A Rhodia, empresa do grupo Solvay, tem em sua fábrica de Paulínia (SP) o maior projeto de abatimento de gases de efeito estufa da América do Sul - o projeto Angela, devidamente registrado sob o Protocolo de Kioto, transforma o óxido nitroso (gás de efeito estufa) em gases inertes ao meio ambiente. Em paralelo, a companhia está trabalhando para a transição energética das suas caldeiras e dialogando com seus principais fornecedores de matérias-primas para que também se comprometam e reduzam as suas emissões.

A transformação da matriz de matérias-primas

A transformação da atual matriz de matérias-primas básicas da indústria química, hoje predominantemente baseada em petróleo e hidrocarbonetos, para uma matriz com maior presença de bioinsumos e biomassa, implica em uma mudança prioritária no que tange à origem dos insumos utilizados nos processos de produção.

Projetos e propostas no setor químico

O setor químico tem apresentado propostas tangíveis aos mais diferentes atores da esfera pública. Atualmente, celebra o Projeto de Lei que institui o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), já protocolado na Câmara dos Deputados. Essa matéria irá elevar o nível de produção sustentável do país e alavancar o segmento por meio de incentivos fiscais, a partir da adoção e fomento de processos de baixo carbono no ecossistema produtivo. Além de atrair mais investimentos para a economia sustentável, o Presiq estimulará a indústria a operar em plena carga, ocupando 95% da capacidade produtiva atual.

O impacto da COP 30 e o Presiq

O Presiq surge no ano em que o Brasil sedia a COP 30 e, em nosso entendimento, essas duas agendas estão substancialmente interligadas, ao incentivar a descarbonização do setor industrial, a adoção de tecnologias sustentáveis e a economia de baixo carbono, ajudando substancialmente o país a cumprir as suas metas assumidas no acordo de Paris.

Fontes renováveis e biocombustíveis

Previsto no projeto, o aumento da participação do gás natural na matriz de matérias-primas e energia pode ser uma alternativa competitiva tanto em termos econômicos quanto ambientais. Outra ideia seria o incremento na participação de fontes renováveis como a biomassa proveniente de resíduos como bagaço de cana e palha de milho, a lignina extraída da madeira e, ainda, os óleos vegetais e as gorduras residuais. Outra transformação importante é a produção de biocombustíveis que substituem derivados do petróleo como fonte de energia ou insumo químico.

Desafios da indústria química brasileira

Mesmo com uma agenda tão propositiva, a indústria química brasileira passa por uma crise sem precedentes, justificada predominantemente pela falta de competitividade de suas matérias-primas básicas, o elevado custo da energia e as distorções provocadas pela situação geopolítica global. Este quadro tem levado as empresas a operarem com uma capacidade ociosa de cerca de 40%, quando o ideal seria rodar acima de 80%. É preciso que o governo invista na formação de um ecossistema de inovação promovendo as sinergias e complementaridades entre empresas, universidades, ICTs e startups, bem como entre a química e outros setores, em especial a agroindústria, para que a transição rumo a uma química mais competitiva e sustentável se materialize e ajude a promover a neoindustrialização do país.

*André Passos Cordeiro é presidente-executivo da Abiquim; e Daniela Manique é presidente do Conselho Diretor da Abiquim e do Grupo Solvay-Rhodia.

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