A Organização Mundial da Saúde (OMS) traçou uma estratégia para ser atingida até 2030 que visa a erradicação do câncer de colo do útero (Anchiy/Getty Images)
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Publicado em 11 de julho de 2025 às 10h00.
Por José Gustavo de Almeida*
O câncer de colo do útero (CCU) continua sendo um desafio significativo para a saúde, particularmente em regiões com altas taxas de incidência, como a América Latina. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que atualmente em torno de 19 mulheres morrem diariamente no Brasil em decorrência do câncer de colo do útero, e para 2025, são esperados 17 mil novos casos. O fardo do tratamento do câncer de colo do útero é substancial, tanto em termos de sofrimento humano quanto de custos econômicos. Em contraste, a relação custo-benefício da prevenção contra o papilomavírus humano (HPV) apresenta um argumento convincente para priorizar medidas preventivas em vez do tratamento.
Um estudo recente conduzido no Brasil estimou os custos anuais do tratamento do câncer de colo do útero de uma perspectiva social, revelando que o custo médio por paciente foi de aproximadamente U$ 2.219,73. Este valor abrange os custos médicos diretos, que respondem por 81,2% das despesas totais, impulsionados principalmente pela radioterapia e quimioterapia ambulatorial. O impacto orçamentário nacional para o tratamento de CCU no Brasil foi estimado em cerca de 25,95 milhões de dólares anualmente. Tais números destacam o fardo econômico significativo que esse tipo de câncer impõe aos sistemas de saúde.
Os altos custos associados ao tratamento do CCU não são meramente financeiros; eles também refletem o desgaste emocional e físico dos pacientes e suas famílias. O processo de tratamento pode ser longo e árduo, muitas vezes exigindo múltiplas intervenções de saúde e serviços de suporte. Essa realidade ressalta a necessidade urgente de estratégias de saúde voltadas para a prevenção do câncer cervical, em vez de focar somente no tratamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) traçou uma estratégia para ser atingida até 2030 que visa a erradicação do câncer de colo do útero, baseada em três pilares: assegurar que 90% das meninas sejam vacinadas contra o HPV até os 15 anos, uma vez que cerca de 99% dos casos estão relacionados ao vírus. Realizar testes de alto desempenho em 70% das mulheres aos 35 e aos 45 anos, promovendo o diagnóstico precoce da doença. Por fim, a OMS defende que 90% das mulheres diagnosticadas recebam tratamento adequado, evitando a evolução das lesões pré-cancerígenas.
Em relação à prevenção, foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), em 2024, o exame de testagem molecular para a detecção do HPV. A introdução desse teste trouxe avanços ao protocolo de rastreio, já que permite um diagnóstico mais rápido e preciso, além de um espaçamento maior no intervalo de realização do exame. O rastreamento tradicional, feito pelo exame de Papanicolau, deve ser realizado a cada três anos, ou anualmente em caso de detecção de alguma lesão. Com a nova testagem molecular, o intervalo de exame passa para cada cinco anos, facilitando a adesão e o acesso.
Em contraste com os altos custos do tratamento do câncer cervical, uma revisão sistemática que avaliou a relação custo-efetividade da vacinação contra o HPV na América Latina apresenta um quadro mais otimista. A revisão sintetiza descobertas de 24 estudos, a maioria dos quais concluiu que a vacinação contra o HPV foi custo-efetiva ou econômica.
As descobertas da revisão sistemática enfatizam o papel crítico da vacinação contra o HPV na redução da incidência de câncer do colo do útero e dos custos de saúde associados. Ao investir em programas de vacinação, as partes interessadas podem otimizar as estratégias de prevenção do câncer de colo do útero e trabalhar para atingir as metas de vacinação da Organização Mundial da Saúde. As evidências indicam claramente que o custo da vacinação é uma fração das despesas incorridas no tratamento do CCU, tornando-o um investimento financeiramente sólido em saúde.
O fardo do tratamento do câncer cervical é inegavelmente alto, particularmente em regiões como a América Latina, onde os recursos de saúde são limitados. As implicações econômicas do tratamento de CCU ressaltam a necessidade de medidas proativas para prevenir a doença. Nesse contexto, a relação custo-benefício da vacinação contra o HPV surge como um argumento poderoso para priorizar estratégias de saúde preventiva. O objetivo deve ser mudar o foco do tratamento para a prevenção, garantindo que menos mulheres sofram com os efeitos devastadores do câncer de colo do útero no futuro.
*José Gustavo de Almeida, diretor de Acesso e Comercial da MSD Brasil.
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