Na vida pessoal, permanecemos em uma busca insana pela juventude, ignorando ou negando o passar do tempo (milorad kravic/Getty Images)
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Publicado em 28 de novembro de 2025 às 10h00.
Por Mohamed Parrini*
Na vida cotidiana e nas próprias corporações, pouco falamos sobre o tempo. Enquanto buscamos por mais produtividade, agilidade e eficiência, raros são os momentos que pensamos sobre o tempo, nosso maior ativo.
Metodologias de eficiência foram criadas ao longo dos anos, como o Lean, Six Sigma, Modelo Toyota, Método Pomodoro, Qualidade Total (TQM - Total Quality Management), entre tantas outras, na busca por mais resultado e menos desperdício.
Tentamos ganhar tempo, mas a verdade é que muitas vezes não sabemos para quê.
Falta propósito e entendimento das pessoas sobre o porquê as coisas devem ser feitas.
Na vida pessoal, permanecemos em uma busca insana pela juventude, ignorando ou negando o passar do tempo.
Talvez seja o medo da proximidade da morte ou da própria reflexão sobre os arrependimentos que todos temos em relação às escolhas feitas ao longo da vida.
Afinal, a cada escolha realizada por nós, renunciamos a infinitas outras possibilidades.
E isso assusta.Talvez seja essa característica filosófica da nossa existência que tanto atrapalhe a reflexão sobre a vida e também nossas decisões e relacionamentos.
As inquietações humanas nos oferecem pistas para o entendimento das próprias empresas, principalmente hoje, quando as relações de trabalho já não são as mesmas do passado.
Organizações confundem velocidade com estratégia e acabam gerando fuga de talentos, baixa retenção de pessoas e lideranças reativas, com decisões impulsivas.
O tempo, tratado como variável descartável, precisa ser resgatado como elemento fundador da sabedoria institucional.
Há ampla literatura acadêmica e corporativa sobre a importância do timing na criação de novos negócios e na implementação de mudanças estratégicas.
Pesquisas clássicas demonstram que o êxito de uma decisão raramente depende apenas da estratégia, mas sobretudo do momento de sua execução.
O tempo pode potencializar ou anular uma ideia brilhante: antecipar-se demais é desperdiçar energia antes da hora, chegar tarde é perder a oportunidade.
Netflix, Tesla, OpenAI, Apple, Nvidia e Nubank ilustram como o sucesso surge quando se reconhece o instante em que tecnologias, regulações e comportamentos sociais convergem.
A lição é inequívoca — timing é estratégia, e compreender o tempo certo de agir é, talvez, o mais escasso e valioso atributo da liderança.
Difícil também imaginar que as decisões das lideranças executivas possam ser separadas de suas próprias inquietações como seres humanos.
Líderes que têm a coragem de avançar no momento certo — e também aqueles que resistem ao “efeito manada” — são cada vez mais raros.
Raros também são aqueles que compreendem seu papel na sociedade e no desenvolvimento das comunidades em que atuam, sob uma perspectiva de longo prazo, mesmo que seu mérito não seja percebido.
Num mundo barulhento, líderes que escutam tornam-se raros e valiosos.
A liderança reflexiva é aquela que conecta o papel de executivo ao de ser humano, fomentando a inteligência coletiva e a valorização do tempo não apenas sob a ótica da produtividade, mas também da reflexão existencial e de pertencimento.
Afinal, a maior tragédia de uma vida não é a morte ou o envelhecimento, mas o desperdício do tempo com o que não importa de verdade.
*Mohamed Parrini é CEO do Hospital Moinhos de Vento.